sábado, 30 de maio de 2020

Temor a Deus. Um termo mal compreendido


"O temor de Deus, que é o princípio da sabedoria, e que por isso pertence aos princípios, e que se sente no frio das primeiras horas antes da alvorada da civilização; (...) o temor que está enraizado, com razão, nos princípios de toda a religião, verdadeira ou falsa: o temor do Senhor que é princípio, mas não fim de toda a sabedoria."
(G. K. Chesterton, em "Santo Tomás de Aquino")

          A infinitude divina é aterrorizante para o homem. A desproporção entre nós e nosso Criador é infinita, e esta deve ser a medida da reverência de devemos a Ele.
          Esta reverência é o temor, palavra mal compreendida mesmo pelos cristãos, dado que muitos tomam "temor" por "medo".
          De fato, Deus causa medo por Sua imensidão, mas este medo é transmutado pelo amor que Dele emana, porque o amor é bom e não há porque dele sentir medo. O medo transforma-se em temor, e este temor deve ser proporcional à desproporcionalidade entre nós e nosso Deus.
          Disto provém todas as atitudes de respeito, admiração, reconhecimento, louvor, amor, adoração a Ele. E a adoração é justamente reconhecer Nele a Causa Primeira de todas as coisas.
          Quem adora as coisas erradas está colocando nestas coisas o princípio de tudo, bem como a salvação de sua alma. É isto que a Bíblia chama de idolatria, dado que ídolos são para serem adorados.
          A menção que Chesterton faz ao temor na sua obra sobre São Tomás de Aquino apresenta esta realidade divina: que todo o respeito, glória e louvor deve-se unicamente a Ele, que existia desde antes das civilizações e que serve como fundamento das mesmas.
          Assim nasce a sabedoria: temer a Deus é reconhecer Sua infinitude, saber quem Ele é e, por referência, quem nós somos, tomando a real proporção de todas as coisa e acontecimentos.
          O sábio não decora regras, mas as aplica segundo as circunstâncias da realidade e dirige os corações para que descubram, vejam, contemplem e louvem a Causa Primeira de tudo o que há.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

A história que contamos para nós mesmos


          Cada dia que passa revela uma história contada que se fecha no passado como elemento definitivo e imutável. Tudo o que passa fica no passado, mas é sua incorporação em nossa personalidade como experiência vivida que a torna imortal. É neste sentido que dizemos que o passado não muda, porque o que passou passou, mas herdamos suas consequências para todo o sempre.

          Quem acompanha os anúncios do psiquiatra Italo Marsili a respeito da vida, percebe que todo o seu incentivo está na força da vontade. Diz ele que cada dia de nossa vida é uma narrativa, e que a única coisa que um ser humano faz é contar uma história; a sua história. Pura verdade.

          A questão é simples: eu, Marcos, sou o que sou segundo minhas decisões ao longo do meu tempo de vida. É no tempo que minha personalidade adquire uma figura, porque tudo o que faço ou deixo de fazer adquire uma forma na medida em que o tempo passa e se completa na morte. Portanto, na eternidade há o Marcos completo, quem eu realmente sou, nu, pleno e pronto para o Dia do Juízo.

          Por isso que o Dr. Italo, como é chamado, enfatiza tanto a força da vontade, que faz parte do dom espiritual da fortaleza: contar uma história é agir, tomar decisões, e ficarmos felizes (ou frustrados e deprimidos) ao olharmos a narrativa construída. 

          E pelo mesmo motivo ele também afirma que há um mal-estar muito comum nos dias de hoje, uma desorientação, um desespero aparentemente sem causa, mas que é consequência da decisão das pessoas de abdicarem de contar sua própria história, ou seja, de decidir em não agir de forma que a vida adquira um sentido. E o sentido está no servir ao outro, focar num objetivo fora de si, aquilo que Viktor Frankl chamou de autotranscendência. 

          O desafio de nossas vidas, ao contrário do que possa parecer quando olhamos histórias memoráveis de grandes personalidades que influenciaram os destinos da humanidade, não está na grandiosidade de um gênio, estadista ou mesmo santo. Está em levantar da cama todos os dias com um real propósito em nosso coração.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Os relativistas e o dogma irrefutável da morte


"A morte é um dogma, visto que não há dúvida a respeito dela. Nenhum modernista pode torná-la discutível, nenhum evolucionista pode fazê-la imprecisa, nenhum hegeliano pode transformá-la em vida." (G. K. Chesterton, citado em "O pensador completo" de Dale Ahlquist)

          A inevitabilidade da morte se impõe sobre todo e qualquer relativismo.
          A citação acima do escritor inglês G. K. Chesterton afirma que ela não pode ser evitada, relativizada ou transformada em vida. Ela é o que é, se impõe como um bloco monolítico imutável que cai e esmaga nossa cabeça.
          É uma destas "leis" do Universo ou da natureza que falam por si mesmas ao se manifestarem no decorrer da História.
          Afinal, ninguém pode negar coisas óbvias (como uma pessoa querer atravessar uma parede caminhando, por exemplo) sem arcar com as duras consequências de bater de frente com a estrutura mesma da realidade.
          O relativismo morre quando morre o relativista, pois suas afirmações cessam em definitivo mesmo que ele as enuncie por décadas.
          Da mesma forma, o relativismo morre quanto homem e mulher geram um filho, pois este filho veio de um homem e uma mulher e não de um gênero A com um gênero Y determinados por uma comissão de especialistas.
          O relativismo também morre quando uma doença acomete um corpo, pois não são questões subjetivas capazes de curar uma pessoa, mas a concretude da ação, que inclui (pasmem!) atitudes de fé, como mostra o crescente número de estudos que relacionam saúde com espiritualidade.
          O relativismo morre no próprio diálogo com o vizinho pois, como bem mostrou Ortega y Gasset, para que um diálogo exista é necessário reconhecer que existe uma série de regras e elementos prévios (idioma, sinais, signos, etc) através do qual ele ocorre e cuja existência não depende dos dois indivíduos em questão. Do contrário, o diálogo seria impossível e o conflito a única forma de interação.
          O relativismo morre pela própria boca ao declarar que a verdade não existe, o que anula o enunciado por si mesmo, tornando-o falso.
          Mas a morte não pode ser falsificada. Não só o acontecimento em si, mas a consumação de uma vida significa que uma pessoa adquiriu uma identidade definitiva no tempo, cuja forma se projeta na eternidade.
          Se o relativista tem de aceitar a morte como um dado do real, resta a ele admitir que foi alguém em definitivo antes de sumir do mundo e deixar para trás as correntes de pensamento às quais foi adepto, e de que no eterno não servirão para nada.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Porque o destino de nossa alma é tão importante


