segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Igreja 3: Paróquia São João Bosco

(Igreja da Paróquia São João Bosco, ao lado do Colégio Dom Bosco, visto da Rua Dr. Eduardo Chartier esquina com Rua Américo Vespúcio. Foto de 13 de outubro de 2016.)

No meu último texto sobre as igrejas de Porto Alegre abordei a Paróquia Santa Maria Goretti, no bairro de mesmo nome. Vamos agora à outra igreja, a da Paróquia São João Bosco.

A Paróquia São João Bosco, também conhecida apenas como Dom Bosco, localiza-se no bairro Higienópolis na Zona Norte da cidade. Sua fachada está virada para oeste. A região é plana e baixa, mas a igreja está num terreno levemente elevado a aproximadamente 22 m acima do nível do mar na Rua Dr. Eduardo Chartier esquina com a Rua Mal. Simeão e ao lado do colégio de mesmo nome. Sua origem está vinculada a esta instituição, que é mais antiga.

Colégio Salesiano Dom Bosco foi fundado pelo padre salesiano José Mássimi, de Rio Grande. Em 1943 o sacerdote conseguiu junto ao então prefeito de Porto Alegre, Loureiro da Silva, a aquisição de um terreno para a construção do atual colégio. A ideia inicial era ocupar todo o atual quarteirão, mas lentamente e com muitas dificuldades o edifício que daria origem à escola foi construído e inaugurado (ainda incompleto) em 19 de março e 1952 com o nome Casa do Pequeno Operário. O nome era uma homenagem ao patrono São José Operário comemorado neste mesmo dia.  

(Vista aérea da Vila IAPI, sem data, onde se destaca a Av. Brasiliano de Moaris. O Colégio Dom Bosco aparece acima à esquerda em forma de "C". O terreno aberto do lado direito do prédio é o terreno da atual igreja.) 

A Paróquia São João Bosco seria criada pouco mais de dez anos depois por um decreto do então Arcebispo Dom Vicente Scherer em 8 de agosto de 1962. Seu território fora desmembrado das paróquias vizinhas Nossa Senhora Auxiliadora, São João Batista e Nossa Senhora de Fátima, no IAPI. Já a inauguração da igreja ocorreu em 23 de setembro do mesmo ano, e o primeiro pároco foi o padre Victor Vicenzi, salesiano e então diretor da Casa do Pequeno Operário. (Cabe notar que um convite para a primeira quermesse da igreja, em 1º e 2 de junho de 1962, com o objetivo de arrecadar fundos para a construção da nova igreja - seria o salão do colégio? - já chamava o local de "paróquia". Isso mostra que que a comunidade já sabia que uma nova paróquia seria criada.)

(Celebração no salão do Colégio Dom Bosco onde funcionou a paróquia de 1969 até provavelmente 2002.*)
  
(Altar construído dentro do salão. Em destaque a imagem de São João Bosco. Reparem nas paredes e na luminária, que não condizem com uma igreja.*)

A sede da nova paróquia não era uma igreja, e sim uma das dependências do colégio. Apenas em 1969 foi fechado um acordo entre as partes para uso do salão da instituição de forma permanente por parte da paróquia, que ficaria com a responsabilidade de fazer sua manutenção. A inauguração do novo local ocorreu em 2 de agosto do mesmo ano pelo então Arcebispo Auxiliar de Porto Alegre Dom Edmundo Kunz. O salão era organizado e ornamentado para a realização da missas com um altar improvisado sobre um palco levemente elevado em relação à multidão, e bancos para assentar várias dezenas de pessoas (pela primeira fotografia acima é difícil fazer um cálculo preciso, mas 200-300 pessoas parece um número razoável).

