As medidas de contenção da propagação da covid-19 têm algo de no mínimo curioso, pois partindo da perspectiva de que o isolamento social seria uma medida eficaz para essa contenção, prefeitos, governadores, burocratas e jornalistas de plantão apoiaram ações um tanto esquisitas.
Por exemplo: em várias cidades do Brasil, como aqui em Porto Alegre, restringiu-se os horários e o número de ônibus em circulação para desestimular as pessoas saírem de casa e aumentar o isolamento social. Mas quem tinha necessariamente de trabalhar, porque não teve seu estabelecimento fechado por decreto e necessitava simplesmente sobreviver, foi obrigado a esperar horas nas paradas de ônibus e se enfiar numa condução lotada. Realizou-se justamente o contrário do que se desejava evitar.
O mesmo ocorreu no comércio. Na reabertura dos serviços "não essenciais" (eufemismo para quem não depende de negócios "dispensáveis", segundo a cabeça iluminada de governadores, prefeitos e jornalistas), restringiu-se o horário de abertura das lojas para evitar aglomerações.
Ora, se as pessoas não devem se aglomerar, então o horário deveria ser estendido, e não restringido. Deveria ser tomada a medida inversa.
A lógica dos ônibus e das lojas pressupõe que as pessoas tomam decisões com base na limitação de tempo, e não em suas necessidades e vontades pessoais. É exatamente isto a que chamamos de engenharia social, a tentativa de moldar o comportamento da sociedade por medidas administrativas, pressupondo que as decisões pessoais são tomadas em vista do quadro geral da situação.
Mas não: as pessoas tomam decisões com base em necessidades e desejos imediatos dentro de um quadro de conhecimento limitado. O imediatismo cotidiano é o principal fator de peso nas escolhas.
A professora e o médico não deixarão de comprar uma camiseta porque a loja de roupas teve horário de funcionamento reduzido por decreto; eles irão quando a loja estiver aberta. Do contrário, não conseguirão o produto.
Ou por acaso vocês não se recordam de decisão estúpida da prefeitura de São Paulo em bloquear as principais avenidas da cidade para diminuir a circulação de carros e aumentar o isolamento social? As pessoas saíram de casa a trabalho buscando outras vias e engarrafaram as que estavas livres. A genialidade dos fanáticos pela engenharia social é impressionante.
Este é o resultado da combinação de burrice com tirania, combinação que define muito bem o perfil dos auto aclamados engenheiros sociais.
Como a classe política brasileira é estúpida, mas não suicida, a medida inversa foi tomada nas eleições municipais deste ano: estendeu-se o horário de votação para evitar aglomerações dos grupos de risco e supostamente evitar a propagação do covid-19. Medida acertada, mas evidentemente contrária a tudo o que fora feito até então pois, afinal, a extensão do período do votação afetava diretamente a própria classe política.
O que vimos neste 2020, tanto no Brasil quanto no mundo, foi a expansão formidável do poder político no controle das liberdades civis mais fundamentais. É da natureza do poder político crescer indefinidamente para tudo administrar sendo apenas barrado por pressupostos e valores que quase sempre surgem de instâncias não políticas, como a vida religiosa, familiar e comunitária.
A engenharia social do momento força o isolamento das pessoas desmontando o tecido social. O indivíduo se vê isolado perante um poder onipresente e todo poderoso, receoso de ser punido ao buscar contato pessoal com aqueles além de seu círculo familiar imediato, medida que coincide (santa coincidência) com a medidas de prevenção do covid-19.
Mesmo assim, o vírus continua a se espalhar pelo mundo e, claro, os decretos sobre sua vida pessoal também.
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