sábado, 2 de maio de 2020

O grande perigo de nossas vidas


          José Ortega y Gasset afirmava que a vida é sacrifício, que as criações da civilização demandaram enorme esforços, muitos erros e poucos acertos.
          Isto significa que viver é arriscar-se, não necessariamente na sua dimensão física, mas de frustrar-se com o fracasso de ações e planos para além das possibilidades.
          Chesterton provavelmente concordaria com o seu contemporâneo filósofo espanhol.
          O homem que buscar evitar demasiadamente os riscos amputa seu viver.
          Porque se a vida é sacrifício, isto significa que nada é feito sem esforço, e todo o esforço abre a possibilidade do erro.
          Quanto maior o esforço necessário a uma conquista, maior a chance do erro; quanto mais se estica uma corda, maior a chance de arrebenta-la
          Os que almejam a segurança almejam a fantasia, porque a segurança não existe. Ter um trabalho exige esforço, e nada garante que uma crise não o faça perde-lo; ter uma família exige abdicar de liberdades, e nada garante que seus queridos chegarão a salvos em casa depois de uma viagem; praticar um exercício exige suor, e nada garante que em algum momento o músculo relaxará sem dor.
          Pois aqueles que preferem uma vida sem tais perigos escolheram não viver, escolheram abdicar da vida mesma como a criança que se recusa a sair do útero da mãe.
          A criança que não nasce morre afogada no líquido que a alimenta; quem se recusar a enfrentar os perigos da vida morre sufocado na própria segurança, porque quem não arrisca já está morto mesmo que não saiba.

Nenhum comentário:

Postar um comentário