segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Moral e religião

"Uma pessoa que tem moral mas não tem religião é como uma pessoa apoiada só numa perna." (G. K. Chesterton, em "O Sobrenatural é Natural")

          Há quem diga que a pessoa pode ser boa e, portanto, ser moralmente correta sem ter religião alguma ou ser ateia, bem como há quem diga o contrário, que não é possível ser bom ser ter religião ou acreditar em Deus.

          O importante aqui é lembrar que o homem é um animal essencialmente religioso; é o único ser consciente em toda a Terra que questiona-se sobre o seu destino transcendente e age sob esta perspectiva.

          Isto também vale para o ateu, que age sob a perspectiva de que o homem finda com sua morte biológica. Isto também é um atitude religiosa, porém de fechamento para o mistério.

          Como mostra esta passagem, Chesterton inclina-se à posição de que a pessoa pode ter moral sem religião, talvez possa ser boa também, mas sua condição enquanto homem mostra-se amputada da plenitude do ser, negando a própria condição que lhe permite ser não religioso.

          Mas a situação se complica quando advoga-se uma moral sem religião. Perdida a referência do transcendente, o homem não religioso continua sendo uma animal religioso, continua a buscar, mesmo que negue ou não perceba, uma resposta para o mistério da vida.

          No lugar de Deus e do Absoluto ergue-se um novo deus, um novo parâmetro moldado segundo os arbítrios de desejos humanos, um bezerro de ouro que dita as novas condutas.

          Mesmo as derivações seculares do cristianismo caem neste perigo. A imanentização da igualdade perante Deus nos regimes democráticos é um exemplo. Hoje, vemos as democracias degenerarem no crescimento do poder político que visa inculcar no cidadão novas formas de conduta de raça, sexo, grupos social ou seja lá o que for em nome da "igualdade" e da "liberdade".

          Prescindido da religião, a moral ergue-se sobre pés de barro. "Se Deus não existe, tudo é permitido", disse Dostoiévski. Chesterton foi apenas mais sutil ao dizer que, abandonando a Deus, corremos o risco de nos desequilibrarmos e cairmos no caos niilista alertado e previsto por seu colega russo.

Um comentário:

  1. A pessoa pode ser religiosa sem seguir um credo religioso. Religião quer dizer religação. Cada um se religa a Deus como quiser. A melhor religação é a prática do bem. Ninguém precisa pertencer a uma religião estruturada. Aliás, tem tanta gente com religião que deixa tanto a desejar. Só tem rótulo.

    ResponderExcluir