sexta-feira, 10 de julho de 2020

A conquista da liberdade pela vida religiosa


          Quando pensarmos que somos obrigados a ficar em casa por força das autoridades públicas, que alegam tal medida com base em questões científicas sob o coro homogêneo de todos os grandes veículos de comunicação, lembremos que já estamos presos há várias décadas. A diferença é que a tirania da "ciência", do Estado e da autoridade se tornou mais explícita.

          Faço referência ao mundo administrado no qual vivemos.

          Até duas ou três gerações atrás, parte significativa das pessoas vivia no campo ao sabor das estações e dos ciclos naturais. O cotidiano era regrado principalmente por estes elementos; a vida religiosa era mais abundante e ambiente de confraternização dentro da comunidade as famílias não só mais unidas como maiores.

          Obviamente, não é prudente romantizar este passado recente. Violência familiar, assaltos, pobreza, doenças hoje banais que antes não possuíam tratamento, vulnerabilidade quanto aos humores da natureza, isto tudo pesava e causava sofrimento. Não por acaso, a expectativa de vida, que no Brasil do início do século XX mal chegava aos quarenta anos, hoje chega aos setenta e quatro.

          Ocorre que mais tempo de vida não significa mais qualidade, menos ainda mais felicidade. Tomo qualidade como realização pessoal e paz; felicidade como consequência destes dois atributos.

          Pois hoje, nascidos principalmente nas cidades e submetidos a todo o tipo de enquadramento comportamental, somos enviados obrigatoriamente às escolas, sob risco de termos os pais presos pela polícia, para ficarmos horas e horas ao longo de mais de uma década colocando na cabeça informações enquadradas em ciências dadas como espelhos da realidade e que em grande parte não servirão para nada; perdemos a noção do agradável som da natureza ao substituirmos a vida ao ar livre pela prisão de apartamentos e infindáveis salas de aula, reuniões e trabalhos; ficamos sob a tirania das horas numa contagem matemática do tempo, e sob a tirania do calendário ao ponto de imaginarmos estar fora da realidade quando simplesmente entramos em férias do trabalho.

          A vida religiosa, ela mesma veículo de uma vida espiritual (pois "religioso" e "espiritual" são coisas diferentes), antes regradora da ordem e semeadora de princípios, perdeu espaço para um mundo no qual não podemos dialogar, mas nos submeter. Podemos ser perdoados por Deus pelos nossos pecados, mas o relógio é implacável, bem como a sanção da lei por simples erros involuntários.

          É esta vida religiosa que alarga nossa liberdade e não apenas alivia como contém a pressão do mundo administrado, pois planta no cotidiano das pessoas a consciência de que acima do mundo há um Deus que acompanha nossos passos, aproxima as pessoas pelo senso de irmandade diminuindo a necessidade de uma autoridade que regule a vida pública, e abre um elo de confiança em Deus (a fé), cuja intervenção comanda as regras do jogo, podendo flexibilizá-las, tanto no regramento quanto nas sanções dos erros, de acordo com nossas necessidades e pedidos que elevamos aos Céus.

          Se nos sentimos presos nas coisas do mundo talvez seja porque falte a descoberta da imensidão incomensurável que é a alma humana, cuja exploração nos mostra que estamos vinculados a um Deus infinito dentro do Qual temos a liberdade absoluta. Esta liberdade não é a de fazer qualquer coisa, mas de ter atitudes livres conforme as circunstâncias, as mesmas que podem ser alteradas pela Providência.

          Não faço apelo para que abandonemos nossas vidas, mas sim que nos ajoelhemos e rezemos para descobrir este jugo que é suave e este fardo que é leve. Onde viceja uma vida interior abundante viceja igualmente a liberdade que acreditamos encontrar apenas no mundo.

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