domingo, 19 de julho de 2020

A impossibilidade de possuir uma religião privada


"Um homem pode tanto possuir uma religião privada quanto possuir um sol ou uma lua privados."
(G. K. Chesterton, em "Introdução ao Livro de Jó") 

          Ter uma religião privada é como andar parado ou se molhar a seco. Não faz sentido, é contraditória à definição que temos de "religião", ao menos na concepção cristã.
          A palavra "religião" vem de "religare", que nos latim significa ligar de novo, no caso, o homem com Deus.
          Ora, na relação com Deus não pode haver dimensão de particularidade, pois Deus é infinito por definição e, portanto, abrange todas as coisas.
          Isto implica que nossa relação com Deus impacta necessariamente nossas atitudes para com a totalidade da realidade, desde pessoas passando por plantas e animais, leis e organizações, até chegar a Ele mesmo, o Senhor do Universo.
          Portanto, ter uma religião privada seria o mesmo que amputar a própria religião, adotar atitudes diferentes sobre as mesmas questões dentro e fora de casa ou, pior ainda, tratar sua fé como algo específico de si mesmo mas inválido aos outros.
          Por isto, a analogia com o sol e a lua nesta afirmação de Chesterton. Não podemos considerar como pessoal algo que é necessariamente universal, não só nos seus princípios, como na dimensão ontológica daquilo que a religião se ocupa: Deus.
          A concepção de privatização da religião vem na esteira do processo de secularização, que tem no Estado laico (tomado aqui no sentido ideal) sua expressão mais evidente. E este mesmo Estado, em nome das liberdades de consciência e religião, trata de retirar da vida pública a mesma expressão religiosa que afirma defender.
          Na era moderna, somos constantemente lembrados, pela educação castradora, pela arte subjetiva e sem sentido, pela arquitetura anti-espiritual e pelo "pensamento livre" que cada um deve guardar seu sol em casa e nos templos enquanto do lado de fora reina a escuridão.
          Hoje é assim. Ao menos por enquanto.

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