segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Janelas para o Céu

 "O segredo de todas as janelas, especialmente das janelas góticas, é o de que até a luz é mais divina dentro de limites; e o de que até aquele que brilha é mais brilhante quando toma sobre si uma forma." (G. K. Chesterton, em "A Nova Jerusalém", 1920)

          Há uma tensão permanente entre a grandeza de Deus e a pequenez do homem que está justamente na desproporção entre ambos: o homem não pode abarcar a Deus, que sempre escapa à sua compreensão e mesmo visão do que Ele possa ser.

          Esta imensidão transparece nas majestosas catedrais góticas, monumentos à grandeza, ordem e beleza divinas.

          Sua escuridão interior, um covite ao recolhimento da alma que se volta ao alto ao contemplar o elevado teto da nave, é rompido pela luz que entra pelas janelas e vitrais.

          Eis que Deus toma forma e se apresenta ao homem em seu interior. Feixes de luz rasgam a escuridão, tão característica de um mundo desconhecido aos olhos humanos, e iluminam a alma que contempla o Alto.

          É muito mais conveniente ao homem ver Deus em formas do que na imensidão abstrata da luz; da mesma forma, é conveniente ver o amor de Deus em pequenos sinais da providência do que descobrir Seu amor no sentido genérico da palavra ou em "sentimentos" que muitas vezes não sabemos distinguir em nossa alma confusa.

          O que Chesterton nos traz nesta passagem é justamente isto: a luz, associada diretamente a Deus desde o princípio da Criação, é mais divina dentro de limites.

          Ele é mais divino quando adquire forma pois só Sua onipotência seria capaz de transformar o infinito em algo visualmente limitado. A limitação de Deus em formas é prova de sua veracidade enquanto Deus.

          Afinal, não foi um Ser infinito que se tornou homem? Como pode o homem, limitado por excelência, ser infinito? Deus pode, e o fato desta Pessoa ser assim é prova de que Ele é Deus.

          Manifestar-se no mundo limitado é mais característico do pode divino do que Sua capacidade de formar galáxias e um Universo inteiro.

          Não fosse Deus tomar forma, e Seu brilho seria menos visível; não fosse a janela a dar forma à luz, e ela seria menos perceptível.

          Da mesma forma, não fosse alguém com habilidade como Chesterton a dar ordem às palavras desta passagem, e talvez não percebêssemos o quão bom é um Deus que se limita para se fazer ver e alcançar o coração humano.

          Divino é tudo o que é belo dentro dos limites do mundo.

domingo, 30 de agosto de 2020

Multidões solitárias

"O mal principal de nosso tempo é que a coletividade social tem fomentado a solidão espiritual. Nunca as pessoas estiveram tão acompanhadas e nunca as estiveram tão solitárias." (G. K. Chesterton) 

          A sociedade de massas é a sociedade do anonimato, da multidão sem rosto que fecha-se em si mesma para facilitar seus fins práticos.

          Esta passagem de Chesterton lembra os estudos do filósofo e sociólogo alemão Georg Simmel, que afirmava que o homem das cidades, local das massas por excelência, possuía uma atitude blasé, de relativa indiferença com relação ao próximo.

          Eliminada a vida comunitária, onde todos conhecem a todos pelo nome, pelos traços e pelos modos, somos obrigados, pelo próprio mecanismo da vida em sociedade, a ignorar estes mesmos nomes, traços e modos a fim de manter em funcionamento esta grande máquina sem rosto que é o mundo moderno.

          Porque nas cidades encontramos muita gente todos os dias, e é impossível tratar intimamente todos as pessoas; mas ao mesmo tempo temos de manter a civilidade para com o próximo a fim de tornar a vida suportável.

          Vivemos como se o outro fosse alguém de valor, por assim dizer, mediano a ser tratado para fins meramente utilitários.

          O próximo transforma-se em mais um em meio à multidão.

          E ninguém pode se sentir bem acompanhado por quem não tem rosto. Estar na companhia de um anônimo é mais ou menos como passear com uma estátua. Ou um poste.

          Chesterton traz esta afirmação com a experiência de quem viveu na Londres do início do século XX, então uma das maiores cidades do mundo.

          Ele viu, ele viveu numa sociedade massificada e viu a solidão rondar seu universo. E mais, viveu esta solidão.

          Numa era onde tudo se tornou coletivo, onde a ênfase no indivíduo desembocou na apologia aos objetivos meramente práticos e abriu as portas à engenharia social em larga escala, temos a falsa impressão de que podemos suprir nossa solidão com desejos pessoais e slogans midiáticos repetidos por todos ao mesmo tempo.

