domingo, 23 de agosto de 2020

Os frutos da boa literatura

 

(Estátua de Dante Alighieri em Nápoles.)

"A boa literatura pode nos revelar a inteligência de um homem; mas a má literatura nos mostra a inteligência de muitos homens."(G. K. Chesterton)

          A inteligência é um elemento presente individualmente em cada pessoa. Ela não é coletiva; pode ser desenvolvida com auxílio de outras pessoas, mas entender as coisas depende da cognição, a capacidade de apreender a realidade.

          Bons escritores expressam a realidade filtrada por seu olhar. Ainda que apresentem um ponto de vista (afinal, as palavras humanas não podem apreender a totalidade dos acontecimentos), elas expressam algo real que pode ser reconhecido por qualquer pessoa em qualquer lugar.

          Cícero, Dante, Dostoiévski, Mann e Chesterton quando lidos ao redor do mundo são compreendidos, apesar das variações de traduções, de forma mais ou menos semelhantes porque falam de uma realidade profunda comum a todos.

          Os clássicos são obras de gênios ou pessoas inspiradas que aguçaram a inteligência, este traço essencialmente individual.

          Mas quando a literatura é ruim, para não dizer má, ela expressa não apenas a inteligência de seu autor, mas de muitos outros, que vêem na má obra não o mundo como é, mas como gostariam de ver.

          Desde as obras produzidas para inundar as livrarias com estorinhas do momento e as editoras de dinheiro, até aquelas que pervertem o pensamento, a má literatura congrega todos os que se sentem seguros em participar da mesma massa evitando confrontar o mundo real e, portanto, as próprias vidas.

          É como a multidão que acorre às praias porque todo mundo acorre às praias. Muitos não sabem porque estão lá, mas vão porque outros vão fazendo com que todos, ao mesmo tempo, façam a mesma coisa e vejam com estranheza quem não comunga do mesmo desejo.

          Mas praias à parte, Chesterton revela nesta passagem que a inteligência é um atributo pessoal e que, portanto, chama à responsabilidade.

          É fácil empreender para agradar às multidões, independente dos efeitos deletérios que uma literatura para fins comerciais ou ativista possa ter; difícil é arcar com a responsabilidade de que cada página, linha ou palavra escrita terá no coração do próximo.

          O fruto da boa literatura é o surgimento de boas ações e boas pessoas.

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