quarta-feira, 18 de novembro de 2020

"Querer tudo é não desejar nada"

 "Querer tudo é não desejar nada." (G. K. Chesterton)

O ato de querer algo significa que este algo é prioridade, naquele momento, sobre as demais coisas. E a prioridade significa colocar umas coisas a frente de outras.
Querer significa selecionar, desejar algo frente ao resto. Em suma, é estabelecer o senso das proporções (ao menos subjetivamente) numa determinada situação definida no tempo.
Portanto, quem tudo quer nada deseja, pois coloca para si como prioridade todas as coisas ao mesmo tempo.
Isto significa que a realização do querer tudo é impossível, pois a própria ordem das coisas, temporal e espacialmente, impossibilitam que todos os desejos se realizem.
Pessoas que pensam assim, que têm na alma o querer tudo como se o mundo lhe devesse, por direito, fornecer tudo o que deseja, acabam inevitavelmente frustradas, tanto no desejo em si quanto na perda de sentido de vida de uma narrativa não vivida. Isto resume muito da sociedade atual.
Esta passagem de Chesterton, tão sucinta mas verdadeira, adquire proporções ainda mais amplas e consequências ainda mais desastrosas nos dias de hoje.
Ela também remete a outra passagem do capítulo "O Suicídio do Pensamento" em "Ortodoxia", onde nosso escritor afirma que escolher algo implica em rejeitar tudo o mais. E assim voltamos ao ponto inicial deste texto: querer algo é escolher, é priorizar umas coisas sobre as outras.
No mundo de hoje, onde somos permanentemente bombardeados e, por meio de manipulações da linguagem, quase que induzidos a querer tudo ao mesmo tempo, é necessário querer a coisa certa.
Assim, a ordem interior do homem, que manifesta seu querer no silêncio da alma, deve ser a voz que fala mais alto até prender a atenção dos ouvidos que insistem em se render aos apelos do mundo.

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