"Nada importa, exceto o destino da alma."
(G. K. Chesterton, em "Appreciations and Criticisms of the Works of Charles Dickens")

           Todos têm a certeza da morte, porque a experiência de vida e a própria condição humana apontam a todo o instante para o mesmo destino.
          Por isto, a única coisa realmente relevante nesta vida é a morte ou, dito de outra forma, o destino da alma a que se refere Chesterton na frase citada acima.
          Ela resume a totalidade de nossa história, decisões, ações, omissões, vida em família, trabalho, sentimentos, pensamentos... tudo cessa no momento da morte.
          Em outras palavras, tudo cessa perante o destino da alma, que adquire prevalecimento absoluto não apenas no sentido do eterno, mas também nesta vida de hoje.
          Porque o plano do eterno para o qual a alma se projeta abrange desde já o tempo atual. Por definição, o eterno é maior do que o tempo.
          Se estamos vivos, isto significa que já estamos no para-além, já estamos na vida eterna! Apenas não a percebemos sensivelmente e não sabemos o momento em que o salto qualitativo para o outro mundo se dará.
          Por isso o destino de nossa alma deve ser nosso imperativo máximo, pois tudo o que aqui temos ficará. Até mesmo o corpo. Viemos a sós, nus, e iremos novamente sós, menos do que nus.
          Temos de ter o devido e especial cuidado com nosso destino, dado que a alma nada mais é do que nosso eu, nossa pessoa, com sua história e decisões carregadas para o eterno.
          Seria insuportável passar a eternidade acompanhado de alguém que consideramos insuportável. Amar a nós mesmos (sim, este é parte do segundo mandamento, não podemos esquecer) é garantir, em alguma medida, que vamos nos aguentar para sempre.
          E Deus tem preferência àqueles que se amam verdadeiramente. Não poderemos amá-Lo se não nos amarmos verdadeiramente e sem medida.

domingo, 24 de maio de 2020

O erro na busca pela perfeição


"A perfeição, enquanto fim, pode ser atingível ou não. Pode ser ou não possível falar da perfeição como um meio para a imperfeição. Mas certamente já estamos para lá de um nível tolerável quando entramos para fala da perfeição como um meio para a imperfeição." 
(G. K. Chesterton, em "O Essencial de Chesterton")

          Não há erro algum em se buscar a perfeição desde que sob os auspícios da sabedoria.
          Ser perfeito consiste em ter posse plena de todo o ser; fazer com perfeição é trazer o ato à plenitude, a sua consecução exata conforme a natureza deste ato.
          Nada há de errado nisto se compreendida que a perfeição é guiada por uma luz de sabedoria, que ajusta as tensões entre o ideal almejado e as circunstâncias em que este ideal se realiza.

          Mas a verve de soberba e vaidade que habita o coração do homem pode levá-lo inverter a lógica da perfeição, a conceber a perfeição como algo a ser alcançado para fins que não condizem com o bem verdadeiro, mas com os desejos humanos.
          Talvez seja esta a censura em que Chesterton alerta na citação abaixo.
          Devo ser perfeito, mas para quê?
          O homem que busca o ideal de riqueza e bem-estar pode muito bem alcançá-la, mas vale a pena o esforço da perfectibilidade, da inteligência, da sabedoria para verter todo o coração humano a este objetivo?
          Não fosse o homem, em última instância, um ser espiritual, então objetivos meramente materiais e transitórios como aqueles do mundo teriam um fim em si, e o homem seria perfeito enquanto homem ao buscar conquistá-los.
          A busca pela perfeição humana mira para algo maior do que o próprio homem. "Sedes perfeito como vosso Pai é perfeito", diz o Evangelho.
          Portanto, todo o esforço voltado às coisas baixas e risíveis é perda de energia, deforma a condição humana e degrada sua dignidade.
          De nada adianta ser perfeito na busca pelas coisas erradas, pela miragem vazia que se dissolve na medida em que o sol se põe. Esta obsessão é uma ilusão que, ao exemplo do adversário do Pai, nos conduz ao erro eterno.

sábado, 23 de maio de 2020

Porque as coisas espirituais devem ficar em primeiro lugar


"Um ser humano realmente humano colocaria, sempre, as coisas espirituais em primeiro lugar."
(G. K. Chesterton, no artigo "O País de Pernas para o Ar" em "Tremendas Trivialidades")