          Estamos só porque nos rendemos à massa. Olhar a humanidade no próximo é o primeiro passo para apagar a angústia e a tristeza de uma vida solitária.

sábado, 29 de agosto de 2020

A perenidade da Igreja e as modas que passam

 "A Igreja sempre se coloca contra a moda passageira do mundo; e ela tem experiência suficiente para saber quão rapidamente as modas passam." (G. K. Chesterton, em "Por que sou católico")

          Esta afirmativa de Chesterton pode ser perfeitamente compreendida à luz da Revelação, que é a Palavra de Deus que nunca passa e que é, portanto, válida a todas às épocas.

          Mas nosso escritor está chamando a atenção não para a imutabilidade da Revelação, e sim o efeito da experiência da Igreja ao longo da História.

          É justamente a Revelação que dá à Igreja a firmeza inerente à sua condição de Igreja, que é ser construída sobre a rocha.

          Esta rocha permite à Igreja viver as épocas sem se deixar levar por elas, e como seu fundamento é absoluto, tudo o mais se torna relativo frente à ela.

          Assim, a Igreja sabe, pela Revelação, mas também pela experiência histórica, que tudo passa, em especial as modas que acompanham os desejos, estes cada vez mais loucos e fugazes na medida em que nosso tempo avança.

          O desafio da Igreja está não na resistência às modas, que ela já se mostrou capaz de enfrentar, mas sim manter viva a fé nos próprios fiéis, fazendo de cada pessoa um membro do corpo vivo e divino que foi fundado por Cristo.

          Há aqueles que desconfiam e mesmo maldizem, por exemplo, o Concílio Vaticano II, algumas aculturações ritualísticas e mesmo o Santo Padre; há outros que acreditam ser a Igreja um mero poder do mundo, um organismo de transformação social onde Jesus foi o primeiro revolucionário.

          Isto pode ser apenas nossa opinião sobre algo que não conhecemos o suficiente, e mesmo que as coisas pareçam desesperadoras, sempre haverá um número suficiente de pessoas inspiradas pelo Espírito Santo a manter a Igreja de pé mesmo com fortes ventos contrários.

          Estes conflitos refletem, no fundo, a fé que se abala.

          São Paulo VI nos alertava que a fumaça de Satanás havia entrado na Igreja; seu perfume veio camuflado pela desejada moda de cada época refletidas em ideias e comportamentos. Mas é o incenso, a presença de Deus que purifica os ares e traz a fé necessária para atravessar todos os tempos até a eternidade.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Como a literatura de ficção pode ser uma janela para o futuro

"Toda pessoa saudável, durante um período, deve se alimentar tanto da ficção quanto do fato; porque o fato é uma coisa que o mundo lhe dá, enquanto que a ficção é a coisa que ele dá ao mundo." (G. K. Chesterton)

          Há quem diga que o homem vive de sonhos, que não poderia viver se não sonhasse.

          O sonho é uma forma de apontar uma possibilidade futura desejável, mas enquadra-se na gama de todas as demais possibilidades imagináveis.

          Podemos sonhar, mas também temer as coisas futuras através de especulações. Isto é o que chamamos de preocupação: pré-ocupar-se, ocupar-se de algo que ainda não aconteceu ocupando a alma com pensamentos e sentimentos que estão na mera possibilidade.

          Nesta passagem, Chesterton mostra a capacidade de criação e, portanto, de decisão do homem.

          A literatura de ficção é um leque potencialmente infinito de possibilidades futuras, o exercício imaginativo do homem de antever o que ele poderia realizar se tomasse determinadas atitudes.

          Por isto ela é tão importante. A ficção mostra o que podemos ser e, portanto, aponta os meios possíveis de mudar nossa pessoa através de ações que já foram pensadas, mas ainda não realizadas.

          Quem não antevê, no plano do imaginário, os aspectos simbólicos e concretos do raio de possibilidades de ação, não pode fazer o que poderia fazer. Dito de forma mais, simples: não podemos fazer o que não conhecemos; e a ficção permite conhecer, por antecedência, um futuro possível.

          Se contra fatos não há argumentos, porque é por eles que o mundo chega até nós e somos passíveis àquilo que já passou, a favor da ficção os argumentos são infinitos, porque podemos concretizar infinitos acontecimentos possíveis.

          Chesterton sabia do potencial imaginativo do homem, e seu legado, que abrange desde ficção à apologética, filosofia e análise dos fatos, é um universo que não está apenas em palavras, mas pode tornar-se real.

          Ajamos para que assim seja.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Majestade do sol, majestade de Deus

          Esta imagem de um sol que parece bem maior do que realmente é diz muito sobre sua majestade. 

          Majestade porque é grandioso em seus efeitos. Ao surgir, o sol tudo ilumina delineando todas as coisas ao mesmo tempo em que se mantém oculto à observação direta.

          É a inteligência divina que tudo organiza, governa e capacita o homem a entender a realidade ao mesmo tempo em que não se deixa ser vista e compreendida.

          Porque esta é a inteligência de Deus: absoluta, que tudo sabe e tudo vê, mas que permanece oculta. 

