segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Janelas para o Céu

 "O segredo de todas as janelas, especialmente das janelas góticas, é o de que até a luz é mais divina dentro de limites; e o de que até aquele que brilha é mais brilhante quando toma sobre si uma forma." (G. K. Chesterton, em "A Nova Jerusalém", 1920)

          Há uma tensão permanente entre a grandeza de Deus e a pequenez do homem que está justamente na desproporção entre ambos: o homem não pode abarcar a Deus, que sempre escapa à sua compreensão e mesmo visão do que Ele possa ser.

          Esta imensidão transparece nas majestosas catedrais góticas, monumentos à grandeza, ordem e beleza divinas.

          Sua escuridão interior, um covite ao recolhimento da alma que se volta ao alto ao contemplar o elevado teto da nave, é rompido pela luz que entra pelas janelas e vitrais.

          Eis que Deus toma forma e se apresenta ao homem em seu interior. Feixes de luz rasgam a escuridão, tão característica de um mundo desconhecido aos olhos humanos, e iluminam a alma que contempla o Alto.

          É muito mais conveniente ao homem ver Deus em formas do que na imensidão abstrata da luz; da mesma forma, é conveniente ver o amor de Deus em pequenos sinais da providência do que descobrir Seu amor no sentido genérico da palavra ou em "sentimentos" que muitas vezes não sabemos distinguir em nossa alma confusa.

          O que Chesterton nos traz nesta passagem é justamente isto: a luz, associada diretamente a Deus desde o princípio da Criação, é mais divina dentro de limites.

          Ele é mais divino quando adquire forma pois só Sua onipotência seria capaz de transformar o infinito em algo visualmente limitado. A limitação de Deus em formas é prova de sua veracidade enquanto Deus.

          Afinal, não foi um Ser infinito que se tornou homem? Como pode o homem, limitado por excelência, ser infinito? Deus pode, e o fato desta Pessoa ser assim é prova de que Ele é Deus.

          Manifestar-se no mundo limitado é mais característico do pode divino do que Sua capacidade de formar galáxias e um Universo inteiro.

          Não fosse Deus tomar forma, e Seu brilho seria menos visível; não fosse a janela a dar forma à luz, e ela seria menos perceptível.

          Da mesma forma, não fosse alguém com habilidade como Chesterton a dar ordem às palavras desta passagem, e talvez não percebêssemos o quão bom é um Deus que se limita para se fazer ver e alcançar o coração humano.

          Divino é tudo o que é belo dentro dos limites do mundo.

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