          Todos nós sabemos que nascemos de pai e mãe. Mas o que havia antes? E o que haverá depois com o fim inexorável da vida?
          A vida humana é um mistério: não sabemos de onde viemos, nem para onde vamos.
          Porém, no fundo temos uma ânsia pelo eterno, a necessidade de preencher este mistério marcado no microcosmo de nossa alma, cuja satisfação só pode ser na plenitude do Absoluto.
          O ser humano é essencialmente religioso, espiritual. É da condição humana ter consciência e, portanto, ter de lidar necessariamente com este mistério.
          A vida espiritual é uma forma de buscar resposta, dirigir o drama da existência e aplacar a angústia que permeia, em maior ou menor grau, este teatro da vida.
          E se, após a morte, houver nada? Seremos apagados da existência na eternidade do vazio? Ou há algo para o qual fomos criados? E este algo é bom ou mau?
          Todas as pessoas que negam este problema estão inevitavelmente respondendo ao mistério, mas através de um fechamento espiritual e do fingimento de que o plano do espírito não existe.
          Ser um ser humano é, portanto, ter uma atitude perante o mistério, seja de fechamento temeroso ou de abertura confiante.
          Por isto, ao exemplo da frase acima, o escritor G. K. Chesterton afirma que um humano é essencialmente humano quando coloca as coisas espirituais em primeiro lugar.
          Porque nosso drama fundamental é espiritual e só pode ser respondido pela atitude do espírito. A fuga disto é medo, é covardia, é reduzir-se a um desesperado punhado de matéria orgânica a negar a própria humanidade.
          O drama da existência não é para covardes.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

A medida de todas as coisas


          A morte é o fechamento da vida na Terra, é a consumação de uma história que na eternidade, onde todos os tempos estão condensados simultaneamente numa imagem única, pode ser contemplada.
          Portanto, com a morte podemos ver quem nós somos e poderíamos ter sido.
          Sem este fechamento não é possível balizar nossa vida, porque a morte dá a nossa medida, que é refletida no plano do eterno, a medida de todas as coisas.
          Descobrimos quem somos com a contemplação da eternidade.
          Por isto só podemos ter uma compreensão do mundo, uma filosofia de vida, como aponta esta passagem de Chesterton escrita em outubro de 1924, a partir de uma referência que nunca muda, que é para sempre, para, a partir disto, construirmos o edifício de nossa vida. E é a morte que nos aponta onde está esta referência.
          Esta é uma das leituras do possíveis para a passagem do Evangelho, onde Jesus diz: "Aquele que crê em mim, mesmo que morra, viverá" (Jo 11:25).
          Porque quem concebe o eterno sabe como viver desde já e ainda viverá eternamente.
          O cético, perdido na incerteza ou no desprezo do para-além, não pode ter uma filosofia porque não tem esta baliza do eterno apresentada pela morte.
          Sua filosofia é o relativismo ou o desespero niilista, onde tudo passa e perece na escuridão do nada.
          Sem referência, ele vaga nos redemoinhos dos tempos perdendo-se na caminhada da vida e podendo, ainda, se perder para sempre.

Outono. O Espírito de preparação para uma vida nova



          O outono é a época de preparação para o recolhimento, o anúncio de uma vida interior que se prepara para voltar mais forte no alvorecer da primavera.

          Época melancólica e profunda, remete à firmeza e à introspecção e revela a beleza que está por detrás da exuberância e da extravagância do calor, época de expansão por excelência.

          Mostra também o fogo interior pelas cores fortes, a chama do Espírito que habita o homem e dá vida a todas as coisas.

          Assim, o outono não é a morte, mas a preparação para a vida. Do recolhimento dos mosteiros brota a seiva espiritual que sacia a Santa Igreja; da introspecção nos estudos cria-se as obras da alta cultura que forjam civilizações; da intimidade do casal nasce a vida nova que dá continuidade à humanidade.

          O Espírito vive no recolhimento. Apenas mais tarde, no momento providencial e oportuno, fiat!, se faz o mundo novo.

          O fogo não pode arder se não contrasta com o gelo. Do que seria da chama da vida se esta não brotasse do frio, e este não fosse preparado pelo próprio Espírito que tudo renova? Do que seria da vida se ela não brotasse da terra estéril, antes preparada para que pudesse ser sustentada?

          Porque é morrendo que se vive para a vida eterna; é morrendo para uma época que se renasce, puro e fortalecido, para uma época nova, uma vida nova.

          O outono é tão belo quanto o Espírito que nele habita.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

A necessidade da morte para sermos humanos


          Existe uma constante na totalidade dos seres vivos sobre a Terra: todos, sem exceção, nascem, crescem, envelhecem e morrem. Mais cedo ou mais tarde, todos morrem.
          Mas se a morte é inevitável, ela também é desagradável. Desagradável porque nos força a encará-la mesmo que a esqueçamos; desagradável porque é inevitável.
          Mesmo que não pensemos na morte, ela paira nas profundezas de nossa mente, marcada pela realidade que nos envolve ao vermos plantas, animais e pessoas morrerem e pela própria condição humana.
          No fundo, sabemos quem somos, e o que somos não dura para sempre neste mundo.
          Não fosse o desconforto da morte e estaríamos presos no eterno presente despreocupados com o vindouro; presos no aqui e agora, ao sabor das circunstâncias de cada momento.
          Seríamos moldados pelos tempos, pelas pulsões, pelos meros desejos fugazes que variam segundo os ponteiros do relógio e as estações.
          Perderíamos, em suma, a condição de homem, porque a natureza humana é imutável e válida para todas as épocas e lugares, recoberta apenas pelas culturas das comunidades e as experiências pessoais dos indivíduos.
          Não fosse a morte e perderíamos o contato com o que nos é mais essencial, o nosso coração, dimensão onde habitam conjuntamente nossa memória, vontade e inteligência.
          Não fosse a morte e deixaríamos de ver esta condição inevitável que, justamente por ser desagradável, nos fixa em algo permanente forçando-nos a não viver única e exclusivamente segundo os sinais dos tempos.
          O homem é homem porque morre. A eternidade não é, nem pode ser neste mundo. A eternidade neste mundo é para as bestas, no outro para os santos.

