terça-feira, 17 de novembro de 2020

Por que a Igreja sempre perdoa

"A Igreja não aceita nada, mas perdoa tudo. O mundo aceita tudo, mas não perdoa nada." (G. K. Chesterton)

É da tradição cristã falar da díade Igreja e mundo. De forma análoga, podemos também falar no transcendente e do imanente, sendo a Igreja a depositária do primeiro e o mundo expressão do segundo. São duas realidades distinguíveis, mas absolutamente integradas.
Igreja e mundo possuem suas leis, que estão em tensão permanente e são apenas harmonizadas pelo espírito entregue à Providência, que tudo governa e nossas almas deve governar.
Para Chesterton, para quem o mundo era um celeiro de banalidades e erros, este é o peso e relevância da Igreja, pois ela nada contra a corrente do mundo, que a todo o instante nos exorta a nadar contra Ela. Esta é a essência da passagem aqui apresentada, exemplo típico dos paradoxos do escritor.
Assim, por expressar as realidades do espírito, a Igreja propõe uma forma de viver que não condiz com a "lógica" do mundo.
Por exemplo: tendemos à inércia, a ficarmos parados e acomodados em nossa condição de vida. O apelo a este acomodamento é do corpo (há também aspectos da mente nisso), realidade do imanente, do mundo. Mas a Igreja, obedecendo à Revelação, nos exorta a transformar o mundo, tanto física quanto socialmente, pelo trabalho, o suor do rosto anunciado no Gênesis. Temos de lutar para vencer o mundo, sobrepor a vontade do espírito às forças do mundo que pesam nossa alma e tendem a nos afastar de Deus.
Por isto a Igreja, que nada aceita, tudo perdoa. Porque sabe que não pode ser condescendente com as tendências do mundo, mas deve perdoar o homem a todo o instante, porque ele é fraco e, cedo ou tarde, há de cair em erros e pecados.
O mundo, por seu lado, tudo aceita, mas nada perdoa. Pois se a pessoa se entrega ao prazer de se acomodar e esperar que Deus ou seja lá mais quem faça algo por ele, acabará na miséria e na morte por inanição.
O homem tem livre-arbítrio, dom divino fruto de Seu amor, para decidir entregar-se aos desejos da carne e esterilizar o espírito. Mas pode, também, lutar para vencer, sempre, até que chegue o dia da vitória, o instante último onde se revelará o peso da balança da vida pendente para o espírito.
Pois, como nos lembra São Mateus, "quem perseverar até o fim, este será salvo".

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