"A verdade é que apenas homens para quem a família é sagrada podem atingir um padrão ou parâmetro que lhes permite criticar o Estado." (G. K. Chesterton, em "O Homem Eterno")
quarta-feira, 25 de novembro de 2020
Os críticos legítimos do poder
domingo, 22 de novembro de 2020
Os engenheiros sociais do covid-19
As medidas de contenção da propagação da covid-19 têm algo de no mínimo curioso, pois partindo da perspectiva de que o isolamento social seria uma medida eficaz para essa contenção, prefeitos, governadores, burocratas e jornalistas de plantão apoiaram ações um tanto esquisitas.
Por exemplo: em várias cidades do Brasil, como aqui em Porto Alegre, restringiu-se os horários e o número de ônibus em circulação para desestimular as pessoas saírem de casa e aumentar o isolamento social. Mas quem tinha necessariamente de trabalhar, porque não teve seu estabelecimento fechado por decreto e necessitava simplesmente sobreviver, foi obrigado a esperar horas nas paradas de ônibus e se enfiar numa condução lotada. Realizou-se justamente o contrário do que se desejava evitar.
O mesmo ocorreu no comércio. Na reabertura dos serviços "não essenciais" (eufemismo para quem não depende de negócios "dispensáveis", segundo a cabeça iluminada de governadores, prefeitos e jornalistas), restringiu-se o horário de abertura das lojas para evitar aglomerações.
Ora, se as pessoas não devem se aglomerar, então o horário deveria ser estendido, e não restringido. Deveria ser tomada a medida inversa.
A lógica dos ônibus e das lojas pressupõe que as pessoas tomam decisões com base na limitação de tempo, e não em suas necessidades e vontades pessoais. É exatamente isto a que chamamos de engenharia social, a tentativa de moldar o comportamento da sociedade por medidas administrativas, pressupondo que as decisões pessoais são tomadas em vista do quadro geral da situação.
Mas não: as pessoas tomam decisões com base em necessidades e desejos imediatos dentro de um quadro de conhecimento limitado. O imediatismo cotidiano é o principal fator de peso nas escolhas.
A professora e o médico não deixarão de comprar uma camiseta porque a loja de roupas teve horário de funcionamento reduzido por decreto; eles irão quando a loja estiver aberta. Do contrário, não conseguirão o produto.
Ou por acaso vocês não se recordam de decisão estúpida da prefeitura de São Paulo em bloquear as principais avenidas da cidade para diminuir a circulação de carros e aumentar o isolamento social? As pessoas saíram de casa a trabalho buscando outras vias e engarrafaram as que estavas livres. A genialidade dos fanáticos pela engenharia social é impressionante.
Este é o resultado da combinação de burrice com tirania, combinação que define muito bem o perfil dos auto aclamados engenheiros sociais.
Como a classe política brasileira é estúpida, mas não suicida, a medida inversa foi tomada nas eleições municipais deste ano: estendeu-se o horário de votação para evitar aglomerações dos grupos de risco e supostamente evitar a propagação do covid-19. Medida acertada, mas evidentemente contrária a tudo o que fora feito até então pois, afinal, a extensão do período do votação afetava diretamente a própria classe política.
O que vimos neste 2020, tanto no Brasil quanto no mundo, foi a expansão formidável do poder político no controle das liberdades civis mais fundamentais. É da natureza do poder político crescer indefinidamente para tudo administrar sendo apenas barrado por pressupostos e valores que quase sempre surgem de instâncias não políticas, como a vida religiosa, familiar e comunitária.
A engenharia social do momento força o isolamento das pessoas desmontando o tecido social. O indivíduo se vê isolado perante um poder onipresente e todo poderoso, receoso de ser punido ao buscar contato pessoal com aqueles além de seu círculo familiar imediato, medida que coincide (santa coincidência) com a medidas de prevenção do covid-19.
Mesmo assim, o vírus continua a se espalhar pelo mundo e, claro, os decretos sobre sua vida pessoal também.
quarta-feira, 18 de novembro de 2020
"Querer tudo é não desejar nada"
"Querer tudo é não desejar nada." (G. K. Chesterton)
terça-feira, 17 de novembro de 2020
Por que a Igreja sempre perdoa
"A Igreja não aceita nada, mas perdoa tudo. O mundo aceita tudo, mas não perdoa nada." (G. K. Chesterton)
domingo, 15 de novembro de 2020
O jovem moderno: tijolo para a militância
sexta-feira, 13 de novembro de 2020
O perdão em "Humilhados e Ofendidos"
(Natacha e Vânia representados em filme russo de mesmo nome, 1991)
Pouco posso dizer sobre a obra "Humilhados e Ofendidos", de Dostoiévski, de leitura recém encerrada. O livro foi publicado em 1861, sendo o primeiro do autor após dez anos de exílio na Sibéria, de onde voltara dois anos antes.
