(A vida possui muitas "pergunta cruciais", aquelas cuja resposta depende de um profundo esforço pessoal e fazem a diferença quando encontradas. Na foto: Biblioteca Nacional da República Tcheca, em Praga.)
O tema da aula era a relação entre estudo e conhecimento. Luiz Gonzaga inicia sua apresentação diferenciando quatro tipos de conhecimento: aquele que utilizamos para fins meramente objetivos, como escovar os dentes, dirigir um carro, passar num concurso, etc; o que exige um aperfeiçoamento periódico, como aquele buscado por médicos, professores, cientistas, etc, preocupados em melhorar sua vida profissional; o conhecimento que é buscado com a finalidade de encontrar uma resposta específica e fazer disso uma carreira para a vida toda, como fazem escritores, filósofos, determinados cientistas empenhados na descoberta de cura para doenças ou o desenvolvimento de determinadas tecnologias; e o conhecimento voltado (este mais raro) para uma completude pessoal, para engrandecer a alma e fazer com que a pessoa sinta-se mais completa como ser humano.
(Segundo Luiz Gonzaga, grande parte do conhecimento é voltado para fins meramente utilitários, no máximo para aperfeiçoar habilidades profissionais.)
(O conhecimento voltado às "perguntas cruciais", às quais determinadas pessoas dedicam toda uma vida a respondê-las, deixa um legado às gerações futuras. Na foto, catedral anglicana de Saint Paul, em Londres: símbolo da cidade, estrutura imponente, bela arquitetura e técnica revolucionária de construção para o século XVI.)
Em grande parte do vídeo Luiz Gonzaga relaciona a capacidade humana de conhecer com a democracia. Neste texto não vem ao caso esta problemática, mas cabe aqui destacar um ponto: uma democracia só é viável, segundo o filósofo, porque há pessoas que são capazes de superar sua mera opinião e testá-la no mundo real, isto é, transformá-la em conhecimento. Nenhum povo pode exercer pressão real sobre seus governantes com o objetivo de melhorar sua condição social se não for capaz de mostrar que sua ideia é melhor do que "aquilo que está aí" e que vai muito além da mera vontade, como vemos nas reivindicações por melhores salários, "mais educação", "mais segurança", etc. Isto pressupõe um meio de alcançar a esfera de poder, já que o governante, por mais ignorante que seja, em algum momento analisou seriamente a possibilidade de como chegar lá, transformando sua mera vontade em realidade de fato. Os governados incapazes de transformar sua opinião em conhecimento consistente sobre um assunto qualquer será sempre tratado pelos governados como crianças. Alguém que, por exemplo, saiba como realmente melhorar o atendimento da saúde pública terá muito mais legitimidade e influência no sistema político do que se fizer apenas barulho reclamando por aquilo que acha que é melhor. Nenhum governo terá a legitimidade necessária para governar se sua ação não for contestada por alguém que realmente conhece os assuntos pertinentes à vida cotidiana dos indivíduos. Não há democracia se não há um número mínimo de pessoas, uma verdadeira aristocracia capaz de apresentar projetos reais para a vida, se não de todas, ao menos da grande maioria das pessoas.
(Uma vida dedicada às "perguntas cruciais" levará ao encontro de "verdades cruciais" que estarão acima da esfera das meras opiniões e ficarão como legado para outras pessoas em diversas esferas da sociedade.)
Viktor Frankl, fundador da logoterapia, fez exatamente esta busca. Ele suportou a prisão nos campos de concentração nazistas porque tinha dois objetivos de vida: reencontrar sua mulher, a qual perdeu contato com a prisão, e continuar seus trabalhos no novo ramo de conhecimento que viria a fundar. Sua mulher morreu num dos campos de concentração, mas sua pesquisa, que veio a desembocar na logoterapia, deu rumo à sua vida. Desconheço as razões que levaram Frankl a continuar atuando na psicologia (talvez seu livro de memórias ajude a responder esta pergunta), mas certamente sua atividade científica era busca por respostas a perguntas que ele antes havia formulado. A prova da veracidade desta busca está no livro Em Busca de Sentido, onde ele explica como o desejo de continuar suas pesquisas na psicologia o motivaram (e deram sentido) a continuar vivo.
(Para Luiz Gonzaga de Carvalho Neto, só é possível responder às "perguntas cruciais" individualmente, e o encontro dessas respostas faz a vida valer à pena.)
Infelizmente há uma segunda parte da aula que não está disponível no Youtube. De qualquer forma esta lição de vida é inspiração para ampliar nossos horizontes e, por que não, legar às pessoas com as quais vivemos respostas que elas gostariam de ter mas são incapazes de possuir. Isto é mais do que ser um aristocrata. É ser bom.