O mendigo e o soldado: a chance de sermos melhores


          Apesar das utopias que nos últimos séculos surgiram aos montes, e de algumas que tentaram implantar seu ideais à força ao custa de muito sacrifício e sangue humanos, as misérias e injustiças continuam vivas em nosso cotidiano.
          Neste artigo, Chesterton apresenta dois modelos de males vivos na sociedade: o mendigo e o soldado.
          O primeiro apresenta-se à luz da caridade; o segundo à luz da cavalaria. São duas virtudes tradicionais que o escritor inglês evoca nestas figuras, miseráveis ao seu modo.
          Porque o mendigo necessita da caridade para viver. Ele tem de ser tolerado apesar do incômodo que a sociedade burguesa concebe com sua presença.
          E o soldado necessita de acolhimento em meio à sua miséria pessoal, carregando em suas costas, ou os horrores das atrocidades da guerra, ou o preço de participar da guerra por ser um criminoso, ou os dois juntos.
          Ambos caminham lado a lado em suas desgraças, ambos carregam a honra de terem sobrevividos a estas mesmas desgraças, ambos evocam virtudes ao seu modo e ambos clamam pela prática de outras virtudes.
          Talvez por isto as utopias falhem em suas propostas. De que adiantaria o Paraíso na Terra se na perfeição as virtudes não são mais necessárias? Do que poderíamos nos orgulhar e que bem poderíamos praticar?
          O mendigo e o soldado são a chance de sermos bons e tornar a eles bons também. Porque o Paraíso espera a todos, e a virtude é uma escada nesta ascensão.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Não tenhais medo!


          O pequeno Karol Wojtyla nasceu em 18 de maio de 1920, em Wadowice, num período em que a Polônia recém se tornava independente depois de quase dois séculos de domínio do Império Russo e da Prússia e um ano e meio após o fim da Primeira Guerra Mundial.

          Aos dezoito anos de idade, viu seu país ser invadido por tropas nazistas e comunistas, mas sobreviveu à guerra. 

          Foi ordenado sacerdote em 1º de novembro de 1946, com a Polônia já sob governo comunista, que monitorava, interferia e buscava controlar as atividades da Igreja Católica, assediando religiosos e prendendo opositores. Ainda assim, foi ordenado bispo de Cracóvia em 28 de setembro de 1958. Ele começava a viver a essência da declaração que seria seu modo de conduta como católico:

          Não tenhais medo!

          Durante suas homilias, reforçava a consciências dos fiéis frente às imposições e repressões do Estado, mas nunca de forma a desafiar abertamente as autoridades públicas. e nunca foi pego em qualquer ilegalidade que pudesse lhe custar a liberdade.

          Não tenhais medo!

          Participou do Concílio Vaticano II, onde conseguiu fazer valer em seus documentos uma condenação do ateísmo em meio à pressão de religiosos católicos que vivam sob o domínio comunista na Europa Oriental, de cardeais católicos coniventes ou com medo, de observadores ortodoxos russos e do governo soviético, que tentaram a todo o custo impedir qualquer condenação pública ao comunismo.

          Não tenhais medo!

          Quando foi eleito Papa João Paulo II, em 16 de outubro de 1978, pronunciou seu bordão de fé para a multidão na Praça de São Pedro:

          Não tenhais medo!

          Em 1979, visitou sua terra natal, a Polônia, onde reuniu duas milhões de pessoas em Varsóvia, evento a KGB considerou como sendo o início do fim do bloco comunista.

          Não tenhais medo!

          Sofreu um atentado a tiros na Praça de São Pedro, em 13 de maio de 1981, e atribuiu à Nossa Senhora de Fátima sua sobrevivência. Mais tarde foi à prisão se encontrar com Ali Agca, seu assassino, dando-lhe o perdão pelo seu crime.
  
          Não tenhais medo!

          Em visita à Nicarágua, em fevereiro de 1983, condenou de forma aberta e dura o envolvimento da Igreja Católica com o regime socialista frente à uma multidão de apoiadores sandinistas.

          Não tenhais medo!

          Sem receios de críticas, condenou a Teologia da Libertação e impôs silêncio, para que não falassem em nome da Igreja, aos porta-vozes desta corrente, contendo, assim, a propagação de uma heresia que transformava o Evangelho em ideologia política.

          Não tenhais medos!

           Em junho 2001, visitou a Ucrânia em meio a um esquema de segurança com trinta mil policiais e aos protestos de parte do clero ortodoxo e de nacionalistas que consideravam a presença do Papa um ato de proselitismo e uma violação do território canônico da Igreja Ortodoxa Russa.

          Não tenhais medo! 

          Defendeu abertamente a vida desde a concepção, o celibato dos sacerdotes e a não ordenação das mulheres em referência à escolha de Jesus por doze Apóstolos homens numa época de crescente relativismo e ativismo político.

          Não tenhais medo!

           Coerente com seu ensinamento, enfrentou a chegada da morte de forma natural até o fim, junto com a multidão que rezava por ele na Praça de São Pedro.

          Não tenhais medo!

           Este é o recado de São João Paulo II, canonizado em 27 de abril de 2014 pelo Papa Francisco. Nesta época de medo, decretos e imposições que mantém as portas das igrejas fechadas para o público, ficam as palavras e o exemplo desta grande personalidade do último século, deste grande santo que desafiou a tudo e a todos em nome do Envangelho, da Pessoa de Jesus, que não se curvou às imposições de regimes totalitários, aos assassinos, às críticas e às ondas políticas e culturais que buscavam atacar, denegrir e esvaziar a Igreja Católica.

          Sua vida se apresenta como um pedido claro e direto aos sacerdotes, bispos e o Papa sobre o que devem fazer com as igrejas para que os sacramentos, o próprio Cristo vivo, cheguem aos fiéis.

          E não é coincidência que as igrejas foram reabertas na Itália exatamente no mesmo dia em que se comemora os cem anos de seu nascimento.

