domingo, 18 de junho de 2017

Nem doença, nem frustração, nem morte: meu medo perante a vida

 

          Há pouco mais de um ano comecei a me defrontar com a seguinte pergunta: do que eu tenho medo? Na verdade, antes de fazer esta pergunta, comecei a tomar consciência da resposta. Só depois vi que a pergunta deveria ser esta.
 
          Pois bem, não tenho medo de morrer, ficar doente, pobre, de ser agredido ou me frustrar com as pessoas. Tenho medo de chegar ao final da vida e ver que eu não fiz o que deveria ter feito. Medo de chegar lá no final da minha trajetória, quando o ciclo da vida se fecha e podemos enxergar o conjunto da obra tal qual observamos na eternidade, e ver que o que fiz não valeu à pena, ou que tomei e insisti no caminho errado de forma que não pude viver de forma plena.
 
          Esta última frase parece um tanto poética ou idealista, mas é isto mesmo: uma vida de erros para consigo mesmo é uma vida falsa, uma forçação de barra constante, cujo efeito é o sufocamento dos próprios dons, das próprias habilidades e o sentimento permanente de incompletude, de que aquilo que eu gostaria de ter feito com a plenitude de minhas forças não foi realizado. Porque pouco importa o que fazer: importa o quão verdadeiro foi este fazer, o quanto da alma foi impresso em cada ato. A ação verdadeira adquire sentido quanto voltada a um objetivo maior do que nós mesmos (Viktor Frankl chamou isto de autotranscedência), fazendo que cada passo, cada momento tenha um valor único justamente por estar voltado ao grande objetivo de vida cujo valor é incalculável. Muitas vezes penso na questão profissional, mas a profissão é um meio, não um fim em si; também penso na formação da família, mas será que ter uma família sem estar preparado é o que preciso para fechar meu ciclo de vida e dizer para mim mesmo: "É isso!"? Creio que não.
 
          Acredito que a concretização desta realização plena não está numa resposta. Esta resposta seria o caminhar, o ato cotidiano que revela, aos poucos, os caminhos a serem tomados. O mesmo diz Frankl quanto ao sentido da vida. Para ele não devemos pergunta o sentido da vida, mas é a vida que nos pergunta que sentido damos a ela. E dar sentido é responder a cada situação com cada ato novo, preenchendo-o com o valor que julgamos verdadeiro.
 
          Há o ditado que diz que "Deus ajuda quem cedo madruga". A providência ajuda quem caminha sempre adiante. Não é possível chegar realizado ao fim da vida sem antes levantar da cama para a busca deste fim. Não falo do trabalho, e sim da disposição de encarar o cotidiano de forma verdadeira, de ser você mesmo a cada instante. Me assusta a ideia de que posso um dia chegar no descanso eterno e ver que não fiz o que deveria ter feito, que não consegui ser eu mesmo em grande parte de minha vida. Aí não haverá nem mesmo descanso. Deus não quer amargurados no Paraíso.

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