"A literatura clássica e imortal faz a sua melhor obra ao nos lembrar perpetuamente
da verdade completa e contrabalançar ideias outras, mais antigas,
com ideias às quais por um momento podemos estar propensos."
(G. K. Chesterton, em "O Essencial de Chesterton")
A literatura clássica recebe este carimbo por ser capaz de ressoar em todas as épocas e lugares.
Esta qualidade é possível graças à penetração que realiza, pela ótica de uma cultura específica, na alma humana, que é comum à humanidade inteira.
Por isto ela é, como bem nos lembra Chesterton nesta passagem, imortal. Mesmo que "morra" por algumas gerações, ela pode voltar num futuro indeterminado, porque sua melodia narrada é capaz de encontrar morada nos homens do porvir, tão iguais quanto nós em sua natureza.
Sua imortalidade só é possível porque revela traços essenciais desta natureza. Nos apresenta uma verdade que, justamente por ser verdade, não podemos escapar.
Mas, ao mesmo tempo, a literatura clássica também nos apresenta ideias novas que, no fundo, não são novas verdades, mas diferentes percepções acerca dela. Mantém-se a beleza fundamental da ordem suprema; mas muda a lente que a filtra, seja em seu modelo inglês ou brasileiro, italino ou russo, do século XIV ou XIX, todos com os pés fincados na Criação, ao mesmo tempo mutável e imutável tal qual nossa essência e nossas culturas.
Porque o que é permanente não muda; muda, isto sim, a cultura, o olhar da pessoa, a linguagem, a perspectiva de nossa história. O impacto e o legado dos grandes homens das letras permanecem, porque mergulham por sob as muralhas que dividem os homens na babel das civilizações.
Chesterton é um destes homens capazes de revelar coisas fundamentais de nossa vida, de nossa realidade. Do contrário, pouco interesse despertaria hoje; seria arrastado por seu microcosmo regional e dissolvido pelo ciclo do tempo.
Nossa lembrança de sua obra não é apenas por seu estilo, mas porque ele tem muito a nos dizer sobre nós mesmos.
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