          Não estamos sós. Existem alguém que nos acompanha e intercede junto a Deus por todo o mundo. O recado dele é claro:

          NÃO TENHAIS MEDO!

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Família: fundamento da ordem e continuidade da tradição


          Esta afirmação de Chesterton soa óbvia, até mesmo irônica, como alguém fazendo chover no molhado em tom de zombaria.
          Por vezes, é necessário dizer o óbvio para que as pessoas atentem e tomem consciência da realidade profunda das coisas.
          Por detrás de uma fazenda familiar, diz nosso escritor, é necessário haver uma família. O mesmo pode ser dito de uma empresa familiar, por definição dirigida por uma família.
          A partir do momento que um negócio adota métodos de promoção de cargos por meio de uma seleção racional prévia, o poder de direção da empresa muda não só de escala como de plano: passa de uma ordem "natural" para uma ordem moderna, artificial.
          Talvez seja esta a consciência que Chesterton quer aqui nos infundir. Um mundo que espera preservar suas tradições tem de preservar os fundamentos de onde essas tradições brotam.
          Não podemos falar de educação para crianças pensando apenas na escola. É óbvio, mas frequentemente esquecido (deliberadamente) nos planejamentos governamentais, que a educação pertence primordialmente aos pais, não à escola, seja pública ou privada.
         A afirmação de que a educação começa em casa é tão tautológica quanto dizer que a empresa familiar se dirige com uma família.
          Num mundo onde tudo foi burocratizado e regulado por autoridades que se manifestam de forma impessoal, como "Estado", "lei", "governo", "prefeitura", "secretaria", etc, é sempre necessário recordar que alguém de carne e osso de posse de suas intenções e consciência está dirigindo o curso dos acontecimentos.
          A artérias por onde corre a vida são necessariamente humanas. Quanto mais artificiais são estas artérias, mais difícil tende a ser a vida e mais de nossa história tende a ser perder pelo caminho.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

A diversão que virou tédio e depressão


          Desde a Antiguidade até a modernidade, o chamado negócio, a atividade laboral por excelência voltada à subsistência, era voltada para ócio, período livre dedicado à formação pessoal, às artes, à cultura e ao estudo.
          Na era moderna, o negócio virou "trabalho" e o ócio "lazer", diversão. Mas diversão, ao contrário do que possa parecer, leva ao tédio por abdicar das coisas elevadas e evadir o homem de sua missão enquanto ser humano.
          Esta transformação de mentalidade é analisada neste excelente artigo de Victor Sales Pinheiro, doutor e professor de Filosofia da UFPA, onde ele mostra como a modernidade, com sua ética burguesa voltada a fins predominantemente utilitários e materiais, transformou o trabalho em atividade racional e fatigante e o lazer em mero entretenimento e diversão.
          O que era para ser um atividade voltada ao sustento transformou-se num fim em si. Hoje, o ideal profissional é o sucesso, é ir além, subir na vida para obter prestígio que de outra forma seria inimaginável. 
          O horizonte imaginário do homem moderno, do cidadão comum, restringe-se às coisas práticas pela própria pobreza de uma cultura materialista e uma educação voltada para fins técnicos que não vê realidade e sentido algum além das coisas puramente utilitárias. 
          Sua busca por uma felicidade plena, reflexo de uma alma que ânsia pelo eterno, bate no teto do sucesso prático e da abundância dinheiro.
          Como fim em si, o trabalho perde o sentido, pois ele é um meio de sustento e o seu fim está além, nas coisas mais elevadas, que é formar uma personalidade saudável e educar, pelo exemplo, os de sua família. O trabalho torna-se um fardo.
          E aqui entra o lazer, o entretenimento banal. O tempo livre, que antes seria voltado à convivência familiar, disciplina esportiva, contemplação das artes, estudo ou vida espiritual, serve agora para se divertir ou, pior, jogar tempo fora, compensando a fadiga do trabalho com o ócio em seu sentido pejorativo. 
          O prazer de atirar-se na cama transforma-se na maior elevação espiritual possível após horas seguidas de atividade sem sentido e, por isto mesmo, cansativas e insuportáveis.
          Há uma relação entre diversão e tédio. Mas Victor Sales afirma que não é a diversão que nos tira do tédio, mas é ela mesma se torna tédio, porque é vazia, não eleva, não preenche. O tempo apenas passa numa alma que se distrai embriagada. 
          A literatura, que antes preenchia a alma com possibilidades de vida feliz e realizada, é substituída pelas banalidades da televisão, a literatura clássica pelas imagens impressionantes de Hollywood, os laços familiares pela companhia fugaz de "amigos" e a vida espiritual pela distração e moda do momento.
          Se antes as atividades do ócio estavam relacionadas ao destino eterno do homem, agora elas se fecham em si mesma ao mesmo tempo em que se recusam a olhar o horror do vazio de uma alma sem rumo. 
          Centenas de horas jogadas fora com atitudes fúteis e fugazes só podem desembocar na depressão e no ressentimento. Uma alma doente pulsa seus espasmos no corpo, que adoece com a perda de tempo. Não por acaso a depressão recebeu a alcunha de "doença do século", e o corpo, por ora tão importante, se tornou dependente de suplementos e remédios.
          A necessidade de sustento é inescapável, e temos de negociar com o trabalho a possibilidade de transformá-lo em escola para si e exemplo para os outros. Santificar, para recordarmos São Josemaria Escrivá, o próprio trabalho, e abrir espaço, no tempo e na alma, para atividades que nos engrandeçam.
          A vida só se torna suportável quando atribuímos um sentido a ela. Nosso ócio não é para nos divertirmos com o que está disponível no mundo; é para elevar nossa pessoa ao sublime, abrir-se à descoberta do conhecimento e à contemplação da beleza, às experiências profundas da vida espiritual.
          É para honrar a Deus e a tudo o que Ele nos deu, a começar por nós mesmos. 

