terça-feira, 19 de outubro de 2021

Dia 18 de outubro de 2021

 

          Uma coisa aprendi no Facebook: sempre, sempre, sempre e sempre que uma pessoa vem lhe atacar no seu próprio perfil, é você que vai se dar mal caso resolva tentar engatar uma conversa diplomática ou colocar panos quentes. No final da contas, você será o ofendido e ainda parecerá culpado perante os outros, que lhe julgarão ser o vilão, acabando você mesmo por pagar a conta de toda a confusão, desde a irritação à perda de "amizades". Sei disso por experiência própria.

          As redes sociais têm esse problema por duas razões: primeiro, elas são uma arena pública onde diversos "espaços" se cruzam e se sobrepõem numa forma única, sendo eles extensões dos espaços reais. Por exemplo: dar opinião sobre política revela sua posição não apenas para os amigos, mas também para o chefe do trabalho. É como se você estivesse revelando o que você pensa ao mesmo tempo numa roda de amizade e no seu escritório e arcando as devidas consequências do ato.

          Segundo, a palavra escrita tem mais impacto do que a palavra falada. O que é escrito é pensado, e se alguém lhe ofende, salvo grande ignorância ou uma infeliz combinação de significados mal compreendidos, provavelmente é de caso pensado. Falar de cabeça quente é como correr contra o tempo para vomitar o que a adrenalina ansiosamente impulsiona para fora, mas escrever de cabeça quente é imprimir a raiva visualmente nas palavras, que necessitam de raciocínio para serem impressas e que não desaparecem na expansão de ondas invisíveis. É a figura que emana, para utilizar a linguagem moderninha, "energia negativa", é o signo que não deixa dúvidas quanto ao significado. Nesse caso, a coisa é mais séria.

          Esta materialização através de um texto pensado é o peso definitivo. Se alguém lhe critica no seu próprio espaço e lhe ofende, pormenorizar com essa conduta é sinal de que a agressividade tem permissão para perdurar chancelando para que outros que pensam assim façam o mesmo ou aprovem a conduta. Em outras palavras, você não apenas é ofendido como se torna público, deliberado e materializado o coro dos que lhe repudiam, transformando-o na vítima não apenas de uma, mas de muitas pessoas. O diálogo nessas condições equivale a luta no ringue na proporção de dez contra um, cuja vitória tem um final previsível.  

          Além de vítima, você ainda leva a culpa pela opressão no número, que se auto legitima pela simples quantidade numérica, e nenhum dos presentes no ringue virtual lhe verá na rua, esse espaço real composto por coisas substantivas, como o sujeito que foi assaltado e acabou com o olho roxo, mas como o filho da mãe que ousou dar uma opinião que foi interpretada como "ofensiva". Na vida real, você se torna pária, e seus "amigos" - ou mesmo sua família e colega profissionais - deixam de ser os mesmos de dois dias atrás. O virtual tem consequência muito mais reais ou duradouras do que se imagina.

          Não surpreende, portanto, que na era das tais redes sociais o rancor e a divisão tomem proporções nunca antes vistas, porque tanto o rancor quanto a divisão se tornam concretas impregnam todos os espaços reais que no mundo virtual estão sobrepostos simultaneamente. 

          Existem apenas dois remédios para isso: ou se abster de falar qualquer coisa que os jornalistas tacham, no alto de seu QI 12, de "polêmica", ou perdoar solenemente o próximo, esse pobre coitado que lhe aponta o dedo na cara ao mesmo tempo em que arrota "empatia" e "diversidade". Mas quem não opta pelo silêncio embasado desde o Artigo 5º da Constituição até o princípio do livre-arbítrio humano enunciado no Gênesis e não está disposto a tomar porrada de graça, existem dois recursos bastante diretos. Um é o firme desmascaramento público da pessoa que acredita que a discussão pública se dá na ponta do fuzil e que distância física lhe confere salvo-conduto para ataques sem consequências cara a cara; outro é uma simples ferramenta que ditadores sempre lançaram contra pessoas reais, mas que no ataque verbal não fere ninguém e ainda lhe dá um escudo invisível e eficaz contra ameaças à sua integridade e caráter: o bloqueio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário