"Quando definimos e isolamos a coisa má, as cores de todas as outras coisas são reavivadas. Quando as coisas más são definidas como tal, as coisas boas, então, tornam-se também distintas.
Há homens que são tristes porque não acreditam em Deus; mas há outros que são muito mais
tristes porque não acreditam no Diabo." (G. K. Chesterton)
Nesta passagem impactante, Chesterton está definindo as coisas da realidade por contraste, mais especificamente o Bem e o Mal.
É característico da percepção humana ver as coisas desta forma. Por que podemos falar da existência do belo? Porque há o feio. Por que sabemos identificar a luz? Porque há a escuridão. E por que sabemos que somos homem ou mulher? Porque há mulher e homem.
As pessoas que têm profunda experiência das coisas do Mal, seja no plano físico, na vivência social ou no plano espiritual, conseguem vislumbrar o seu oposto, o Bem, fonte de toda a luz.
E por isto mesmo o Mal é perceptível, porque a luz o ilumina e o define.
O Mal é difinível não só por contraste com o Bem como por sua limitação intrínseca. Se temos a experiência do Mal e a ele não sucumbimos é porque estamos sustentados por uma condição, estrutura ou força que nos mantém de pé.
O Mal se manifesta, portanto, dentro da dimensão incomensurável do Bem apontando, por contraste, o caminho que o homem deve seguir. E por sua condição inerentemente boa, por seu senso de realidade que lhe é quase instintivo, o homem intui para que lado pender nesta ordem definida.
Por isto o Mal exalta as cores de todas as coisas, porque sua ecuridão torna latente o brilho de seu entorno. Da mesma forma, o diabo exalta a beleza e veracidade de Deus, porque expõe a sua feiúra e falsidade.
E por isto que o homem que descrê no diabo não pode ser alegrar com o Deus da verdadeira luz. É da condição humana ser limitado e, portanto, necessitado do contraste para conhecer o Bem. Não seria possível contemplar a luz divina num clarão difuso. Temos de ver a fonte.
Não podemos ver o Bem absoluto da mesma forma que não podemos suportar o Mal absoluto. Quem percebe que o diabo existe e age descobre, por uma pedagogia misteriosa e redentora, que há sempre uma força deliberada, uma vontade, um Senhor que nos sustenta para que não precipitemos no abismo.
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