sábado, 26 de setembro de 2020

A dimensão sobrenatural do prazer

"O segredo da recuperação dos prazeres naturais reside em considerá-los à luz de um prazer sobrenatural." (G. K. Chesterton, em "São Francisco de Assis")

O que Chesterton chama aqui de "prazeres naturais" nada mais é do que o prazer sensível das coisas simples. Uma boa comida, sentir a brisa batendo no rosto, o descanso e outras atividades que nos dão prazer e alegram a alma graças às satisfações dadas ao corpo.
Os dias de hoje tomaram estes prazeres como o cume da liberdade humana. Ser livre é fazer o que se quer, e ninguém quer aquilo que é ruim e desagradável.
Assim, ao entronizar a opinião como valor supremo, a era pós-moderna acabou por entronizar o desejo e a busca pelo prazer. Deseja-se aquilo é bom, portanto, as opiniões se guiam conforme o prazer daquilo que é desejado.
Opinião e desejo se tornaram os princípios sobre os quais se concebe hoje a liberdade humana. Ser livre tornou-se sinônimo de dizer "acho que" e ficar, não feliz, mas meramente alegre com isso.
É "feliz" aquele que omite uma opinião e acha que tem razão, razão esta confirmada pelo seu desejo que, pensa o homem pós-moderno, coincide com a realidade mesma.
A banalização do desejo na eterna busca pelo prazer leva inevitavelmente ao marasmo e à depressão, não por acaso um mal muito comum em nossos dias.
Chesterton lembra, nesta passagem da obra "São Francisco de Assis", que é a dimensão sobrenatural que dá sentido real aos prezares naturais.
De imediato, porque a dimensão sobrenatural tempera as coisas do mundo, e tudo o que é moderado e bom jamais torna-se enfadonho justamente porque é moderado.
Mas a dimensão dos prazeres eleva-se ao vermos que estes são uma antessala do Paraíso, um gosto de um mundo que nos espera se, entre outras coisas, soubermos moderar as coisas do mundo.
Assim como numa refeição, o apetite do homem, que no fundo é uma ânsia pelo Eterno, não pode ser satisfeito com o prato de entrada. É necessário se resguardar para que, no momento oportuno, ele esteja pronto para o banquete.

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