terça-feira, 11 de outubro de 2016

Igreja 2: Paróquia Santa Maria Goretti

(Fachada da Paróquia Santa Maria Goretti vista do canteiro central da Rua Rio São Gonçalo, em 28 de setembro de 2016. Do lado esquerdo da foto está parte da estrutura do estádio do Clube São José.)

          Em meu último texto sobre as igrejas de Porto Alegre analisei a igreja da Paróquia Santo Antônio do Partenon. Ali observei que a construção é a mais importante da região por estar localizada quase no topo do Morro Santo Antônio e pelo destaque dado à torre, com mais de 30 m de altura. Também descobri que o edifício, com misturas de estilos, mais moderno e oficialmente concluído em 1934, foi escolhido em detrimento de um modelo gótico.

          Continuando o estudo sobre as igrejas da cidade vamos agora para a Paróquia Santa Maria Goretti. Ela está localizada no bairro do mesmo nome na Zona Norte de Porto Alegre, na Rua Rio São Gonçalo entre as avenidas Assis Brasil e Sertório. Com a fachada virada para o leste, seu terreno está sobre a bacia do Rio Gravataí numa região baixa, plana e quase ao nível do mar. Chama a atenção que o edifício está numa esquina ao lado do campo de futebol do Clube São José, situação única entre as igrejas da cidade.

          Segundo o histórico disponível no seu site*, a origem da Paróquia Santa Maria Goretti está vinculada ao padres palotinos. Em 1950 estes padres assumiram a Paróquia Nossa Senhora de Fátima, na recém construída Vila IAPI, também na Zona Norte. Lá rezavam o terço em homenagem à Santa Maria Goretti. Depois de serem transferidos à paróquia vizinha, a Divino Espírito Santo no bairro Vila Floresta, os padres construíram uma grande capela em madeira dedicada à Santa Maria Goretti. Esta capela estava localizada numa área pobre à oeste da sede da Divino. Em 30 de dezembro de 1957, a capela foi elevada à paróquia, e o padre Santo Lorenzato foi seu primeiro pároco. Em seguida foi erguido um salão paroquial em madeira e uma casa paroquial de alvenaria.
  
          Dois meses depois de construída a casa paroquial*, um grande incêndio destruiu a paróquia. Ele aconteceu às 10 h da manhã de 3 de junho de 1960, uma sexta-feira, e em trinta minutos a igreja estava destruída. Uma campanha liderada pelo arcebispo Dom Vicente Scherer e o Instituto Vicente Palotti lançaram uma campanha entre paróquias e rádios da época para arrecadar fundos à construção de uma nova igreja. Como parte desta mobilização, em 5 de junho, um domingo, houve uma missa campal com mais de mil pessoas, onde foi arrecadado dinheiro. Em 5 de julho os palotinos fizeram a doação do altar, e as irmãs do antigo Hospital Lazarotto doaram a imagem da padroeira, que permanece na igreja até hoje. Estas doações foram feitas em nova missa celebrada no mesmo dia no Instituto Vicente Palotti. Após a celebração foi realizada uma procissão até o local do incêndio com a presença de quase duas mil pessoas e diversos sacerdotes.

          A nova igreja foi construída em material e é a mesma dos dias de hoje. Seu edifício passou por uma reforma em torno de 1980, já que a fachada e a torre estavam inacabados. O objetivo era concluir a obra e melhorar a fachada do edifício. O projeto, autorizado pela Arquidiocese de Porto Alegre, foi elaborado pelo Dr. Vitor Fuhrmeister. Segundo o pároco da época, Eugenio Driessen, Furhmeister "modificou o aspecto da igreja de forma surpreendente" dizendo que isto iria "embelezar todo o bairro". Exageros à parte, a fachada foi totalmente modificada, recebendo novas janelas, acabamento, e a torre da igreja, que apresentava o aspecto de um esqueleto inacabado, foi completada. As fotos abaixo mostram o antes e o depois da obra.*

(Antes. Visão do outro lado da Rua Rio São Gonçalo. A casa paroquial está à direita da foto.)
  
(Depois. Visão do outro lado da rua.)

          Desde então a Igreja Santa Maria Goretti apresenta o mesmo aspecto, porém com manchas escuras e a perda da tintura devido à ação do tempo. Já o revestimento da fachada acima da porta foi modificado, contando possivelmente com novo revestimento no lugar da tinta branca.

(Detalhe da torre com a cruz e o campanário.)

          A torre da igreja possui aproximadamente 11,5 m de altura, está localizada no lado direito da fachada e é revestida em tijolo. Com os pouco mais de 2 m da cruz acima, sua altura total é de aproximadamente 13 m. A cruz é totalmente lisa, não possui qualquer ornamentação e apresenta desgaste pela ação do tempo. Na torre há quatro janelas logo abaixo de seu topo com pouco mais de 2 m de altura formando um espaço aberto onde localiza-se o campanário. O sino está suspenso por uma estrutura metálica junto ao teto, e todo o conjunto é visível por através das janelas. Logo abaixo da abertura há uma janela com formato que lembra uma flor e um vitral representando uma cruz e raios de luz saindo de seu centro.

(Detalhe do vitral da torre logo abaixo do campanário.)

          O edifício como um todo apresenta um aspecto moderno, reto, sem ornamentações externas (quem souber seu estilo arquitetônico, desde já agradeço). As únicas referências religiosas externas são a torre com a cruz e o campanário, os vitrais da torre e da janela central da fachada frontal (que apresenta uma imagem da padroeira), uma cruz no revestimento acima desta janela e o nome da paróquia escrito num banner acima da porta de entrada. No seu todo a igreja lembra um edifício comercial com poucas caracterizações típicas de uma igreja e carece de representações religiosas. Com exceção da torre e da cruz acima, todas as demais representação são muito discretas. Sua localização compete com o campo de futebol do São José, de longe a maior construção do bairro e principal referência geográfica da região. Segundo o pároco Paulo Inácio Labres, que está a seis anos na paróquia e me recebeu para uma conversa em sua casa paroquial no dia de minha visita, a torre é o principal chamativo da igreja. Segundo ele os moradores que moram algumas quadras à frente enxergam a torre de longe e a usam como referênci para localizar o prédio. Apesar do estádio ao lado, a torre é um dos pontos altos do bairro onde a maior parte das edificações é composta por casas e edifícios baixos de empresas. 

          O caso de Paróquia Santa Maria Goretti é um claro exemplo de como a estética pode subtrair sacralidade de um edifício religioso. A falta de representações religiosas, o estilo moderno e retilíneo, a falta de conservação (ao menos externamente) e a localização ao lado de um estádio de futebol, que acaba por encobrir a relevância do prédio, dissolvem a religiosidade que a construção poderia representar. Ao contrário da Santo Antônio do Partenon, a localização geográfica da igreja também não ajuda já que edifício está no mesmo nível dos demais e qualquer construção nova de maiores dimensões acabará por abafar a presença da igreja. Esta presença marcante poderia ser compensada por uma forte representação estética e simbólica, mas esta representação é quase ausente na Santa Maria Goretti.

* Agradeço ao pároco Paulo Inácio Labres pelo ótimo acolhimento, as fotografias e algumas informações históricas da paróquia.

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