          E a razão é simples: ao homem não cabe, como a pretensão de Adão e Eva, de saber tudo e, portanto, de determinar como as coisas, a realidade, o Bem e o Mal deveriam ser. Ao contrário, ao homem é dado um flash, uma inteligência que é derivada da Inteligência Primeira e por natureza é limitada.

          A inteligência humana depende de suas limitações para que se possa contrastar ser com ser, coisa com coisa. Eu sei que eu sou eu porque sei que não sou outro. Pensamos por contraste, e esta limitação permite a nós a diferenciação de seres e coisas, de termos consciência de nossa própria condição e de todas as coisas.

          Sei que sou homem porque não sou mulher, sei que estou vivo poque não estou morto, sei que é dia porque não é noite, e assim por diante. 

          Visualmente, este contraste é dado pela luz. É o sol que permite a tudo contrastar materialmente; é Deus que permite tudo contrastar intelectualmente.

          Só Deus não precisa pensar por contraste, raciocinar e assim compreender as coisas. Ele já sabe em absoluto. 

          Para o homem, entender a Deus é impossível, pois, assim como olhar direto ao sol cega nossos olhos e queima nossa retina, querer entendê-Lo cega nossa compreensão acerca Dele e queima nossa alma no fogo eterno. Eis o preço da soberba.

          A inteligência humana está para o real como o firmamento está para a escuridão da noite: retirada a inteligência divina, vemos que o homem sabe poucas coisas, possui pequenas luzes de conhecimento frente à imensidão do desconhecimento do cosmos e do mistério da existência.

          A majestade do sol também se manifesta em seu poder de dar vida, pois seu calor alimenta os seres e dinamiza os elementos da Terra. Vento, chuva, calor, o frio por contraste, clarão e escuridão, todos obedecem à força proveniente do sol.

          Esta é outra razão pela qual o sol ele é identificado com o Senhor, que tudo sabe e também tudo pode, diferentemente do homem, que depende Dele assim como depende do sol para continuar a viver. A onipotência do sol sobre a vida na Terra é a onipotência divina.

          O sol que mantém os elementos da Terra em constante transformação é o mesmo que permite, pelo calor sobre as águas, fazer chover indistintamente sobre bons e maus, exatamente como faz Nosso Senhor.

          E é este mesmo Senhor que dá a oportunidade para que bons e maus tenham a oportunidade de contemplar Sua beleza através da luz que Dele provém e, livremente, decidir pela salvação.

domingo, 23 de agosto de 2020

Os frutos da boa literatura

 

(Estátua de Dante Alighieri em Nápoles.)

"A boa literatura pode nos revelar a inteligência de um homem; mas a má literatura nos mostra a inteligência de muitos homens."(G. K. Chesterton)

          A inteligência é um elemento presente individualmente em cada pessoa. Ela não é coletiva; pode ser desenvolvida com auxílio de outras pessoas, mas entender as coisas depende da cognição, a capacidade de apreender a realidade.

          Bons escritores expressam a realidade filtrada por seu olhar. Ainda que apresentem um ponto de vista (afinal, as palavras humanas não podem apreender a totalidade dos acontecimentos), elas expressam algo real que pode ser reconhecido por qualquer pessoa em qualquer lugar.

          Cícero, Dante, Dostoiévski, Mann e Chesterton quando lidos ao redor do mundo são compreendidos, apesar das variações de traduções, de forma mais ou menos semelhantes porque falam de uma realidade profunda comum a todos.

          Os clássicos são obras de gênios ou pessoas inspiradas que aguçaram a inteligência, este traço essencialmente individual.

          Mas quando a literatura é ruim, para não dizer má, ela expressa não apenas a inteligência de seu autor, mas de muitos outros, que vêem na má obra não o mundo como é, mas como gostariam de ver.

          Desde as obras produzidas para inundar as livrarias com estorinhas do momento e as editoras de dinheiro, até aquelas que pervertem o pensamento, a má literatura congrega todos os que se sentem seguros em participar da mesma massa evitando confrontar o mundo real e, portanto, as próprias vidas.

          É como a multidão que acorre às praias porque todo mundo acorre às praias. Muitos não sabem porque estão lá, mas vão porque outros vão fazendo com que todos, ao mesmo tempo, façam a mesma coisa e vejam com estranheza quem não comunga do mesmo desejo.

          Mas praias à parte, Chesterton revela nesta passagem que a inteligência é um atributo pessoal e que, portanto, chama à responsabilidade.

          É fácil empreender para agradar às multidões, independente dos efeitos deletérios que uma literatura para fins comerciais ou ativista possa ter; difícil é arcar com a responsabilidade de que cada página, linha ou palavra escrita terá no coração do próximo.

          O fruto da boa literatura é o surgimento de boas ações e boas pessoas.

