(Roger Scruton, 27/02/1944 - 12/01/2020)
Neste 12 de janeiro de 2020, faleceu o filósofo inglês Roger Scruton. Pensador de linha conservadora, Scruton foi autor de mais de 50 livros e recebeu reconhecimento oficial de pelo menos quatro governos por seu trabalho.
Mas se engana quem pensa que vou falar de sua obra. Não li qualquer livro de Scruton, que se tornou bastante conhecido no Brasil há mais ou menos quinze anos devido à divulgação pelo filósofo Olavo de Carvalho. O pensador inglês se tornou um dos favoritos da nova direita brasileira que ascendeu publicamente nos últimos anos.
Uma obra sua, porém, tomei conhecimento: o documentário Why Beauty Matters (Porque a Beleza Importa), produzido pela rede BBC e disponível no Youtube com legenda em português. Nela, Scruton narra a relevância para a vida humana do senso de beleza estética, mas que, no século XX, as artes, a arquitetura e a música abandonaram este senso e passaram a expressar finalidades meramente pragmáticas e subjetivas. O resultado foi a profusão da feiura e o rebaixamento e destruição do senso de beleza.
Um trecho do documentário marcou minha memória, quando Roger Scruton mostra um bairro de Readings, sua cidade natal no Reino Unido, que fora demolido para dar lugar a escritórios e uma estação de ônibus. A antigas casinhas inglesas típicas da Revolução Industrial, todas harmonizadas e ordenadas com tijolinhos escuros e chaminés, deram lugar a edifícios quadriculados, feios e decadentes hoje abandonados e sem utilidade. E Scruton pergunta por que as pessoas abandonaram este local. Porque é feio, responde, e o que é feio perde sua utilidade porque as pessoas simplesmente não gostam da feiura. No fundo - concluo eu - a feiura é uma agressão à nossa própria natureza. Temos um senso inato do belo, e o feio é naturalmente repulsivo. É inumano viver em locais horrendos, condenados a serem esquecidos e demolidos.
Por isto mesmo as pessoas buscam a beleza, seja no que consideram belo, mesmo que este senso esteja pervertido pela mentalidade moderna e pós-moderna, seja no que vêem que é realmente belo. Se observarmos o Brasil, por exemplo, ficará evidente o estrago que a arquitetura moderna e o concreto armado fizeram com nossas grandes e médias cidades. Basta ver uma foto antiga dos palácios, casarões e edifícios suntuosos que haviam em cidades como São Paulo ou Rio e comparar com os espigões de concreto, vidro e aço que os substituíram nos mesmos local. Vale do Anhangabaú, Praça da Sé, Avenida Paulista, Avenida Rio Branco, o centro das metrópoles brasileiras, todos transformados numa ode ao horror.
Não tenho fórmula para o resgate da beleza, mas uma coisa é certa: um ambiente naturalmente belo e ambientes com ornamentos harmônicos e agradáveis certamente ajudam além, é claro, do desenvolvimento de uma vida interior que seja capaz de nos revelar, pelo autoconhecimento e pela espiritualidade, o senso intuitivo de ordem - e, portanto, de beleza - que existe na vida humana e na realidade na qual ela está inserida. Quem exercita uma vida espiritual percebe isto naturalmente.
Se "a beleza salvará o mundo", como diz o escritor russo Fiódor Dostoiévski em sua profunda e complexa obra O Idiota, não sei responder, mas certamente ela reforçará nas pessoas um senso do que é bom e verdadeiro. Scruton defendia a unidade desta tríade, já conhecida desde a Antiguidade pelos filósofos gregos. Assim com o belo, o bom e o verdadeiro são inatos no homem, e despertar um deles ajuda a despertar os outros dois.
A beleza, portanto, pode não salvar o mundo, mas certamente o tornará melhor.
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