Logo nas primeiras páginas de suas memórias, Irmã Lúcia de Fátima descreve a personalidade da pequena Jacinta Marto (1910 - 1920), sua prima que, junto com Lúcia e Francisco Marto, presenciaram as aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria em 1917.
Impressiona a simplicidade e a força da pequena Jacinta, então com sete anos. Segundo Lúcia, Jacinta era muito melindrosa e demonstrava ter grande sensibilidade emocional.
Pois foi com esta sensibilidade que Jacinta se dispôs ao sacrifício como ninguém. Ela "parecia insaciável na prática do sacrifício", diz Lúcia, principalmente depois que os três pastorinhos tiveram uma breve e intensa visão do inferno na aparição de 13 de julho.
Após o pedido de Nossa Senhora em 13 de maio, em tudo ela queria se sacrificar pelos pecadores e buscava meios de fazer sacrifícios pela conversão deles.
Certa vez, quando ela e Lúcia foram pastorear as ovelhas da família, Jacinta decidiu por entregar seu almoço a um grupo de pobres pedintes no caminho para o campo, e logo eles passaram a esperar as duas todos os dias para receber alimento. Um ato de sacrifício pelos pecadores.
E a situação se repetia: recusou-se a beber água oferecida por Lúcia num dia de calor intenso, suportou a gritaria e a dor de cabeça provocada por grilos e rãs no campo onde pastoreavam as ovelhas, transformou o choro em oração quando ela, Lúcia e Francisco passaram a noite na cadeia de Ourém sob pressão das autoridades locais antes da aparição de agosto.
Tudo em sacrifício pelos pecadores, mas também ao Papa e a Jesus. Tudo pelos pedidos de Nossa Senhora. E assim deveria ser, sem questionar, sem entender, apenas crer.
Sua sensibilidade e extrema simplicidade com que concebia as coisas de Deus permitiram a Jacinta sublimar esta sensibilidade em coisas práticas do cotidiano, transformando a dor em graça para si e para os outros. Ou, como se diz nos dias de hoje, fazia do limão uma limonada.
Impressiona a força e a disposição da pequena santa em vencer a si mesma, porque em seu lugar muitas outras pessoas não só reclamariam como também não aceitariam tais contratempos.
A caminhada para o Céu é longa para aqueles que não o vislumbram. Jacinta era simples e humilde o suficiente para não colocar obstáculos entre ela e a vontade divina manifesta em Nossa Senhora, e por isto mesmo bastaram apenas dez anos para que ela alcançasse o Céu. Sua sensibilidade era um tempero, um elemento que ela escolheu utilizar para subir ao Alto e não para se fechar em sua murmuração.
Para os que não concebem a realidade como Jacinta concebia, o Céu parece muito distante. Mas ledo engano: nós já vivemos em meio ao Paraíso, cercados por Deus, seus anjos e santos. "Nele nos movemos, somos e existimos", ensinava o Apóstolo Paulo.
A diferença é que escolhemos falsos atalhos em caminhos tortuosos que fazem o Paraíso ao lado parecer tão distante quanto as estrelas estão acima de nossas cabeças.
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