O sério e o banal na era da confusão

"É uma ironia que ilustra o estado irracional do nosso tempo a de que sempre que falo a sério me tomem a brincar e de que sempre que falo a brincar me tomem a sério." (G. K. Chesterton)

          Esta afirmação de Chesterton pode parecer mero jogo de palavras ou brincadeira, mas não é. Uma sociedade que confunde a seriedade com a banalidade perdeu a referência do real e o senso das proporções.

          Imaginemos que alguém afirme, em tom crítico e de revolta, que temos de "cair de pau" em cima de outrem por suas atitudes, e que isto é tomado como apologia à violência física. Peço para imaginarem porque, sim, isto aconteceu. E foi no Brasil

          Ou que alguém lhe diga que estão desenvolvendo chips para implante sob a pele que lhe permita comprar, vender, entrar em estabelecimentos, carregar documentos e se localizar. Dirão que é teoria da conspiração ou exagero. Mas não é, vide que isto já é utilizado em alguns países para monitorarem animais de estimação.

          Pior é quando a brincadeira é tomada não como assunto sério, mas enquadrada como crime de racismo ou homofobia.

          A não distinção entre afirmações sérias e brincadeiras é resultado da perda do senso do real trazida pela deformação do imaginário, e para isto é necessário que a linguagem seja destruída e reduzida a slogans de grupos histéricos.

          Afinal, não chamam uma autoridade pública de "genocida" por suposta negligência em suas ações? Ou será que estão matando, de forma sistemática e sob pretextos "científicos", milhões de pessoas no Brasil como na Alemanha, Rússia, China ou Ruanda?

          Quando se perde a distinção entre o sério e o banal, pode-se perfeitamente transformar o banal em coisa séria.

          Temos de ter cuidado com o que dizemos por aí. Na era do relativismo, impõe-se a moral do grupo política e social mais astuto, mais esperto e mais tirânico.

          Se estivesse vivo, Chesterton seria levado muito a sério em tudo o que diz, mas não por sua inteligência e bom humor, e sim como pessoa imoral e até mesmo criminosa.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

A liberdade de consciência sob nova ameaça

        
(Soljenítsin, Chesterton e Voegelin)

"Nunca existiu um tempo em toda a história da espécie humana em que se torne mais necessário defender a independência intelectual do que está época em que vivemos." (G. K. Chesterton, em "Culture and the Coming Peril", 1927)

          Chesterton escreveu este alerta em 1927 no seu livro "Culture and the Coming Peril" buscando acordar as consciências do risco de supressão destas mesmas consciências.

          A esta altura, os comunistas já governavam a Rússia há dez anos, e Stálin estava prestes a lançar sua primeira grande campanha de coletivização de terras com a perseguição em massa dos "inimigos do povo" e a destruição física da Igreja Ortodoxa. 

          O clima de confusão e tensão na Alemanha, com a atuação do movimento comunista e a disputa entre nacionalistas e adeptos de uma modernização ocidental, preparava o terreno para a ascensão do nazismo, que em apenas seis anos viria a silenciar todo e qualquer opositor de seu regime. 

          Mas Chesterton já percebia, pela literatura de sua época e os efeitos sociais da modernização, que, para usar sua terminologia, o Homem Incomum se colocava acima do Homem Comum, que a liberdade de consciência estava ameaçada mesmo na sua querida Inglaterra.

          Não apenas os regimes totalitários, mas o controle do sistema político-econômico por elites alheias às necessidades da grande maioria das pessoas e opostas aos seus valores anunciava o futuro que se preparava para todo o mundo.

          Os intelectuais e cientistas viraram burocratas e administradores da vida cultural comprometidos com a mentalidade de gueto do meio acadêmico. Transformaram-se em porta-vozes, nos meios de comunicação, da "autoridade científica" devidamente selecionada pelos jornalistas, e contra os quais erguem-se as vozes dos ignorantes e retrógrados, isto é, do Homem Comum.

          E o velho totalitarismo, antes adepto do controle direto dos meios de produção e da supressão biológica de seus oponentes, agora se cobre do manto da "diversidade" e da defesa da "democracia" sob um mesmo nome que genericamente podemos chamar de progressismo. 

          Se Chesterton vivesse hoje, mais de noventa anos depois, veria que a necessidade de defender a independência intelectual é ainda mais urgente e difícil do que em sua época. Porque intelectuais e cientistas servem ao velho totalitarismo sob novas vestes, agora sob patrocínio de grandes fortunas.

          Não é mais a querida Inglaterra de nosso escritor que está sob ameaça de perder o que ainda resta de liberdade intelectual, nem a Rússia de Soljenítsin ou a Alemanha de Voegelin. É o mundo inteiro.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

São João Paulo II: como um santo contribuiu para a queda do bloco comunista (1978-1983)

(São João Paulo II em sua primeira visita à Polônia, em 1979.)

