sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A loucura

 "Um dos mais brilhantes nomes do século dezenove foi o filósofo da onipotência e da supremacia, Nietzsche, e ele morreu em um hospício." (G. K. Chesterton)

          A loucura pode ser definida como o descolamento da pessoa da realidade. No sentido clínico, a mente humana não opera conforme as coisas do mundo real; por exemplo, quando alguém finge ser um pássaro ou agride uma pessoa que ama sem razão alguma.

          Mas nada é mais louco e psicótico do que o delírio de onipotência. O homem que acredita poder fazer qualquer coisa é o que acredita ter o poder divino, de ter comido do fruto da árvore do Paraíso.

          Pois o pecado original é a loucura por excelência. Acreditando poderem se transmutar em Deus, Adão e Eva tomaram posse daquilo que seria a fonte da vida, o fruto da árvore do Bem e do Mal, que daria a eles a capacidade de determinar estes mesmos Bem e Mal.

          Ocorre que a simples existência de um Deus absoluto impede que outro equivalente possa existir. Caso Adão e Eva se tornassem deuses, seriam, no máximo, de uma segunda categoria bem abaixo do Deus verdadeiro que os criou.

          Negando a realidade tal qual ela é, o casal descolou-se do real e alienaram suas almas da Verdade. Enlouqueceram, mesmo que não no sentido clínico, e passaram a bater de frente com a vontade divina, a palavra que sustenta a ordem mesma. Nascia, dessa forma, o pecado original.

          Pois assim como a loucura clínica se define pelo rompimento da mente em relação à realidade, a loucura da alma, tomada aqui em seu sentido espiritual, consiste na separação do homem de Deus e sua consequente incapacidade de viver de forma plena a existência.

          Na era moderna, esta alienação existencial adquiriu formas ideológicas acabadas e estanques, um cientificismo ativista e contaminou toda a cultura da época. A esta distorção Eric Voegelin chamou de "segunda realidade".

          Contaminada por múltiplas mentiras, nossa época jogou o homem na luta eterna contra a primeira realidade, que é a realidade mesma. Em outras palavras, a mentalidade atual, levadas às últimas consequências, leva à loucura patológica, à morte, à guerra e ao genocídio.

          A passagem de Chesterton sobre Nietzsche, o filósofo que afirmou a transvalorização de todos os valores, a reprodução constante de novos princípios sobre os escombros dos antigos, que afirmou o super-homem e, claro, a morte de Deus, deixa-nos a lembrança de onde nos leva o delírio de onipotência.

          Conta-se que Nietzsche, estando em Turim em 1889, atirou-se ao pescoço de um cavalo quando viu seu dono açoitá-lo. O super-homem desmanchou-se ante a agressão a um animal, evento que marcou o adoecimento mental do qual nunca mais se recuperou.

          Nietzsche morreu, mas Deus continua vivo, e para sempre.

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