sábado, 7 de novembro de 2020

O insistente retorno a Roma

"Onde o catolicismo é expulso como uma coisa antiga, ele sempre volta como uma coisa nova." (G. K. Chesterton, em "Todos os caminhos levam a Roma") 

Não existe civilização secular, "laica", não-religiosa.
Todas as civilizações humanas têm algo de religioso na base, pois não pode haver civilização que se fundamente na desorientação e desconexão com a realidade em seu todo, cosmovisão provida pelas tradições religiosas.
Até pouco tempo, esta cosmovisão estava disponível apenas nas religiões. Hoje, as ideologias e mentalidades modernas buscam fazer o mesmo papel através de fórmulas pré-determinadas que enclausuram a totalidade da realidade numa gaiola. É a explicação de tudo e de todos mediante fórmulas simples, mas falhas.
O exemplo mais flagrante é o marxismo, cuja filosofia persiste com sua insistente miragem sedutora de uma transformação integral da sociedade humana e, por consequência, de sua relação com o cosmo em prol do "mundo melhor". Não importa o quanto seus movimentos políticos fracassem, pois sua força provém da insaciável sede existencial do homem.
A persistência de ideologias é mais uma prova da persistência das tradições religiosas, totalizantes por excelência, mas não escravizadoras do espírito. É mais uma prova de que, sim, o homem é um ser essencialmente religioso, mesmo que se negue esta afirmativa.
Não por acaso, Chesterton escreveu um livro chamado "Todos os caminhos levam a Roma", origem desta citação. Queira ou não, o homem busca a Verdade, cujo depósito institucional está em Roma, ainda que esta Verdade, obviamente, não se limite há uma instituição mas se manifeste na realidade mesma.
Tiremos o catolicismo de cena e teremos ideologias falhas que acabarão por ruir deixando em seu lugar um catolicismo novo; ou mesmo uma religião que dê ao homem uma explicação satisfatória para a vida.
Mas Chesterton soa profético em sua afirmação. Hoje, com a crescente hostilidade cultural ao catolicismo, ao mesmo tempo emergem e se destacam movimentos onde esta fé vive e mesmo retorna. É o caso dos movimentos marianos, que tomaram impulso desde o pontificado de São João Paulo II, e do retorno às práticas tradicionalistas com Bento XVI.
Onde emerge a apostasia, o Espírito age para defenestrar o espírito do tempo. Pois é disto que se trata: o homem, ao render-se ao seu tempo, afunda no vazio e na depressão, e tem como única alternativa retornar para a casa que lhe oferece a eternidade.

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