Depois de muita expectativa, a construção da igreja atual começou a ser planejada no primeiro semestre de 1996 numa reunião com o pároco, o direto do colégio e membros salesianos. Com o apoio financeiro do Reitor-Mor dos salesianos, paroquianos e demais colaboradores, a nova igreja da Paróquia São João Bosco foi construída no terreno baldio ao lado do colégio e foi projetada, segundo o atual pároco, pela arquiteta Rejane Buffon. A inauguração ocorreu em 12 de outubro de 2000 com a presença do Arcebispo Dom Dadeus Grings, 33 sacerdotes e mais de 300 jovens de instituições salesianas do Rio Grande do Sul, o que deixou o prédio lotado. É provável, portanto, que o salão do colégio estivesse ocupado até este ano. A bênção solene do templo apenas em 2002, no dia 24 de maio, com a presença de Dom Dadeus e 18 sacerdotes salesianos numa celebração que lotou a igreja. Esta data foi escolhida por ser dia de comemoração de Nossa Senhora Auxiliadora, padroeira da Congregação Salesiana Dom Bosco.* Nesta época o pároco era Valdir Andreatta, que hoje está em Itajaí, SC.

Durante boa parte de 2016 a igreja permaneceu fechada devido à violenta tempestade que atingiu Porto Alegre na noite de 29 de janeiro. Muitas telhas voaram com a força do vento, a água da chuva penetrou no interior e o gesso que revestia o interior da nave desabou. Durante quase oito meses o edifício passou por reformas e foi reaberto com uma celebração no final do mês de setembro.

(Extremidade da torre com a cruz, ambos de concreto: única expressão explicitamente religiosa na estética da igreja. Pontas de concreto parecem apontar para a cruz. Foto de 26 de setembro de 2016.) 

(Vista da igreja do outro lado da Rua Eduardo Chartier. Mesma data.)

Localizado num terreno ao lado do Colégio Dom Bosco, a paróquia está sob cuidados do pároco Tarcísio Luís Brasil Martins*. Sua igreja tem aspecto de uma grande residência com revestimento de concreto, tinta branca e telhas cinza-escuro, lembrando uma casa germânica (quem souber o estilo arquitetônico, agradeço desde já). Apesar do grande telhado curvado, seu ponto mais alto é a torre com aproximadamente 30 m de altura, que atravessa as telhas e está firmada sobre a escadaria em basalto da fachada. A única representação cristã explícita no exterior é a cruz no alto da torre. De formato retangular, a torre é feita de concreto, pintada totalmente de branco e possui paredes lisas pontiagudas em dois os lados. Olhando com atenção as paredes parecem representar direções para o alto como se apontassem para a cruz (difícil alguém que não é arquiteto definir o estilo e as figuras que supostamente estão ali presentes). Além da cruz há ainda os vitrais em torno da porta de entrada e na face norte da igreja virada para a Rua. Mal. Simeão, mas devido à luminosidade eles são poucos visíveis e apresentam-se escurecidos, não sendo possível identificar à primeira vista suas representações.

Apesar da imponência do edifício e da altura da torres, a igreja não é grande o suficiente para se destacar do entorno, e sua estética secularizada confunde o edifício com as construções no entorno. Na época da fundação do Colégio Dom Bosco e da criação da paróquia, a região onde hoje se encontra o bairro Higienópolis era pouco habitada. O local mais densamente povoado das redondezas era a Vila IAPI, construída nos anos 50. Quando a igreja foi inaugurada em 2002, o colégio já tinha sua feição atual. Sua fachada de três andares encobre o lado sul da igreja, claramente visível apenas há poucos metros de distância e cuja única referência é a torre. Sua visão é parcialmente encoberta pela vegetação, casas e pequenos edifícios no entorno. No lado norte, a partir da Rua. Mal. Simeão, temos a Rua Brigadeiro Oliveira Neri*, cujo traçado em curva faz com que a visão da igreja fique encoberta pelas residências. Além do mais, a estreiteza da Rua Mal. Simeão e o muro nesta lateral impedem uma contemplação de todo o prédio para os pedestres que passam pelo local. Nos fundos da igreja temos uma residência que provavelmente pertence a um pequeno complexo de quadras esportivas do Porto Alegre Tennis.

O relevo aplainado, o edifício do colégio, à malha urbana do bairro e sua estética secularizada (que defini de forma leiga como "grande residência") subtraem da Igreja Dom Bosco sua representação católica e religiosa.

* Agradeço ao padre Tarcísio pela recepção, a observação do livro tombo, o envio por e-mail do breve histórico da paróquia e o esclarecimento sobre sua data de inauguração e bênção solene.

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