"Um homem pode tanto possuir uma religião privada quanto possuir um sol ou uma lua privados."
(G. K. Chesterton, em "Introdução ao Livro de Jó")
Ter uma religião privada é como andar parado ou se molhar a seco. Não faz sentido, é contraditória à definição que temos de "religião", ao menos na concepção cristã.
A palavra "religião" vem de "religare", que nos latim significa ligar de novo, no caso, o homem com Deus.
Ora, na relação com Deus não pode haver dimensão de particularidade, pois Deus é infinito por definição e, portanto, abrange todas as coisas.
Isto implica que nossa relação com Deus impacta necessariamente nossas atitudes para com a totalidade da realidade, desde pessoas passando por plantas e animais, leis e organizações, até chegar a Ele mesmo, o Senhor do Universo.
Portanto, ter uma religião privada seria o mesmo que amputar a própria religião, adotar atitudes diferentes sobre as mesmas questões dentro e fora de casa ou, pior ainda, tratar sua fé como algo específico de si mesmo mas inválido aos outros.
Por isto, a analogia com o sol e a lua nesta afirmação de Chesterton. Não podemos considerar como pessoal algo que é necessariamente universal, não só nos seus princípios, como na dimensão ontológica daquilo que a religião se ocupa: Deus.
A concepção de privatização da religião vem na esteira do processo de secularização, que tem no Estado laico (tomado aqui no sentido ideal) sua expressão mais evidente. E este mesmo Estado, em nome das liberdades de consciência e religião, trata de retirar da vida pública a mesma expressão religiosa que afirma defender.
Na era moderna, somos constantemente lembrados, pela educação castradora, pela arte subjetiva e sem sentido, pela arquitetura anti-espiritual e pelo "pensamento livre" que cada um deve guardar seu sol em casa e nos templos enquanto do lado de fora reina a escuridão.
Hoje é assim. Ao menos por enquanto.
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