domingo, 26 de abril de 2020

A impiedosa fé na política


          Uma sociedade que se preocupa excessivamente com a política se afastou do plano da transcendência. Porque a política é essencialmente imanente, depende de uma ordem objetiva e uma estrutura cujas leis obedecem ao mundo e ignoram o plano espiritual.

          A fé na política é inevitável quando esta toma grandes proporções, quando procura tudo legislar. Por consequência, as pessoas são forçadas a reagir, de forma favorável ou contrária ao poder estabelecido, engendrando-as no jogo político.

          A era moderna piorou muito esta situação porque ela gerou a técnica, e a técnica progride numa complexidade crescente. Esta complexidade exige novas normas e leis, que se multiplicam na medida em que a sociedade se torna mais complexa. Cresce, portanto, a máquina de poder do Estado que a todo o instante tenta tapar o buraco por uma nova realidade ainda não regulada.

          Mais Estado, mais legislação, mais restrição às liberdades em nome destas mesmas liberdades.

          Engolfadas nas disputas ideológicas e em planos de poder frequentemente confusos, as pessoas não sabem de onde vêm as decisões que impactam suas vidas ao mesmo tempo em que são obrigadas a lidar com elas, de impostos à máquina eleitoreira das eleições. 

          Como resultado, todos se veem impelidos, em algum grau, a se comprometerem em opinar e se posicionar no jogo de poder.

          Bastava acessar a internet para ver que ninguém ficou à parte do recente conflito entre o agora ex-ministro Sérgio Moro e o presidente Jair Bolsonaro. Este é mais um caso de como a política tomou proporções nunca antes vistas. 

          Todos têm algo a dizer (ou se sentem na obrigação de dizer) porque sabem que, de alguma forma, isto pode impactar suas vidas, mesmo sem entender como. Junto com o crescente poder político, cresce também o império da opinião.

          No fundo, esta luta é de ordem espiritual. Não porque por detrás de tudo isto estejam anjos e demônios. Não. Mas porque, ao darmos excessiva relevância às coisas do mundo, esquecemos que a fé deve ser depositada em Cristo e não em César. Nenhuma autoridade nos fará feliz. Nenhuma.

          Do contrário, seremos impiedosamente esmagados pela máquina que rege a política. Na lógica do mundo não há perdão.

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