Na grande maioria dos locais afetados pelas altas temperaturas, o calor vem acompanhado de umidade e ambos criam o mais conhecido e vital dos fenômenos atmosféricos: a chuva.
Primeiro brotam aqueles pequenos algodãozinhos no fundo azul que sinalizam os efeitos do sol forte e do calor. Em seguida, seu volume cresce, e se pudéssemos gravar com os olhos o que as técnicas modernas de filmagem permitem contemplar, veríamos múltiplos borbulhamentos de vapor como se as bolhas de algodão crescessem e se multiplicassem dando enorme volume à pequena almofada flutuante.
Um olhar atento por debaixo dessas nuvens - que os meteorologistas batizaram de cumulus - permite notar, com a devida calma e paciência, o movimento do vapor d'água, lento à distância mas turbulento nas alturas. Estirar o corpo sobre a grama e fixar o olhar na vertical as nuvens que anunciam a chegada da chuva são uma boa forma para captar o que uma rápida olhada jamais poderá notar.
Quando a nuvem ganha o corpo de uma couve-flor - que os meteorologias classificam como cumulus congestus -, está pronta a receita para seu próprio peso se derramar em água e liberar os primeiros raios devolvendo à terra o que o calor lhe tirou sem pedir licença. Mas quando o pequeno algodãozinho não pode mais crescer e se esparrama num teto invisível - e é nesse momento que os meteorologistas dão à nuvem sua classificação mais famosa, cumulonimbus - então temos o pacote completo de surpresas atmosféricas: água em abundância, luzes por vezes ativas como um estroboscópio ligado na alta voltagem, sons que anunciam a chegada de uma autoridade importante e até mesmo o rufar dos ventos que, em alguns momentos, ultrapassam o mero conceito de "beleza" e se transforma em beleza destruidora.
Existe um diálogo divino entre a nuvem que cresce e a pessoa que a admira. Certa vez, em dezembro do ano 2000, eu estava no campus de minha faculdade, e pude presenciar, com ânimo e admiração, o momento em que uma chuva de verão desabou sobre o local. Andei entusiasmado pelo do corredor coberto que abria espaço por entre os baixos edifícios e me acheguei ao corrimão de metal pintado de amarelo que dava fim ao meu trajeto e início à vastidão verde morro acima. Olhava claramente os pingos grossos caindo de forma intensa em contraste com o fundo recheado por uma densa mata nativa. Era bonito demais notar a beleza, a ordem e a dinâmica viva de um céu que desaguava suas bênçãos para quem era capaz de enxergá-las. Expressei meu maravilhamento como uma amiga que me acompanhava e que também admirava a chuva como se compartilhasse do mesmo diálogo que o meu.
O maravilhamento tem a capacidade de imprimir na alma uma marca inexpugnável, mais impactante e profunda do que a marca de ferro em brasa. É a atitude de se deixar impregnar, mas não de se deixar levar pelo mundo, porque é a chuva que passa, mas experiência nos desperta e se integra à nossa personalidade. Por isso se engana quem pensa que o primeiro Evangelho escrito está na Bíblia. Não, ele se encontra na própria Criação, que forneceu os elementos necessários para que a alma fosse preparada para receber a Palavra de fato.