          São João Paulo II foi uma das grandes personalidades do século XX. Ergueu-se como referência moral a favor das populações reprimidas e perseguidas pela tirania comunista e incentivou que católicos do mundo inteiro se empenhassem na propagação do Evangelho não apenas com palavras, mas com exemplos.

          Este incentivo e empenho, corporificado em sua pessoa, foi decisiva para a queda do bloco comunista entre 1989 e 1991, cujo sistema ateu o Papa considerava um "implacável inimigo do espírito humano" e "causa de sofrimento e insegurança para indivíduos e nações" inteiras.

          O início de seu pontificado, desde a eleição em 16 de outubro de 1978 até a primeira metade dos anos 1980, foi decisivo para desmantelar, por dentro, o mundo comunista.

          Desde o pontificado de outro santo, João XXII (1958 - 1963), o "Papa bom", o Vaticano lançou mão da Ostpolitik, um novo capítulo de relações políticas e diplomáticas com a Europa Oriental e a União Soviética. Este capítulo ganhou novo impulso a partir de julho de 1975, quando o então cardeal, diplomata e futuro Secretário de Estado Angelo Casaroli (1979 - 1990) endossou a Ata Final do Acordo de Helsinque, que versava sobre a segurança e as liberdades na Europa, com apoio dos soviéticos

          Esta política, continuada com São Paulo VI e o próprio João Paulo II, era vista com desconfiança por parte dos católicos e do clero, pois implicava em concessões políticas ao comunistas, inimigos declarados (muitas vezes de forma discreta) da Igreja Católica. As divergências podem ser vistas, por exemplo, nas discussões em torno do tema entre os membros do Instituto Keston, de Oxford, voltado às análises das questões políticas, sociais e religiosas do Leste Europeu e da Rússia, que viam com reservas e desconfiança as "boas" relações da Igreja com o mundo comunista e a tensão entre as dimensões política e moral da diplomacia da Santa Sé.

          Enérgico, inteligente, carismático e popular, João Paulo II começou a corroer o poder comunista na primeira viagem à sua terra natal, a Polônia, entre 2 e 10 de junho de 1979. Um peregrino do Espírito Santo, como definiu o Instituto Keston na época com um título pouco comum para um artigo acadêmico.

          Foi uma viagem de negociações complicadas com o governo do general Wojciech Jaruzelski, que forçou seu adiamento em um mês, o contrário do que desejava o Papa. 

          Transmitindo sua visita ao vivo pela televisão estatal, Varsóvia esperava que as pessoas assistissem passivamente a visita do primeiro Papa eslavo à sua terra natal. Não permitiu dia de folga aos trabalhadores, restringiu a entrada de jornalistas ocidentais e religiosos cobrando-lhes preços abusivos para os encontros e ditou o itinerário de João Paulo pelas cidades do país. 

          Resultado: duas milhões de pessoas nas ruas de Varsóvia em sua primeira missa campal, seis milhões de telespectadores; um evento que o governo esperava ser nacional teve repercussões mundiais. Os jornalistas não viram uma multidão histérica e desesperada, mas em profunda sintonia com o Papa, que pedia às pessoas se deixarem guiar pelo Espírito Santo, "se manterem fortes" e firmes na fé, defender os valores cristãos, além de lançar um apelo pela unidade espiritual da Europa, num chamado de união com os ortodoxos, mensagem que se estendia para além das fronteiras da Polônia. O empenho por esta união com o Leste marcaria todo o seu pontificado.

          Só então a imprensa soviética passou a dar grande relevância a João Paulo II, antes observado de perto pelo serviço secreto polonês com muita desconfiança, que gravava e analisava seus sermões. O mesmo serviço revelou a vitalidade espiritual do novo Papa, afirmando que ele rezava seis horas por dia e prostrava-se ao chão em forma de cruz durante as orações numa capela privada.

          Segundo os Arquivos Mitrokhin, no ano em que o então bispo de Cracóvia foi eleito Papa, 25% dos poloneses rezavam privadamente; este número subiu para 50% cinco anos depois, índice que Varsóvia atribuiu à "crise político-social" da época, que envolvia a ascensão do movimento Solidariedade em 1980, os protestos de rua, as disputas e negociações com a Igreja polonesa em torno dos símbolos religiosos em repartições públicas e o golpe militar de dezembro de 1981. 

          O entusiasmo por um Papa polonês penetrou até mesmo nos círculos comunistas. Para consternação da KGB, a eleição de Karol Wojtyla não foi recebida com animação apenas pela população local, mas até mesmo por parte do serviço secreto polonês!

          Enquanto o Vaticano mantinha a Ostpolitik capitaneada por Casaroli, Secretário de Estado do novo pontífice, João Paulo II realizava sua diplomacia papal arrastando multidões em suas viagens e realizando fortes sermões em defesa da dignidade humana, da liberdade religiosa e da fé católica, além de atuar no contato direto com autoridades políticas. Por um lado, o Estado do Vaticano continuava o diálogo com o bloco comunista; mas por outro, o pontífice buscava fortalecer a unidade da Igreja e exortava clérigos e fiéis a resistirem à opressão do bloco, contrastando com seus antecessores, João XXIII e Paulo VI, que preferiam evitar confrontos com Moscou.