A loucura do avarento


          A avareza é uma perda do senso das proporções. Ao colocar a posse de seus bens acima de valores mais elementares, o avarento acaba por criar sofrimento a si e aos outros ao criar um conflito entre as necessidades reais e seus desejos pessoais.
          Ao colocar seus bens acima de tudo ele está pervertendo a realidade, desconectando-se dela.
          Porque as prioridades (por exemplo, a saúde de um doente ou a união de uma família) revelam uma hierarquia de valores que está expressa na própria ordem das coisas.
          Por isto o avarento é um louco. Ele não se importa com o que é real; importa-se, isto sim, com seu apego, seu desejo de posse e sua auto-imagem projetada vaidosamente em seus bens.
          Chesterton acerta em cheio na loucura do avarento ao dizer que ele prefere seu dinheiro à realidade.
          Porque o louco é aquele que está desconectado do real, que vive numa vida interior isolada do exterior; ele não enxerga o que acontece ao seu entorno e perde o senso das proporções que a ordem lhe apresenta.
          O avarento, ao fechar-se em seu desejo, apego e vaidade, cria um escudo em torno de seu coração que o isola do real.
          Isolado do mundo, ele acomoda-se em sua casa interior, um hospício adornado por suas riquezas, medindo o mundo por sua loucura e julgando-o por sua feiura.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

A sociedade dos pedantes


          Quem são os poetas senão aqueles capazes de lerem a realidade, inapreensível por fórmulas científicas e pedantismo acadêmico, que pode ser transmitida através da forma marcada pelo pulso do escritor?
          Quem são os pedantes senão todos aqueles que, por ostentarem um diploma, lerem um punhado de livros ou terem acesso a um canal de televisão, se consideram capazes de julgar o mundo inteiro e toda a sua história pregressa?
          Nada mais artificial, falso e pedante do que o homem "do seu tempo" que olha para o mundo e acredita estar liberto das amarras da religião, da moral, da hipocrisia e da elite (a qual ele próprio faz parte!) e julga as coisas segundo a métrica de sua estatura intelectual, capaz de alcançar as alturas de uma poça d'água, se tanto.
          A era moderna, alargando a liberdade de consciência ao ponto de nivelar o certo com o errado, acabou por rebaixar a sabedoria e a Verdade a um mero jogo de opiniões.
          Como resultado, o mundo ficou cheio de pedantes que se sentem no direito de falar mesmo que nenhum mérito tenham ao falar o que dizem.
          Basta ligar a TV para ver que todo mundo, sem exceção, tem algo a dizer sobre planos de governo, política externa, saúde, meio ambiente, religião e toda a sorte de temáticas que chegam ao nosso conhecimento por meio de narrativas incansavelmente repetidas e jargões pré-fabricados em laboratório.
          A estes, todo o louvor e glória, toda a riqueza e atenção.
          Por outro lado, os gênios, sábios e santos trabalham no longo prazo e legam ao mundo uma rica e duradoura herança capazes de nos aproximarem do Céu.
          A estes, se se colocarem diante dos olhos do público, o desprezo; se vierem confrontar a opinião "mainstream" fabricada nas redações de jornais e TV, o escárnio e a supressão; se apresentarem planos para o real bem da humanidade e a glória de Deus, a dependência da pouca caridade.
          Os pedantes têm tudo porque o mundo moderno é o mundo da planificação, do rebaixamento, do nivelamento. Suas palavras facilmente se encaixam na moda vigente da época.
          Os poetas não têm nada a não ser a Verdade, porque sua compreensão da realidade não cabe na simplificação grosseira do mundo. Pairam acima, longe dos olhos da massa ignara, no caminho entre o Céu e a Terra.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

O fechamento de Fátima na era da apostasia


          A surpreendente paralisação de grande parte do mundo em meio à epidemia do coronavírus se torna mais impressionante quando vemos que aqueles que jamais deveriam abdicar de sua missão em aliviar o sofrimento das pessoas acabam por se submeter às ordens do mundo.

          Os próprios bispos e sacerdotes têm fechado igrejas para o público sob a justificativa de evitar aglomerações e a maior disseminação da epidemia. Evitam, assim, sua missão espiritual.

          Ocorre que jamais na História igrejas fecharam voluntariamente; que seu fechamento se deu por perseguição ostensiva de diversos grupos como jacobinos, comunistas, nazistas, laicistas republicanos e muçulmanos. Tudo regado a muito sangue.

          Desta vez, o fechamento se dá com "democratas" sob os auspícios do Estado liberal e o consentimento assustador da hierarquia católica. Tudo muito calmo, tranquilo, sem sangue algum, enganadoramente pacífico.

          Desde as aparições de Nossa Senhora, em 1917, esta é a primeira vez na história que o Santuário de Fátima é fechado para o público. 

          Apesar de Portugal estar em quarentena desde março, foi decisão do reitor do Santurário, Padre Cabecinhas, e do bispo de Leiria-Fátima, Antônio Marto, a decisão de fechar o local para o público. Ademais, 3.500 policiais foram colocados no local e nos pontos de peregrinação, onde se manifestaram Nossa Senhora e os anjos aos três pastorinhos, para impedir que houvesse entrada e aglomeração de pessoas, em particular nos dias 12 e 13 de maio. Não basta não abrir o Santuário, é necessário que haja também a polícia!

          Estas medidas provocaram, com razão, a reação de muitos católicos na internet, ao exemplo de uma crítica do historiador católico Roberto de Mattei.

          O fechamento do Santuário é um símbolo muito representativo de nossa época e, entendo, um sinal claro das profecias de Nossa Senhora. 

