domingo, 14 de novembro de 2021

Dia 14 de novembro de 2021

 

          Ó, infelicidade essa de ter de se levantar todas as manhãs. Não importa o horário, se seis horas ou onze, meu corpo parece três vezes mais pesado do que realmente é. Não um cansaço, mas uma falta de energia, um desligamento da voltagem que percorre todo o ser de forma simultânea que induz à inércia de ficar estirado sobre o colchão aquecido e já marcado por longas horas de sono. E a vontade, essa potência da alma que não cessa de decidir, luta num jogo de empurra-empurra para ver se vence mais uma maçante batalha contra seu teimoso insubordinado biológico.

          Nesse domingo não foi diferente. Para evitar prolongar demais o sono, despertei às nove e quarenta, mas mesmo com quase oito horas dormidas sentia-me enferrujado e com o peso triplicado. Poderia ter deitado mais cedo na noite anterior, mas a má e velha procrastinação me fez perder mais uma vez a oportunidade de alongar o tempo de descanso e amenizar, mesmo que um pouco, a perda de energia no despertar.

          É claro que a culpa não é do corpo. Nem sou eu um vagabundo. Todas as manhãs há uma motivação: viver. Quando perdida por qualquer motivo que seja, essa motivação, a motivação base de todas as demais motivações - cumprir compromissos diários, trabalhar, ganhar dinheiro, realizar um desejo, cumprir mais uma tarefa no plano de longo prazo, cuidar das crianças, fazer o café da manhã para a família, ir ao banheiro para as necessidades básicas - sucumbem como que numa implosão silenciosa, um edifício feito de isopor mas com peso de chumbo que desaba sobre si mesmo.

          O despertar é a consciência que toma seu lugar no homem que decide sobre si e que tem em seu horizonte o limite de suas decisões. Mas às vezes parece que não queremos decidir por si, esperando supostamente que alguém ou alguma força oculta virá nos socorrer e, magicamente, injetar a força necessária para vitalizar o corpo triplamente pesado. Se não queremos decidir, quem decidirá por nós? Aí está o erro. Na manhã desmotivada jaz o homem que decidiu não viver.

          Todos têm sua luta diária, que se subdivide em vários rounds de socos e pontapés nos contratempos da vida ou por dribles dos mais despertos e audazes quando se está cheio de energia. Há um tempo essa tem sido a minha luta, revirar o corpo para que todos os demais rounds possam ser vencidos.

          Felizmente a alma não se sustenta por si mesma e o sol nasce para todos. 

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