          Assim, desde o início do pontificado até a primeira metade dos anos 1980, a política vaticana combinava uma diplomacia oficial com uma ação incisiva do Papa, que afetava diretamente o bloco soviético corroendo-o de desde dentro, ao exemplo dos eventos descritos a seguir. 

          Na Hungria, depois de duas negociações em Budapeste com o governo em dezembro de 1978 e março de 1979, o arcebispo Luigi Poggi, núncio papal neste país, consagrou quatro novos bispos sendo congratulado pela Santa Sé. Na Bulgária, o Papa apontou dois novos arcebispos para a minoria católica local após negociações pessoais de João Paulo II com autoridades búlgaras. Foi uma surpresa para os fiéis, dadas as restrições às liberdades religiosas no país e o fato de que um dos clérigos, Samuel Dzhundrin, havia sido ordenado bispo clandestinamente em 1959 e esteve doze anos preso. 

          Na então Tchecoslováquia, em março de 1982, o Papa consagrou três novos bispos de forma clandestina e proibiu clérigos do país de participarem da vida política, ou seja, de se afastarem de organismos religiosos controlados pelo governo; na Alemanha Oriental, admoestou a Igreja local a se manter firme contra a militarização da vida pública.

          Na Lituânia, então território soviético, o Papa ordenou dois bispos clandestinos, um cardeal que fora exilado por vinte anos (o primeiro cardeal soviético), defendeu o direito de propriedade da Igreja e deu apoio direto às iniciativas cívicas dos católicos, como a criação de um comitê de defesa de direitos dos fiéis. Os lituanos possuíam uma grande Igreja clandestina com um seminário, ordens de freiras e jornais, e em declaração de maio de 1981 juraram total lealdade ao Papa. 

          Com relação à Ucrânia, na primavera de 1980, João Paulo II convocou o primeiro sínodo no exílio da Igreja Greco-Católica Ucraniana, liquidada por Stálin em 1946 e então totalmente clandestina, ato que recebeu dura crítica do governo soviético e de Pimen, Patriarca de Moscou, um peão do Kremlin. De acordo com os Arquivos Mitrokhin, Pimen era considerado agente de primeira categoria da KGB sob o codinome Kuznetsov. Um segundo sínodo fora convocado em fevereiro de 1983.

          O cardeal ucraniano e líder greco-católico exilado em Roma, Josyf Slipyj, havia pedido, em novembro de 1978, que o Papa revisasse o diálogo com a Igreja Ortodoxa Russa, baseado, segundo ele, em "falsos fundamentos", e que fosse criado um Patriarcado Ucraniano católico. Apesar da resposta negativa, João Paulo II reconheceu os sofrimentos do cardeal e o chamou para o espírito ecumênico, que viria a ser uma das principais marcas de seu pontificado.

          O apoio aos greco-católicos fez aumentar o número de sacerdotes na Ucrânia, que chegavam a quinhentos, estimulou a criação de um comitê de defesa dos direitos da Igreja e injetou ânimo na comunidade religiosa clandestina.

          A Santa Sé também declarou apoio aos católicos da Letônia e Belarus, então territórios da União Soviética, acusados de atividades ilegais, como serviços e educação religiosos, defendendo a liberdade religiosa e seus direitos de propriedade. 

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          Não foi por acaso que os comunistas, através do serviço secreto da Bulgária e com, ao menos, complacência da KGB, tentaram matar João Paulo II em 13 de maio de 1981 num atentado a tiros na Praça de São Pedro. Moscou ficou alarmada com a viagem do Papa à Polônia em 79 e percebeu o impacto que sua personalidade provocava na multidão católica, e mesmo na cristã em geral, bem como os efeitos de suas atitudes públicas e oficiais na esfera política.

          É notória, também, a atribuição que este grande santo deu à Nossa Senhora de Fátima à sua sobrevivência. Como agradecimento, dirigiu-se à Fátima, em Portugal, em 13 de maio de 1982 e depositou a bala do atentado na coroa da imagem encaixando-a perfeitamente no orifício superior da estrutura.

          Neste mesmo espírito, João Paulo II convocou, em 8 de dezembro do mesmo ano, o encontro dos bispos do mundo todo para a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, em Roma, em 25 de março de 1984. Neste ato solene, realizou também uma consagração implícita da Rússia, tal qual mostra o texto da Santa Sé no Ato de Consagração a Nossa Senhora de Fátima, e assim teria cumprido um dos preceitos das mensagens de Fátima.

