domingo, 4 de setembro de 2016

Madre Teresa de Calcutá: oficialmente santa, realmente santa

(Madre Teresa de Calcutá, falecida em 5 de setembro de 1997, foi beatificada pelo Papa Francisco depois de quase exatos 19 anos em 4 de setembro de 2016.)

Existe um certo "descompasso" entre a oficialidade da Igreja Católica e o mundo espiritual. Quando alguém é canonizado e torna-se santo, é porque esta pessoa já estava em estado de santidade antes da oficialização.

Desconheço um processo de canonização. Sei apenas que ele depende de uma série de averiguações da Congregação pela Causa dos Santos, órgãos vinculado à Santa Sé, e que para ser santo é necessário haver dois milagres comprovados (para ser beato basta um). "Comprovado" é, aí, uma palavra importante, porque pode haver muitos santos com muitos milagres que não foram comprovados mas que já estão atuantes na Igreja Gloriosa, isto é, no Céu, e portanto têm autorização de Deus para interceder pela Igreja Peregrina, que somos nós aqui na Terra.

(Capela em homenagem à "Maria Degolada", na Vila Maria da Conceição, em Porto Alegre. Reparem ao fundo as placas com agradecimentos. Foto tirada deste blog.)

A questão é que a canonização não apenas oficializa como torna segura a devoção, já que é difícil saber quem é santo ou não, e muitas devoções populares se misturam àquilo que seria seguro na vida espiritual. Aqui em Porto Alegre, por exemplo, existe há décadas uma devoção à Maria Francelina Trenes, também conhecida como Maria da Conceição ou "Maria Degolada", mulher que teve a garganta cortada pelo namorado, um oficial da Brigada Militar, em 12 de novembro de 1899. Depois que a família colocou uma imagem de Nossa Senhora no local de seu assassinato, começou uma devoção popular em torno da figura de moça, que passou a ser evocada pelos moradores locais e tratada como "santa". O local, onde hoje se encontra a Vila Maria da Conceição no bairro Partenon, tornou-se ponto de peregrinação, e foi inclusive construída uma capela em sua homenagem em meados de 1930-40 onde forma colocadas placas de agradecimentos e objetos pessoais por supostas curas. Mas a pergunta que se levanta aí é: qual é o estado espiritual de Maria? Como não temos este conhecimento não sabemos se é seguro ou não invoca-la como santa. Ademais, a Bíblia proíbe a evocação dos mortos em diversas passagens do Antigo Testamento, e Jesus pede que as pessoas deixaem os mortos em paz (Mateus 8, 21). Segundo o Catecismo da Igreja Católica, o purgatório é um estado de alma e nele não sabemos em que condição a pessoa falecida está. Por ter proibição divina, a evocação dos mortos leva-nos a compreender que tal ato torna Deus ausente e, portanto, passível de ser manipulado pelas forças do Mal. Salvo alguma evidência pessoal ou devoção popular que seja devidamente aprovada (ou permitida) pela Igreja, todo o cuidado é pouco.

Por isto mesmo, depois de beata, agora podemos invocar, com plena segurança e profunda devoção, uma mulher que desde seu período de vida já era vista como santa por suas obras e seu legado. Quando alguém deixa em vida evidências de que Deus agiu através de si, não é difícil perceber que esta é uma via segura para chegarmos a Ele. E basta a Igreja abrir os olhos, "oficialmente" falando, para confirmar o que já sabíamos.

Santa Madre Teresa de Calcutá, rogai por nós!

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