domingo, 26 de maio de 2019

A medida do sucesso


           Ultimamente tenho passado, dito de forma suave, por um período da vida sem qualquer inspiração. Não sei dos propósitos das coisas que faço (mesmo que tenha consciência deles, mas não me penetram no coração), não tenho muito ânimo para resolver as coisas do cotidiano e há um bom tempo abdiquei de alguns sonhos, ao menos temporariamente.

          Na vida moderna somos ensinados, como jumentos atrás da cenoura, a idolatrar o sucesso profissional e a paixão amorosa. Agora me pergunto: quem consegue atingir estes objetivos? Quem faz o que realmente gosta e ganha fortunas com isso? E quem consegue viver uma paixão duradoura e sem conflitos? Evidentemente tais ideias são mentira. Não que eles não sejam possíveis, pois até são, mas porque a grande maioria das pessoas se frustra nesta busca e, pior de tudo, aprisiona o sentido das suas vidas a duas linhas de chegada transformadas em miragem de felicidade.

          Se na vida o que vale mesmo é o sucesso no trabalho e no amor, do que vale a conquista quando realizadas? O sucesso encerra-se em si mesmo e só pode ser substituído por uma nova busca e uma nova conquista. É um ciclo sem fim interrompido apenas pela morte, a causa única do fim de todas as lutas e conquistas. Os ideais de sucesso fecham a pessoa nas coisas do mundo, e tem sido assim nas últimas gerações, que afastaram de suas vidas agitadas a consciência da morte e o teatro profundo e oculto dentro do qual as lutas e conquistas se desenrolam. Decaído os ideais da alma que antes buscavam a perfeição e o Céu, a honra e a dignidade, resta-lhes mirar e lutar pelos ideias do mundo, que valem tanto quanto valiam antes de nós nascermos: nada. 

          As lutas cotidianas têm de ser absorvidas na perspectiva da morte, isto é, tratadas como lutas por um legado no mundo e para que não nos arrependamos ao chegarmos ao fim da vida, seja no leito de morte, seja no Tribunal diante do qual veremos a Deus e a nós mesmos exatamente como somos, com todas as suas belezas e terríveis feiuras. Quanto melhor fizermos nosso trabalho ao longo da vida, mais luminosa será nossa beleza e menores serão nossas feiuras. É a alma que brilha. O corpo morre. 

          O sucesso profissional e a felicidade no relacionamento fariam sentido se a vida se fechasse com a morte. Mas é justamente o mistério da morte a medida justa da busca destas conquistas, tornando-as relativas de acordo com os princípios e o amor com que são realizadas. Nos últimos momentos, será a beleza do que fizemos que contará, bem como a forma com que seremos lembrados, aqui e no outro mundo. 

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