          Importante notar que na oração de consagração, São João Paulo II não menciona a Rússia, ainda que provavelmente fosse sua real intenção, fazendo referência indireta ao país como "os povos que (...) são particular objeto de Vosso amor e Vossa solicitude". A omissão da menção explícita seria resultado da pressão de políticos do Vaticano que, em consonância com a Secretaria de Estado dirigida por Casaroli, queriam evitar atritos com Moscou. 

          Quem cita os "políticos" é o falecido Gabriele Amorth, padre exorcista e organizador da cerimônia de 84, que em 2016 divulgou um vídeo onde afirma que a consagração da Rússia não fora realizada como Nossa Senhora especificou à irmã Lúcia na aparição de Tuy, Espanha, em 13 de junho de 1929.

          Válida ou não, a discussão em torno desta consagração é mais um capítulo, de valor espiritual central, na tensão que João Paulo II enfrentou entre uma Igreja que buscava diálogo ao mesmo tempo que tentava se libertar do jugo comunista, permitindo que seus fiéis e todos os demais não católicos pudessem gozar da liberdade pessoal e cívica necessárias para uma vida espiritual e de paz.

          Com a queda do bloco comunista entre 1989 e 1991, São João Paulo II pode ser visto como um homem que cumpriu em sua missão, ainda que jamais tenha pisado na Rússia (nem na China) como desejava. Em reunião com Gorbachev em 1989, acordou a restauração da Igreja Greco-Católica Ucraniana, e em 1991, meses antes de seu fim, a URSS promulgou oficialmente a liberdade religiosa.

          Hoje, a Igreja Católica continua sua caminhada buscando a união com os cristãos do leste, como mostram os recentes encontros de Francisco com os patriarcas ortodoxos Bartolomeu e Kirill, e espalhando a boa nova em tempos cada vez mais difíceis, ao exemplo da perseguição do extremismo islâmico e do fechamento de igrejas na crise do covid em 2020.

          Considerado santo súbito já em 2 de abril de 2005, data de sua morte, Karol Wojtyla foi canonizado pelo Papa Francisco em 27 de abril de 2014.

          São João Paulo II, rogai por nós!

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Moral e religião

"Uma pessoa que tem moral mas não tem religião é como uma pessoa apoiada só numa perna." (G. K. Chesterton, em "O Sobrenatural é Natural")

          Há quem diga que a pessoa pode ser boa e, portanto, ser moralmente correta sem ter religião alguma ou ser ateia, bem como há quem diga o contrário, que não é possível ser bom ser ter religião ou acreditar em Deus.

          O importante aqui é lembrar que o homem é um animal essencialmente religioso; é o único ser consciente em toda a Terra que questiona-se sobre o seu destino transcendente e age sob esta perspectiva.

          Isto também vale para o ateu, que age sob a perspectiva de que o homem finda com sua morte biológica. Isto também é um atitude religiosa, porém de fechamento para o mistério.

          Como mostra esta passagem, Chesterton inclina-se à posição de que a pessoa pode ter moral sem religião, talvez possa ser boa também, mas sua condição enquanto homem mostra-se amputada da plenitude do ser, negando a própria condição que lhe permite ser não religioso.

          Mas a situação se complica quando advoga-se uma moral sem religião. Perdida a referência do transcendente, o homem não religioso continua sendo uma animal religioso, continua a buscar, mesmo que negue ou não perceba, uma resposta para o mistério da vida.

          No lugar de Deus e do Absoluto ergue-se um novo deus, um novo parâmetro moldado segundo os arbítrios de desejos humanos, um bezerro de ouro que dita as novas condutas.

          Mesmo as derivações seculares do cristianismo caem neste perigo. A imanentização da igualdade perante Deus nos regimes democráticos é um exemplo. Hoje, vemos as democracias degenerarem no crescimento do poder político que visa inculcar no cidadão novas formas de conduta de raça, sexo, grupos social ou seja lá o que for em nome da "igualdade" e da "liberdade".

          Prescindido da religião, a moral ergue-se sobre pés de barro. "Se Deus não existe, tudo é permitido", disse Dostoiévski. Chesterton foi apenas mais sutil ao dizer que, abandonando a Deus, corremos o risco de nos desequilibrarmos e cairmos no caos niilista alertado e previsto por seu colega russo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

A singularidade da condição humana

"O homem é uma exceção, seja o que for. Se não é a imagem de Deus, então é a doença do pó. Se não é verdade que um ser divino caiu, então podemos apenas dizer que um dos animais enlouqueceu por completo." (G. K. Chesterton)

          Nesta majestosa passagem como tantas outras, Chesterton afirma a singularidade do homem enquanto ser.

          Sim, o homem é uma exceção, é único porque é a única criatura capaz de compreender a realidade e, portanto, transformá-la.

          Os animais vêem o mundo e raciocinam, mas não concebem as coisas como coisas. Nós, humanos, somos para eles "alegria" ou "ameaça", ou ainda "proteção", mas não humanos dotados de características específicas distintos das demais coisas. Os animais não têm consciência de que somos humanos; não têm consciência de que existe uma coisa chamada realidade.

          Diferentemente deles, o homem não vê a realidade como uma extensão de seus sentidos; a vê como algo distinto de si, e por isso mesmo possui consciência de quem é, do que é o mundo à sua volta e o que são todas as coisas.

          Chesterton demonstra a falta de alternativa da condição humana. Não fôssemos imagem e semelhança de Deus e seríamos mero aglomerado de células como os demais seres vivos (sem anularmos seus respectivos valores, claro).

          E se assim fôssemos, seria muito estranho que justamente este aglomerado específico de células tivesse tomado consciência do mundo e adquirido capacidade deliberada de transformá-lo.

          Ser humano significa ser único e saber quem se é. Do contrário, estaríamos loucos, animalizados e absortos em nosso corpo físico.

          Somos muito mais do que um corpo, muito mais do que um aglomerado de células, muito mais do que animais. Somos, primeiro e acima de tudo, filhos de Deus.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Um mistério perfeito

"A recusa de Deus em explicar Seu projeto é, em si, uma flamejante alusão ao Seu projeto. (...) Os enigmas de Deus são mais satisfatórios do que as soluções do homem." (G. K. Chesterton)

          Deus poderia muito bem explicar seu projeto ao homem.

          De certa forma, Ele já o explicou através da Revelação e da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas não é exatamente disto que trata nosso querido escritor inglês.

          Chesterton fala do mistério e da limitação da inteligência humana, determinada por Deus, de compreender a realidade e a Ele mesmo.

          Porque se tudo entendêssemos seríamos onipotentes e, portanto, conhecedores de todos os meios de manipulação da realidade. Seríamos perfeitos. Seríamos Deus.

          Nosso Senhor quis que ficássemos ignorantes a muitas coisas justamente porque Ele se revela no mistério.

          Do que adiantaria explicarmos tudo, sabermos tudo, entendermos tudo se, com isso, não teríamos razão para acreditar e amar?

          A fé diz respeito à confiança, e é muito mais conveniente que sejamos instigados e crer Nele se pouco sabemos Dele e do mundo; se pouco sabemos, inclusive, sobre nós mesmos e nossa vida pessoal, porque Ele sonda os rins e os corações, mas nós temos dificuldade de saber até mesmo o que queremos para o dia de amanhã.

          Assim, Chesterton conclui que são estes enigmas são mais satisfatórios do que as soluções humanas. Porque as soluções humanas são sempre imperfeitas e transitórias, e os enigmas de Deus são perfeito e eternos.

          Melhor termos confiança naquilo que pode nos dar a felicidade eterna do que satisfações passageiras. Não cabe ao homem saber o porque disso e o modo como isto se realiza. Cabe a ele confiar.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

O amor de Deus pelo homem real

"Cristo não amava a humanidade: Ele amava os homens. Nem Ele nem nenhum outro pode amar a humanidade, pois seria como amar uma gigantesca centopeia." (G. K. Chesterton)

          O amor diz respeito à coisa concreta, real, que é palpável ou que se manifesta na realidade.

          Não adianta amar a humanidade porque este amor simplesmente não existe.

          A humanidade não é algo que se possa pegar, abraçar e declarar seu amor, nem que possamos ter uma relação direta e real, pois trata-se de uma amálgama de pessoas, estas sim reais, mas que não podem agir em uníssono como num corpo indissolúvel dotado de uma consciência uniforme.

          A afirmação de Chesterton lembra muito diretamente outro grande autor, que faleceu quando nosso escritor inglês ainda era criança.

          Dostoiévski, em "Os Irmãos Karamázov", expressa a mesma ideia quando o personagem, o monge Zosima, narra a história de um homem com dificuldade de amar, que dizia: "quanto mais amo a humanidade em geral, menos amo os homens em particular".

          Pois amar os homens em particular exige sacrifício, reverência, entrega ao próximo; demanda cumprir o segundo mandamento, que é indissociável do primeiro.

          Jesus Cristo levou às últimas consequências este amor real e concreto com o sacrifício na cruz.

          Alguém, porém, pode dizer que Ele morreu pela "humanidade". Errado. Ele morreu por cada um de nós, os que já haviam ido, que estavam em Sua época e os que estavam no porvir, como eu, você e todos os demais que lerão ou não este texto.

          Jesus Cristo amava homens, pessoas reais, e não poderia sacrificar-se por uma massa amorfa e sem rosto, uma centopeia que caminha para lá e para cá consciência de onde seus múltiplos pés estão pisando.

          Quando pessoas como Chesterton falam do amor não ficam em devaneios sem sentido, mas apresentam-no na plenitude da palavra de quem passou pela experiência mais profunda de sua manifestação, da volta para casa e da vivência de um pouco do amor que se manifestou de forma real e concreta através da cruz.