          Há mais de 150 anos Nossa Senhora vem alertando da apostasia geral no mundo, a começar pela própria hierarquia da Igreja Católica. Foi assim em La Salette (1846), Rosa Mística  (1947 e 1966) e Garabandal (1961-1965).

          Nossa Senhora foi muito clara na sua intenção ao se manifestar aos pastorinhos de Fátima. Na verdade, Ela veio na intenção de Nosso Senhor: "Jesus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração", disse Ela na aparição de 13 de junho. 

           E mesmo que o homem não cumpra com seus pedidos, depois de muito sofrimento, Ela prometeu, na aparição de 13 de julho, que "No fim, Meu Imaculado Coração triunfará".

          Ela pediu a comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados, que consiste, suscintamente, na oração do Santo Rosário mais confissão e comunhão (missa) com o objetivo de reparar o Imaculado Coração ultrajado pelos pecados do homem.

          Ela pediu a consagração da Rússia, cujo ato evitaria o espalhamento de seus erros, causaria sua conversão e a consequente paz no mundo. 

          Ela prometeu esta paz ao mundo se esta devoção e esta consagração fossem ambas realizadas.

          Os pecados do homem são a causa dos conflitos da humanidade, bem como da condenação das almas ao inferno. Também são consequência do afastamento do homem de Deus, de um mundo onde a Santa Igreja se vê abandonada, em crise e, finalmente, perseguida, como mostrou a visão do "terceiro segredo" aos pastorinhos, onde um bispo vestido de branco atravessava uma cidade destruída e, aos pés de uma cruz, era assassinado por soldados junto com bispos, padres, religiosos, religiosas e todo o tipo de gente comum.

          Fátima olha para a humanidade e alerta para que acordemos da apostasia que levará o mundo a um conflito e um caos ainda maior do que os já presenciados e culminará na perseguição aberta à Igreja. 

          O Santo Rosário e a reparação ao Imaculado Coração são o centro de Fátima, a "fórmula" para evitar o caos que se avizinha. 

          Quando os próprios bispos de curvam às exigências do mundo, é porque a fé não foi forte o suficiente para manter os braços da Igreja abertos para receber e testemunhar, em meio à ameaça da doença e do medo, a ação de Deus no mundo, na vida, na história, no dia-a-dia como atestam tantos relatos de cura daqueles que se recomendaram à Fátima desde o início das aparições. 

          O espírito se apaga e os próprios homens de Deus se curvam ao Reino de César. A mentalidade do mundo penetrou na Igreja.

          É absolutamente necessário, é urgente que realizemos a devoção ao Imaculado Coração como Nossa Senhora mostrou à Irmã Lúcia na aparição de dezembro de 1925, cumprindo sua promessa de 1917. Santo Rosário, confissão e comunhão. Em reparação a Ela, Mãe de Deus, minha Mãe, sua Mãe. Em agrado a Nosso Senhor Jesus Cristo.

          A reparação a Ela é a libertação espiritual que levará luz à consciência de uma humanidade desorientada na escuridão e que trilhou o caminho dos grandes erros, para salvar quantos puderem ser salvos e trazer paz ao mundo.

          O Santo Rosário deve ser rezado mais do que nunca e a devoção ao Imaculado Coração propagada pelos quatro cantos da Terra.

          Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós!

terça-feira, 12 de maio de 2020

Nossa Senhora profanada na Rússia


          Neste 9 de maio, a Igreja Ortodoxa Russa inaugurou a majestosa e imponente Catedral Principal das Forças Armadas Russas, ou Catedral da Ressurreição de Cristo, no Parque Patriota, perto de Moscou. A igreja possui 97 metros de altura e foi dedicada ao 75º aniversário da vitória na Grande Guerra Patriótica, como é chamada na Rússia a Segunda Guerra Mundial.

          Dentro da igreja há vários mosaicos. Dois, porém, chamam a atenção.  

          O primeiro, acima à esquerda, mostra Nossa Senhora vestida com as cores da bandeira nacional. À esquerda da imagem há um cartaz onde se lê "A Crimeia é nossa", numa referência à anexação da Crimeia pela Rússia em 2014; em destaque ao centro, Vladimir Putin e o ministro da defesa Sergey Shoygu; nas bordas, o exército russo. A Mãe de Deus está abençoando a nação em seus feitos recentes.

        Neste início de maio, o comitê responsável pelas artes, arquitetura e restauração da Igreja Ortodoxa Russa afirmou que vai remover o mosaico. O pedido de remoção seria do próprio Putin.

          Mas o segundo mosaico é o mais problemático. Nele, Nossa Senhora abençoa o Exército Vermelho na vitória na Segunda Guerra. Os generais aparecem colocam à frente do Kremlin e da Catedral de São Basílio, símbolos máximos da Rússia, em meio à queima de fogos. À direita, há uma imagem de Stálin, líder do país no conflito. Nossa Senhora veste as cores do país comunista. 

          Este mosaico causou controvérsia e críticas de parte do clero da Igreja Russa devido à referência a Stálin. Apesar da discordância e do desconforto, decidiu-se manter a imagem. Há de se deduzir que há influência do Kremlin na questão, historicamente um patrocinador do reavivamento religioso na Rússia atual. 

          Como toda a imagem, o mosaico carrega uma representação, transmite uma mensagem, uma realidade. Este simbolismo é ainda mais profundo e impactante quando se trata dos sentimentos religioso e nacional, abundantes no mosaico. Ali estão cristianismo e comunismo soviético.  

          A associação da história soviética com Nossa Senhora é uma ofensa, uma blasfêmia que deve ser reparada com orações até que se tome a atitude de se reparar fisicamente esta profanação. Desnecessário dizer os crimes cometidos pelo regime que matou 30 milhões de pessoas do próprio povo.

