quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Igreja 1: Paróquia Santo Antônio do Partenon

(Fachada frontal e norte da Igreja Santo Antônio do Partenon. Foto tirada na manhã de 30 de setembro de 2016.)
 
          Como havia comentado em minha última postagem, estou realizando um trabalho a respeito da representação simbólica das torres das igrejas (ou da ausência delas) como referência da expressão religiosa da sociedade tendo como objetivo identificar, de forma genérica, o processo de perda da desta representação na paisagem urbana de Porto Alegre. Este pode ser um indicativo da secularização, isto é, a subtração da expressão religiosa na sociedade em seu todo dada a importância estética e simbólica das torres.

          Começarei o trabalho de campo pelas paróquias. As razões são duas: primeiro porque elas são as principais igrejas da cidade por sua relevância administrativa e por terem um sacerdote permanente; segundo porque são fáceis de serem identificadas pelo primeiro fator. Reitero que este trabalho não é científico. É, acima de tudo, de observação na tentativa de fazer um apanhado geral das igrejas da cidade.

(Torre da igreja vista da parte baixa da Rua Paulino Chaves, já no bairro Santo Antônio, à oeste.)

          A primeira paróquia é a Santo Antônio do Partenon. Sua igreja está próximo ao ponto mais alto do Morro Santo Antônio numa altitude de aproximadamente 70 m no extremo-leste do bairro Partenon, virado para o lado oeste da cidade onde se encontra o Guaíba. Apesar do lago não ser visível desde a igreja devido à presença de outra porção do morro, sua torre ganha destaque por ser de longe a construção mais alta da vizinhança. De frente à igreja está a Rua Paulino Chaves, de onde sua fachada principal é visível apesar da presença dos jacarandás na calçada à frente.

          A torre, localizada sobre a entrada principal da igreja, tem aproximadamente 31,5 m de altura contando desde a base até o pequeno domo localizado do lado esquerdo. Somada à cruz de metal no topo (+- 5,5 m ao lado do domo), são 34,5 m. A cruz é o único símbolo religioso representado na torre: além do modelo de metal em destaque no alto, há outras duas cruzes nas extremidades do topo, uma à direita e outra à esquerda, e uma quarta cruz sobre a porta de entrada. Estas três cruzes são, aparentemente, construídas com o mesmo material com que foi feita a torre e a nave da igreja.

(Torre da igreja com 31,5 m de altura, sendo 34,5 m com a cruz de metal. Abaixo as janelas dos sinos e o relógio sobre a entrada.)

(Detalhe da cruz. Nas duas extremidades as cruzes de material, e à direita da foto o domo que dá acesso ao terraço.)

          Ao longo da torre há seis janelas fechadas em veneziana onde estão guardados os sinos. Apenas do lado esquerdo há uma parede circular onde estaria a escadaria que leva ao terraço, cuja porta está sob o domo. Desde o térreo são cinco andares. Há ainda pequenas janelas junto à escadaria e logo abaixo das janelas dos sinos. Em seguida, sobre a porta de entrada, há um relógio.    

         Não verifiquei o material com a qual a igreja foi construída. Aparentemente sua estrutura é de pedra, mas segundo o frei capuchinho Francisco Turra, pároco da Paróquia Santo Antônio do Partenon desde 2008 (apesar de dizer-me que estava no local desde "há nove anos", isto é, desde 2007), a igreja é revestida de cirex, uma argamassa composta pela mistura de pó de granito com mica cujo efeito é uma aparência rochosa. A torre apresenta o mesmo aspecto. A igreja, portanto, parece ser mais robusta devido à aparência rochosa. Já seu estilo arquitetônico é um misto de gótico, como as janelas laterias e da fachada frontal, com barroco, exemplificado por sua curvatura.*

          O atual edifício da paróquia não é o mais antigo. A Igreja Santo Antônio do Partenon inicialmente foi uma capela, conforme conta o histórico no site oficial da paróquia (e em mais detalhes no Projeto de Resolução que homenageia a paróquia com o Troféu Câmara Municipal). 

