"O amor não é cego; cegueira é a última coisa que se lhe pode atribuir.
O amor ata; e tanto mais atado quanto menos cego."
(G. K. Chesterton, em "Ortodoxia")
Dizer que "o amor é cego" é apenas modo de falar para enfatizar que aquele que ama não se importa primordialmente com os defeitos do amado.
O amor diminui a relevância destes defeitos na medida em que eles fazem parte da pessoa, e justamente por isto ele não é cego; pelo contrário: perscruta o amado com a finalidade de encontrar os meios de unir-se a ele apesar de seus defeitos.
E quanto mais intensa é a união, mais atento é o amor aos defeitos alheios para melhor integrá-los na dinâmica da relação a dois. Por isto, nesta passagem de seu livro "Ortodoxia", Chesterton afirma que o amor quanto mais consegue atar as pessoas menos cego ele é.
Esta unidade advinda do amor tem um fundamento divino. Deus, o Infinito, puro Amor, abrange, por definição, todas as coisas. "Nele vivemos, nos movemos e existimos" (At 17,28), diz o Apóstolo São Paulo.
Há uma integração perfeita, um contínuo entre Deus e a existência, uma união que se dá pela estrutura da realidade mesma. A Criação é um livro aberto que mostra o amor em sua concretude.
Dizer "eu te amo" é dizer "eu quero ser um contigo", e tal atitude consuma-se na presença física, no compartilhamento de experiências e sentimentos, na criação de uma nova vida conjugada pelo pai e pela mãe.
Não pode haver cegueira onde tudo está unido. O cego é, na verdade, o que não ama, porque decide por afastar-se do fundamento maior que integra todas as coisas dispersando-se no seu erro.
Por isto a única dimensão onde reina a ausência do amor é o fogo eterno, onde tudo está deformado, desintegrado e disperso, e que não por acaso é chamado de trevas, a cegueira absoluta.
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