terça-feira, 14 de julho de 2020

A antessala do Paraíso


"O temor a Deus é o começo do prazer."
(G. K. Chesterton, em "Varied Types", 1905)

          Chesterton é um daqueles escritores habilidosos que conseguem condensar numa única frase ideias profundas em poucas palavras e, mais incrível ainda, aparentemente contraditórias como "temor a Deus" e "prazer".
          Ao contrário do que muitos imaginam, o temor a Deus não é ter medo Dele, mas respeito, reverência; e esta atitude implica o reconhecimento de quem Ele é, ou seja, Deus, um ser magnânimo, infinito e absoluto.
          O reconhecimento da natureza divina traz por consequência o reconhecimento de nossa natureza, infinitamente desproporcional a Deus.

          Não há como ficar indiferente à infinitude divina, cuja reação é, ou de aceitação, ou de fechamento e revolta. Nossa condição como criaturas de um ser infinito implica necessariamente um chamado à humildade. Do contrário, colheremos desordem e sofrimento.
          A vida dos santos mostra que a virtude mais admirada por Deus é justamente a humildade; seu reconhecimento pelos santos os levaram ao cumprimento dócil e reverencial à vontade divina.
          Se Deus, em sua bondade e magnanimidade, dá de comer aos animais e águas às plantas, por que não daria muito mais aos seus filhos prediletos e ainda mais àqueles bons e obedientes?
          Disto surgem nossas alegrias e prazeres, que se manifestam em situações cotidianas específicas a cada pessoa, porque cada um vale muito mais do que muitos pardais, muitas árvores e muitas montanhas.
          A filiação divina é universal e, portanto, real para todas as pessoas de todas as épocas e lugares, pois a condição humana é a mesma sob as culturas, sociedades e personalidades.
          O reconhecimento desta filiação dá novo gosto e nova cor a todas as coisas. É característico do homem sentir prazer, que é uma reação de satisfação imediata com aquilo que interage. E ao vermos que somos filhos de Alguém que não tem medida, igualmente sem medida será a alegria da vida e o prazer das coisas que através dela Deus nos proporciona.
          Na verdade, isto é mais do que prazer, mais mesmo do que alegria. É um êxtase, uma antessala do Paraíso.

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