Certamente, esta não é sua obra mais elaborada nem está entre as mais conhecidas. É no livro seguinte, "Crime e Castigo", que o escritor mostra sua grandeza, e que é, no meu entender, a mais representativa na apresentação dos dilemas morais, da trama psicológica e do drama existencial do homem, ali expostos de forma bastante clara e elaborada, servindo de referência para outras leituras.
Ainda assim, Dostoiévski expõe os dramas e contradições da vida em "Humilhados e Ofendidos", mesmo que de forma menos profunda.
O tema em questão aqui é o perdão. A dificuldade de perdoar é a tônica deste livro que, como o título já diz, apresenta o sofrimento causado pelas injustiças e a recusa por parte dos injustiçados de se desprenderem do ódio e do rancor.
O enredo é narrado em primeira pessoa por Ivan Petróvich, o Vânia, que vai desenrolando suas memórias passadas ao fim da vida. E na medida em que a trama se revela, junto vêm os sofrimentos dos personagens que, aferrados ao orgulho, nunca ou raramente se dispõe a perdoar.
É assim com Nikolai Serguêievicth, pai de Natacha, que se ressente da filha que abandona a família para se casar com o impulsivo e ingênuo Aliócha, filho do príncipe Piotr Aleksándrovitch. Este último um homem mau-caráter cheio de amor-próprio capaz de destruir vidas unicamente pela preservação de seu status e por vantagens financeiras.
De outro lado, Vânia conhece inesperadamente Nelli, cujo nome verdadeiro é Elisa, e seu avô Jeremias Smith. Aos poucos, a trama revela a vida da falecida mãe de Nelli, o rancor persistente na família da garota, sua misteriosa doença e o vínculo do príncipe com a sofrida teia de relações mal resolvidas.
Importante notar como estes personagens são direta ou indiretamente afetados pelo problema do perdão, que só a muito custo vem à tona, e a capacidade que corações puros e sofridos têm de romper as correntes que amarram pessoas embrutecidas pela dor.
Nas obras "Crime e Castigo" e "Os Irmãos Karamázov", Dostoiévski mergulha mais fundo na tensão entre o rancor e a libertação advinda do perdão, e como este ato leva a uma radical mudança de vida e à redenção da alma humana.
"Humilhados e Ofendidos" é o retrato da miséria causada pela falta de perdão, que arrasta não só os personagens obstinados no erro como afeta diretamente os mais íntimos, causando sofrimentos desnecessários e impedindo a realização de planos de vida, como ocorre com os personagens mencionados.
Assim, Dostoiévski revela a capacidade da literatura de lançar luz sobre problemas que de outra forma não seriam visíveis aos nossos olhos, pois tentar entender a trama do sofrimento através de uma realidade possível pode calar muito mais fundo do que simplesmente o ouvir falar.
O que ouvimos podemos nem mesmo entender e simplesmente esquecer, mas o que nos esforçamos para assimilar se instala na alma de forma muito mais consistente. E Dostoiévski é um gênio na capacidade de abrir nossos olhos.
domingo, 8 de novembro de 2020
Quando os impérios sucumbem
"Eu creio que a primeira coisa que me fez detestar o imperialismo foi a afirmação de que o sol nunca de põe no Império Britânico. Para que serve um país sem pôr-do-sol?" (G. K. Chesterton)
Chesterton possuía um olhar muito crítico do Império Britânico, pois o considerava um exagero e algo distinto e distante da realidade do simples britânico. Sua vastidão criava um sentimento de grandeza nas pessoas, mas pouco contribuía para suas vidas de fato enquanto cidadãs.
sábado, 7 de novembro de 2020
O insistente retorno a Roma
"Onde o catolicismo é expulso como uma coisa antiga, ele sempre volta como uma coisa nova." (G. K. Chesterton, em "Todos os caminhos levam a Roma")
quarta-feira, 4 de novembro de 2020
O abandono da fé e as "novas religiões"
"As Novas Religiões estão de muitas maneiras adaptadas às novas condições; mas é só às novas condições que estão adaptadas. Quando essas condições tiverem mudado daqui a um século, as questões nas quais essas religiões insistem terão se tornado quase sem sentido." (G. K. Chesterton, em "Igreja Católica e Conversão", em 1926)