          Outro elemento que chama a atenção é a data da inauguração da catedral, quatro dias antes do dia de Nossa Senhora de Fátima. 

          É de conhecimento dos católicos a mensagem de 13 de julho de 1917 onde Nossa Senhora afirmou que viria pedir a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. A devoção dos sábados é a devoção ao Imaculado Coração, que foi detalhada à irmã Lúcia na aparição que recebeu em 10 de dezembro de 1925, em Pontevedra, na Espanha.

          Em maio de 1930, Jesus Cristo informou à irmã Lúcia, então na clausura em Tuy, na Espanha, que o número de sábados eram em reparação a cinco ofensas e blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria. E uma destas era justamente os ultrajes dirigidos às imagens Dela, tal qual vemos na nova catedral.

          Importante lembrar sempre que devemos sempre rezar pelos mortos, independente quem sejam eles, porque não sabemos seu destino, determinado apenas por Jesus Cristo. Não sabemos, portanto, quem são, as causas e as motivações dos 27 milhões de cidadãos e soldados soviéticos que foram colocados à força para morrer na linha de frente da guerra.

          Há diferença entre pedir a intercessão materna pelas almas e associá-la à "glória" de um regime tirânico, promotor de conflitos e inimigo aberto da Igreja. O primeiro é um dever cristão, o segundo uma blasfêmia que pode e deve ser reparada com a devoção ao Imaculado Coração de Maria. 


domingo, 10 de maio de 2020

A caridade num mundo utilitário


          Esta afirmação de Chesterton deve ser vista como um toque de consciência à desproporção com que ricos e pobres são tratados quando se trata da caridade. Mais especificamente da "caridade moderna", se é que podemos chamar assim, em contraposição a uma "caridade tradicional".
          Ora, a caridade é a doação desinteressada a alguém: nosso tempo, nossa atenção, nosso trabalho, nosso dinheiro e nossos bens são doados sem esperar algo em troca.
          Ocorre que na modernidade a caridade virou ativismo, e o ativismo possui sempre um caráter político. A caridade perdeu seu sentido e transformou-se num ato de transformação social não com vistas à pessoa, mas à promoção do movimento e da ideologia que a sustenta, regado com fortunas de governos e grandes empresas.
          Se o ato de caridade não for politicamente conveniente, ele perde o sentido.
          O mesmo pode ser dito sobre as relações pessoais. Será que somos mais generosos com aquele que garante o retorno de um empréstimo do que a pessoa que necessita do recurso para ontem sem possibilidade de pagar? Confiamos mais no comerciante abastado ou no miserável necessitado de ajuda imediata?
          Desta forma, tendemos a ser mais tolerantes com os que nos dão margem de retorno pessoal do que os que sabemos que não darão retorno algum; daquele com quem negociamos um empréstimo do que daquele ao qual doamos pura e simplesmente.
          Estas situações não mostram o qual más são as pessoas hoje, e sim a mentalidade vigente, onde a lógica prática e puramente material, típica da cosmovisão moderna, se sobrepôs às relações puramente humanas substituindo-as por cálculos de custos e benefícios.
          Não se trata aqui de condenar estas práticas, e sim de buscar iluminar as consciências; de sermos bons em meio à lógica utilitarista, de sermos bons num mundo mau.

sábado, 9 de maio de 2020

Ainda há tempo


          Muita coisa pode ser dita acerca das possibilidades futuras. Na crise da atual epidemia, uns acreditam que sairemos melhores dela, outros que estamos caminhando para um mundo de sofrimento e opressão.

          É mais fácil especular sobre como será o mundo nas suas linhas gerais do que como serão as pessoas no comportamento. As ações humanas são imprevisíveis e podemos prever apenas as tendências futuras.

          Mas foi-me dito, ainda no século XIX, que o mundo enfrentaria graves problemas no futuro. Que os sacerdotes trairiam seus ofício e começariam a perder a fé. Que a apostasia começaria desde cima.

          Também foi dito que seriam publicados livros maus, que surgiriam cultos ao inimigo e que as pessoas só quereriam saber de diversão e se comportariam como bestas.

          Foi-me dito, com esperança e preocupação, que a atual guerra iria acabar, mas que se os homens não se emendassem viria outra ainda pior. Que da Rússia surgiriam erros que se propagariam por todo o mundo todo.

          Se os homens ainda não se emendassem, haveria mais guerras, destruição, e que muitos morreriam, até mesmo o Papa, e sua Igreja seria perseguida e destruída.

          Também me disseram as mesmas coisas, mas mostrando grande sofrimento e grande destruição. Mães matam os próprios filhos e um cálice transborda. Conflitos começariam em vários lugares e o caos reinaria;  que grandes sinais seriam vistos no mundo inteiro, que veríamos todos os nossos erros e muitos morreriam por não suportar encarar a si mesmos; que passaríamos três dias de profundo desespero na escuridão completa. Depois de tudo isso, o mundo não seria mais o mesmo.

          Foi-me dito, muitas e muitas vezes, para que rezássemos muito, muito e muito, que fizéssemos sacrifícios, que nos arrependêssemos de nossos erros, que fôssemos bons.

          Finalmente, apesar de tanta dor e preocupação, a mim foi prometido que haverá, um dia, um período de paz no mundo. Será estabelecido um novo culto, definitivo, e a Rússia finalmente será convertida. Os cristãos serão um. As pessoas de boa consciência e puras de coração habitarão a Terra. Um mundo novo, um Reino novo.

          Tudo isto foi dito por Nossa Senhora em La Salette, Fátima, Garabandal e Medjurgorje. 

          São pedidos urgentes para uma humanidade que caminha cega em meio à escuridão e ao caos crescente. Ainda há tempo para que realizemos o que nos foi pedido desde o Céu. É um Deus que fala. É a sua Mãe que fala.