sábado, 5 de dezembro de 2020

A tirania das oligarquias

"Em uma oligarquia as personalidades têm mais importância que os direitos, e os cartões de visita têm mais peso que as cédulas de voto." (G. K. Chesterton)

Em 1989, o cientista política Francis Fukuyama escreveu um artigo chamado "O Fim da História", em que previa o alastramento dos regimes democráticos pelo mundo.
Meses depois, houve a queda do Muro de Berlim, seguida pela queda dos regimes comunistas na Europa Oriental e, por fim, o desmantelamento da URSS em 1991. Fukuyama foi visto como "profeta", e lançou um livro com o mesmo nome do artigo em 1992.
Os regimes democráticos seriam baseados na igualdade jurídica de todos para com todos. Sua expressão mais evidente seria o voto; e os desejos humanos seriam canalizados para o desenvolvimento econômico e a realização pessoal.
Mas será mesmo que esta igualdade jurídica e o poder do voto são reais como esperava Fukuyama que, diga-se, se tornou um ideólogo do liberalismo ocidental?
A afirmação de Chesterton que reproduzimos aqui mostra aqueles que talvez seja o problema mais grave nas democracias. Mais relevante ainda é a afirmativa ser do início do século XX, quando o poder oligárquico das grandes fortunas era muito menor do que hoje.
Pois o que assistimos nos últimos anos é a emergência de mega oligarquias através da fusão de grandes conglomerados. Apenas seis famílias comandam toda a grande imprensa americana; um punhado de bilionários, aliados ao governo, comanda a Rússia; bilionários chineses trabalham submissos ao Partido Comunista; e empresas de tecnologia, transporte, comunicação e todo o tipo de produtos, de alimentos a eletrônicos, realizaram múltiplas fusões na Europa e EUA dos anos 1990 para cá.
Neste mesmo período, a narrativa do triunfo da democracia tomou a consciência dos acadêmicos, jornalistas e políticos. Transformou-se em dogma.
O dogma democrático se consolidou exatamente ao mesmo tempo em que grandes corporações, inclusive as associadas às ditaduras russa e chinesa, tomaram a vanguarda do poder econômico global.
Por isso Chesterton já alertava da contradição e, diria mais, da incompatibilidade entre os aspectos oligárquicos de uma sociedade e com sistemas democráticos.
As oligarquias são compostas por aquele que nosso escritor nomeou de Homem Incomum. É ele que, tomando as rédeas do sistema jurídico que deveria proteger o Homem Comum, acaba por sabotá-lo em nome da lealdade corporativa.
No fim das contas, o fim da História é muito mais a chancela de legitimidade de domínio oligárquico sobre o mundo do que o estabelecimento jurídico da dignidade do Homem Comum, mero instrumento na aliança tirânica entre Estados e grandes conglomerados.

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