Nos dois últimos dias tentei, em vão, colocar neste espaço alguns assuntos do momento de forma clara e direta. Mas eis que fui travado por um mal brasileiro: o de falar sem saber. Nada é mais inútil e nada semeia mais confusão e ignorância do que falar sobre o que não se sabe ou se sabe muito pouco.
Toda a escrita, bem como toda a palavra falada, depende de um domínio pleno e seguro da palavra mesma. Porque a palavra é a expressão de uma realidade apreendida, e quando falta apreensão de realidade que se deseja expressar, seja por não a ter vivido, seja por não a ter estudado, a palavra sai vazia, sem substância. Seu efeito nada mais é do que de comunicar algo que não é real, mas a impressão puramente subjetiva de seu autor. Transmite-se não o real, mas o "acho que".
Daí a importância de se falar apenas o que se sabe. Do contrário, a palavra terá o impacto apenas segundo o desejo daquele que a expressa, impondo sua visão de mundo ao outro ou gerando confusão. A tirania é traço característica da ignorância, e por isto mesmo o ignorante de posse de certezas é tão intolerante.
A situação é ainda mais trágica quando se tratam de narrativas. Ao ligarmos a televisão logo somos inundados por narrativas em uníssono em todos os canais sobre "racismo", "preconceito", "pandemia", "mudanças climáticas" e assim por diante. O problema é que estes conceitos são abstrações e não realidades em si mesmas. O espectador, incapaz de ver a pandemia, ouvir o racismo ou identificar a mudanças climáticas acaba por apreender não o que realmente está acontecendo, mas o que os jornalistas querem que você apreenda com base pura e simplesmente no que estão falando.
Não importa se as "mudanças climáticas" existem ou se a pandemia é a maior tragédia da História humana; importa que ambas simplesmente existem e são, portanto, inquestionáveis, mas não pela existências em si, e sim por sua repetição exaustiva. Em outras palavras, o domínio da narrativa cria uma realidade paralela como se fosse a realidade mesma, que por efeito retroativo é identificado, ao exemplo do derretimento das geleiras nas montanhas e da contagem diária de mortos pelo covid 19, como algo tão concreto quanto o telhado de sua casa.
Isto é o que Eric Voegelin chamava de segunda realidade: o sujeito concebe uma visão de mundo que não condiz com o mundo real e tenta enquadrar o que vê segundo sua visão. Um dia de calor é "mudança climática", uma crítica a um estilo de vestimenta é "preconceito", a preferência pela alemoa de olhos azuis é "racismo".
Não importa o que você diga da realidade vivida. No mundo atual, onde o que importa é a opinião, a mera abstração ou a impressão subjetiva, se impõe não o que mais sabe, mas aquele que é mais astuto, mais esperto, mais malicioso. E de preferência quem tem mais dinheiro para financiar ativistas, acadêmicos e meios de comunicação para fazer do mundo um laboratório de engenharia social ao ritmo de sua próprias palavras.
É necessário prudência, humildade e muito estudo. Não por acaso Deus nos deus dois olhos, dois ouvidos e apenas uma boca para falar.
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