terça-feira, 20 de setembro de 2016

A inteligência como um acesso a Deus

(Deus é luz: luz que tudo ilumina, tudo torna claro e, portanto, inteligível.)

Neste recorte do vídeo sobre o lançamento do seu livro O Pai Nosso, Luiz Gonzaga de Carvalho Neto relaciona a vida espiritual/religiosa com a vida intelectual.

Não é de graça que Gugu, como é conhecido, é filho de Olavo de Carvalho. Olavo foi um dos três principais responsáveis pelo meu retorno à Igreja Católica. A relevância de seu trabalho para minha reconversão foi sua capacidade de me fazer compreender que o que chamamos de "religião" trata, em última instância, de realidade. Meu retorno está vinculado à intelecção, a inteligência como meio de me aproximar de Deus (um dia contarei esta história melhor).

Pois bem. No vídeo Luiz Gonzaga, em conversa com Renan Santos, amigo meu e fundador da Editora Concreta pela qual o livro foi lançado, diz que a vida intelectual é parte da vida religiosa. Tudo o que nos aproxima do bom, do belo e do verdadeiro, diz ele, serve à nossa vida religiosa. Em última instância o conhecimento busca a Causa primeira de todas as coisas, o Ser, o Princípio ou seja lá como você queira chamar o que se define como "Deus". Por diversos momentos Luiz Gonzaga lembra que foram os monges católicos que preservaram a literatura pagã, porque eles viram nestas obras elementos edificantes à vida espiritual que poderiam nos ajudar na construção do edifício interior em direção ao Alto. Este fato também é lembrado pelo historiador Thomas Woods Jr. no seu livro Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental. Woods comenta que a literatura pagã e os trabalhos científicos provenientes do mundo islâmico foram reproduzidos e guardados pelos monges copistas, preservando estes trabalhos da ação dos bárbaros ao longo do primeiro milênio do cristianismo.

 (Livros de Luiz Gonzaga e Thomas Woods Jr, respectivamente.)

Na medida em que fui tomando conhecimento dos trabalhos do pai de Luiz Gonzaga fui percebendo a dimensão concreta da revelação cristã. Quando vemos que Deus age na realidade, vemos, portanto, que a realidade, independente do meio pela qual temos acesso a ela, seja por livros de literatura, imagens, experiência científicas ou observação direta do cotidiano, pode ser acessada por diversos prismas que, no fundo, levam à mesma Origem ainda que não tenhamos acesso direto à esta Origem por estes meios. Quando chegamos na distância certa, é Ele Quem dá o salto para nosso encontro, o salto qualitativo que falta para que Ele revele Sua presença.

Eu diria que Deus está quase ao alcance de nossa inteligência, porque inteligir é um ato espiritual. O ato de compreender e tomar consciência de certos aspectos da realidade pode ser uma forma de nos aproximarmos de Deus, que no momento certo dará Seu salto para nós.

É Ele quem nos busca. Na sanha de querer compreender a realidade a inteligência poderá ser o meio pelo qual teremos conhecimento de uma realidade que está muito além do que nosso pensamento pode acessar. Jamais teríamos este acesso se não fosse a iniciativa divina de nos buscar. E isto é misericórdia.

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