quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A providência divina como o sentido da vida

(A vida - ou a prrovidência - nos coloca desafios a todo o instante. A questão não é por que isto, mas para quê.)

É normal ouvirmos coisas como "eu nasci na época errada" ou "as coisas deveriam ser diferentes", sendo a palavra "coisas" uma referência à condição humana ou ao Cosmos.

Mesmo sendo normal, este tipo de questionamento é, no fundo, sem sentido e uma crítica à vontade divina. Explico. Se eu, Marcos, nasci em Porto Alegre em 1981 de um determinado casal com uma determinada história familiar, então este é o meu tempo e o meu lugar. Se as condições de vida da qual eu surgi são estas e não outras, é porque estas devem ser as condições para que eu venha ao mundo. Eu sou a melhor pessoa para viver exatamente esta condição neste tempo e neste lugar. Caso contrário eu teria nascido noutra época e noutro lugar, nem que fosse do casal vizinho um minuto mais tarde. 

A questão que se coloca aí é: o que vou fazer com esta minha condição? Como a nossa vida carece de uma resposta definitiva, como seu sentido, resta-nos lidar com o que temos. Viktor Frankl, no seu best-seller Em Busca de Sentido, diz que não somos nós que questionamos o sentido da vida, mas é a vida que me pergunta que sentido damos a ela. Dito de outra forma dentro de uma perspectiva religiosa: não é Deus que me propõe a descobrir o sentido geral da minha existência, mas é Ele que me propõe, a cada instante, responder aos desafios propostos por sua Vontade. Sou eu quem dou sentido à cada ato da providência divina respondendo a Ele. E o sentido não é uma resposta única e definitiva, mas uma ação, a autotranscendência, como diz Frankl, em me projetar para um objetivo para além de mim mesmo a cada instante, a cada passo. Eu devo responder e arcar com a reponsabilidade de cada instante da providência. Da decisão de se casar ao de arrumar a cama pela manhã, sou eu que dou a resposta e arco com esta responsabilidade. Talvez isto seja o que chamamos de felicidade, uma vida plena de sentido.

(Última edição em português do livro de Frankl.)

Se a resposta do sentido da vida, no seu sentido abrangente, é inviável à primeira vista, resta-nos a pergunta inicial: o que vou fazer com esta minha condição? Mais importante do que perguntarmos o sentido da vida talvez seja para quê ela serve. É apenas na atitude diária que podemos dar sentido e encontrar respostas à pergunta inicial. O desafio revelado por Frankl é antes de tudo um desafio prático sobre o qual se revela seu sentido existencial.

Portanto a crítica à "época errada" ou "às coisas" como ela são é jogar por terra o sentido da vida e a própria vida em si. Ademais, é uma pecado contra Deus, porque estamos colocando em cheque não só o que Ele nos deu, mas também sua onisciência e a infinitude de Seu amor. Se Deus é perfeito e nos ama infinitamente seria absolutamente absurdo que Ele nos colocasse numa situação que não fosse a melhor possível dentro do Universo criado. O próprio Universo tem de ser o melhor possível, porque só o melhor Universo é compatível com a perfectibilidade divina.  

Se a vida está muito ruim, talvez seja melhor repensar as decisões e o peso da consequente responsabilidade. Isto vale, acima de tudo, para mim mesmo. Se eu não consigo de alguma forma dar um sentido pleno à minha vida (algo difícil, diga-se), quanto mais poderia falar pelos outros.

O trabalho começa em casa sabendo que não estou só. 

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