          A primeira capela nasceu de uma provisão episcopal de 9 de junho de 1875, mas sua construção foi iniciada em 16 de maio do ano seguinte com o lançamento da pedra fundamental . O terreno pertencia à Sociedade Parthenon Litterário, local de encontro de intelectuais da cidade e que deu nome à paróquia. Sua inauguração foi no Natal de 1881. Logo em seguida, em 6 de janeiro de 1882, a imagem de Santo Antônio foi levada em procissão da Catedral à nova capela. A paróquia foi fundada oficialmente em 30 de agosto de 1911 pelo arcebispo Dom Cláudio Ponce de Leão, e ficou vinculada ao convento dos Capuchinos, atualmente localizado do lado esquerdo da igreja do outro lado da rua Paulino Chaves. O primeiro pároco foi Frei Bernardin d´Apremont.

(Projeto rejeitado da nova igreja.)

(Vista da face norte do projeto que foi aprovado. Destaque para o nome dado à igreja em francês.)

          Apesar da ampliação da igreja em 1922, quando passou de 12 para 14 m de extensão, em 1927 foi acertada sua demolição, realizada no ano seguinte. Foi apresentado um projeto para um igreja em estilo gótico, similar à Igreja Santa Teresinha do Santíssimo Sacramento, em frente ao Parque da Redenção, com a representação de diversos santos em vitrais da fachada e com altura menor do que a do edifício atual. O documento data provavelmente de 1927 (dia 4 de junho; no registro da foto cortei sem querer o ano). Mas este projeto foi rejeitado.

          O projeto vencedor que deu origem ao atual edifício data também de 1927. Ele foi desenhado pelo arquiteto Henri-Victor Dernadé e veio da cidade de Arnnecy, na França (algumas plantas identificam a paróquia como "Eglise de Parthenon. Bresil"). O engenheiro responsável foi Mathãus German Desiderius Casagrande (ou Mateus Casagrande), e a pedra fundamental, lançada em 17 de junho de 1928, foi abençoada pelo então arcebispo Dom João Becker. Apesar da igreja ficar oficialmente pronta em 1934, suas obras não estava completas. Elas pararam em 1932, ano em que foi erguida a cruz luminosa no topo da torre, em julho (provavelmente a mesma que vemos hoje, já que à noite uma cruz de luz azul é visível). No dia 5 de julho foram badalados pela primeira vez os sinos. As obras só seriam retomadas 1950 e concluídas onze anos depois. A primeira missa na nova igreja ocorreu apenas em 31 de agosto de 1952. Entre 1984 e 2006 o edifício passou por diversas reformas internas. Em 2008 iniciou sua restauração interna e em 2010 foi concluída a restauração externa.

          É possível ver pelas fotografias do Google Street View que o jardim na entrada da igreja fora totalmente reformado em meados de 2010 em diante. Antes, junto à Rua Luis de Camões, havia um muro de concreto no local. No final de 2013 a grama fora colocada, e a nova escadaria e luminárias já estavam presentes. Desta forma a frente da igreja tornou-se mais visível e atraente. Quando visitei a paróquia, as fachadas frontal e da direita estavam limpas, e havia operários limpando a face sul da torre com jatos d´água. A Paróquia Santo Antônio do Partenon parecia muito mais nova do aparentavam os 82 anos de idade da nova igreja.

(Lado sul da igreja visto da continuação da Rua Paulino Chaves em frente ao convento dos capuchinhos. A torre estava em processo de limpeza. Destaque para a cúpula da nave principal escondida pela torre e pelo edifício do Colégio Rainha do Brasil.)
 
          Interessante notar que na construção da nova igreja o projeto mais "tradicional" fora rejeitado, cujas razões desconheço. Mas a construção atual, de desenho mais limpo num mito de gótico com barroico, é maior e mais imponente. Duas coisas no atual edifício, e na torre em particular, chamam a atenção: a altura da torre sobre o morro e a ausência de imagens religiosas. Foi privilegiado um projeto mais moderno, porém maior, sendo a igreja diversas vezes reformada nos últimos trinta anos. Apesar do crescimento dos bairros Partenon e Santo Antônio e de um perfil estético mais "limpo", a Paróquia Santo Antônio do Partenon continua como uma das principais referências da região por sua localização e imponência sendo visível há quilômetros de distância como do alto do Morro Petrópolis e dos bairros Jardim Botânico e Santana.

* Agradeço aos amigos Carlos Guilherme Silveira e Silvana Antoniolli pela identificação do estilo arquitetônico da igreja.

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