E onde começa o "East"? De acordo com certas autoridades urbanas o ponto de transição é marcado pelo Aldgate Pump, uma fonte de pedra construída ao lado do poço na confluência da Fenchurch Street com a Leadenhall Street; a bomba existente se localiza a poucos metros a oeste da original. Outros antiquários argumentam que o verdadeiro East End começa no ponto onde a Whitechapel Road e a Commercial Road se encontram. A mancha de pobreza, já aparente no fim do período medieval, de qualquer forma se estendeu gradualmente. Stow (1) observou que entre 1550 e 1590 havia "uma rua ou passagem estreita imunda contínua com becos de pequenos cortiços ou cabanas construídos... quase até Ratcliffe." Um relato de 1665 descrevia a superlotação criada por "pobres indigentes e pessoas ociosas e relaxadas". Portanto, as "cabanas imundas" do relato de Stow estavam cheias de pessoas "imundas". É a história de Londres.
As indústrias do bairro leste gradualmente se tornaram imundas também. Muito de seu tráfico e comércio vinha do rio, mas no curso do século XVII a região se tornou cada vez mais industrializada. O "Easterly Pyle" (2) se tornou lar do que ficou conhecido como "as indústrias de fedor"; representava o foco do medo de Londres à corrupção e à doença. Portanto, o voo para o oeste continuou. A partir do século XVII o traçado das ruas e praças se moveu inexoravelmente naquela direção; os ricos, os bem-nascidos e os elegantes insistiram em morar no que Nash (2) chamou "as respeitáveis ruas do extremo oeste da cidade".
Tem sido observado que o West End tem o dinheiro e o East End tem a sujeira; há lazer para o Oeste e trabalho no Leste (3). Ainda nas primeiras décadas do século XIX, o East End não era apontado como sendo a mais terrível fonte de pobreza e violência. Era conhecido principalmente como o centro da navegação e da indústria e, portanto, lar dos trabalhadores pobres. Mas a indústria e a pobreza se intensificaram constantemente; tinturarias e químicas, fábricas de adubo e fábricas de fumo negro, fabricantes de cola e de parafina, produtores de tinta e farinha de osso, todos agrupados em Bow, Old Ford e Stratford. O Rio Lea foi por séculos o local da indústria e do transporte, mas ao longo do século XIX foi ainda mais explorado e degradado. Uma fábrica de fósforos na sua margem dava à água um gosto e aparência de urina, enquanto que o cheiro em toda a área se tornava desagradável. Toda a sujeira de Londres rastejou para o leste.
Mas então, em algum ponto da década de 1880, alcançou o que poderia ser chamado de massa crítica. Ele implodiu. O East End se tornou "o abismo" ou "o mundo inferior" de estranhos segredos e desejos. Era a área de Londres na qual se amontoavam mais pessoas pobres do que qualquer outra, e dessa congregação de pobreza surgiram relatos de maldade e imoralidade, selvageria e vício inominável.
(1) John Stow (1525-1605), historiador e antiquário de Londres.
(2) Um dos nomes dado ao East End. "Pyle" faz referência a um amontoado em grande quantidade.
(3) O autor utiliza os nomes "West" e "East" como trocadilhos dos pontos cardeais.
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