sábado, 9 de maio de 2020

O dilema dos impostos


          A existência daquilo que chamamos de "serviços públicos" depende, obviamente, que alguém os execute e que haja não só recursos para os salários como para a criação de uma infraestrutura e uma máquina burocrática que funcione.
          O problema é que a grande maioria não decidiu por estes serviços e nem mesmo sabe a razão deles terem tido um início num dado momento.
          Nascemos num mundo onde as coisas, por assim dizer, "estão aí", e teríamos de ter razões suficientes para modificar a mentalidade atual e remover o que foi criado.
          Se não pedimos tais intervenções na vida pública e, portanto, na nossa, por que temos de prestar contas a elas? E prestar contas aqui é, literalmente, pagar por sua existência.
          O cidadão comum vive um dilema ético e prático: não vê razão imediata para não pagar os impostos, mas também não decidiu pela existência dos serviços públicos e de seu custo. Apenas os paga esperando um retorno. E ponto final.
          Por isto pode ser feito um paralelo entre o imposto e uma multa com a diferença, bem observada por Chesterton, de que o imposto é muito mais alto.
          Ademais, o primeiro não é escolhido desde o princípio e o segundo é a punição por uma ilegalidade deliberada. A questão que fica é: que crime cometemos para que fôssemos obrigado a pagar impostos?
          Para complicar a situação, se quiséssemos o real fim dos custos o mesmo deveria ser decidido acerca do uso dos serviços.
          Na era moderna, onde a sociedade se tornou complexa e altamente burocratizada, resta saber até que ponto estamos dispostos a nos render por supostos benefícios estatais ou aceitar estes benefícios que exigem uma cobrança não previamente questionada.
          A tensão entre a liberdade de usar os próprios recursos e o uso destes mesmos recursos por meios mais custosos é uma equação que só pode ser equilibrada por um maior senso de responsabilidade. E esta responsabilidade é inseparável das consequências de se decidir sobre o próprio futuro.

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