"Estou certo de que não há futuro para o mundo moderno, a menos que ele possa compreender que não tem de simplesmente buscar o que é mais e mais excitante, porém, antes, a tarefa ainda mais excitante de descobrir a excitação em coisas chamadas monótonas."
(G. K. Chesterton, em "Ortodoxia")
O mundo moderno é um gigante de pés de barros que não se sustenta por si mesmo.
Voltado às coisas práticas, este mundo tende a satisfazer constantemente e de forma crescente os desejos humanos, e os desejos são sempre transitórios, frívolos e ávidos por novidades.
Quanto mais satisfazemos nossos desejos, mais rápido a satisfação se esgota e maior a ansiedade por satisfazer um novo desejo brotado no lugar do anterior.
Esta máquina em aceleração em progressão geométrica para satisfazer desejos em sequência não pode sustentar por si mesma.
O estímulo que o mundo moderno dá a este processo leva à subjugação dos princípios que regem a ordem social à vontade individual, inconsistente por definição, cuja consequência é a dissolução do tecido social.
O resultado não pode ser mais evidente: anomia, desorientação e confusão. Em suma, o retrato do mundo atual que, de convulsão em convulsão, se debate ansiosamente por soluções rápidas às crises; que espera que tudo se resolva tão rápido quanto as variações de seus desejos.
A declaração acima de Chesterton apresenta uma resposta e uma fórmula simples à máquina deste mundo que se transforma de forma errática.
Toda e qualquer ordem social, moderna ou tradicional, se sustenta por valores que são perenes, que se mantém (ou deveriam se manter) apesar das mutações sociais em superfície.
Por exemplo: os filhos devem obedecer aos pais, seja com a vida vivida no campo e no trabalho com a família, seja na rotina de ida à escola, onde a escola não é (ou não deveria ser) instituição de substituição aos pais. Esta obediência pode perfeitamente sobreviver tanto à vida tradicional quanto moderna, ficando a modernidade apenas no seu aspecto superficial, como a técnica e a estética, sem afetar seu fundamento mais profundo.
É nessas coisas simples ou, como diz Chesterton, monótonas que se sustenta o mundo moderno, que residem os valores que permitem o sustento de uma ordem social mínima.
Talvez seja possível que o mundo da técnica se firme sobre aquilo que é cotidiano, a vida do lar e do trabalho rotineiro. Porque nem sempre o que é monótono é chato; pode perfeitamente ser alegre a partir do momento em que tomamos consciência de que este mundo tão poderoso e complexo se sustenta em nossos gestos mais simples.
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