domingo, 8 de novembro de 2020

Quando os impérios sucumbem

 "Eu creio que a primeira coisa que me fez detestar o imperialismo foi a afirmação de que o sol nunca de põe no Império Britânico. Para que serve um país sem pôr-do-sol?" (G. K. Chesterton)

Chesterton possuía um olhar muito crítico do Império Britânico, pois o considerava um exagero e algo distinto e distante da realidade do simples britânico. Sua vastidão criava um sentimento de grandeza nas pessoas, mas pouco contribuía para suas vidas de fato enquanto cidadãs.

O comentário aqui reproduzido é muito típico de nosso escritor. Afinal, que raios de importância há o pôr-do-sol para um império que depende do poder efetivo para se sustentar? Como pode um poético fenômeno natural ser mais relevante do que a armada britânica?
Pois é exatamente este o ponto. Se um poder imperial (e poderíamos acrescentar: qualquer poder político) esquece que sua legitimidade está nas coisas mais simples, que é estar próximo das necessidades e aspirações das pessoas comuns, cedo ou tarde ele irá sucumbir.
Este foi o destino do Império Britânico que, incapaz de governar vastas terras distantes com populações crescentes em número e hostilidade, liderando politicamente povos que pouco ou nada tinha a ver com seu povo de origem, dissolveu-se em meio a uma Grande Guerra e diversas revoltas, como foi a tumultuada descolonização da Índia.
Podemos ir mais longe: se o sentido da força política é o poder e a grandeza em si mesmos, então sua força acaba por se tornar seu túmulo, porque os meios de vida e governo não são jamais fins em si, mas meios.
A glória britânica, representada pelo império onde o sol nunca se punha, estava grandemente calcada na própria grandeza, cujo peso acabou por ser sua ruína.
Ademais, todo o poder e força é cíclico. O Império Romano se sustentou por oito séculos, o Império Sacro-Germânico outros oito, a União Soviética 78 anos e o Terceiro Reich apenas 12.
Destes impérios, muitos sucumbiram porque não eram legítimos ou perderam sua legitimidade. Em algum momento, perderam a capacidade de contemplar pôr-do-sol ou foram destruídos por aqueles que acreditavam que as coisas simples deveriam ser subjugadas e transformadas pelo pesado braço do Estado.
Há um espírito que sustenta o mundo. Sem ele, toda a ordem e todo o império são apenas esqueletos que, cedo ou tarde, desabarão por si mesmos.

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