Na medida em que governos e pessoas em geral começam a dar os primeiros passos para o retorno gradual ao cotidiano, os famosos especialistas e intelectuais começam a aparecer na imprensa para tentar responder como será o "mundo pós-pandemia".
A pergunta crucial é: sairemos melhores desta crise? Minha resposta é simples: não sei. Mas a oportunidade foi dada.
Quando o arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, anunciou, em vinte de março, que as missas públicas na Arquidiocese deveriam ser suspensas para evitar a contaminação da população pelo coronavírus, sua Nota Oficial dizia que a "pandemia não foi querida por Deus, mas por Ele permitida".
Apesar de discordar da atitude do arcebispo (questão que não vem ao caso discutir aqui), desde então esta frase me acompanhou todos os dias. Se Deus permitiu isto, por quê? Ou, dizendo melhor: se Deus permitiu isto, para quê?
Esta pergunta é a mais correta, porque a razão das coisas não está em questionar seu sentido, mas em sua finalidade real possível. Retomo aqui a máxima de Viktor Frankl que já citei tantas vezes: não devemos nos perguntar o sentido da vida, e sim que sentido nós damos a ela.
Se a epidemia matou milhares de pessoas e parou praticamente todo o mundo, há algo a aprender com isso, e este aprendizado está na resposta que temos de dar ao novo cotidiano que se impôs ou que escolhemos impor a nós mesmos.
Ademais, lembremos também da quantidade de crimes, trapaças, conflitos, problemas, pecados e toda a sorte de desgraças que foram temporariamente evitados com a paralisia do mundo. Não seria melhor retornarmos à normalidade sem estes erros passados?
Portanto, sobre sermos pessoas melhores, a pergunta que fica é: o que eu devo fazer para sair desta crise melhor do que entrei? Por isto não tenho resposta para a pergunta, talvez nem para mim mesmo.
Menos ainda sobre os desdobramentos políticos, econômicos, sociais e geopolíticos mundo afora. Haverá, sim, respostas das autoridades em todos estes campos, e como todo o poder político esta resposta também dependerá de decisões sobre como responder a nova realidade. Ao contrário do que parece, as autoridades públicas não são entidades com vidas próprias, e sim pessoas com liberdade de decisão.
A diferença começa em casa, na casa interior. Se sairemos melhor desta epidemia será porque respondemos melhor ao desafio que se impôs desde fora. E os responsáveis por esta resposta serão unicamente nós mesmos.
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