quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O dilema do dia a dia


          Há muitos anos, desde o final da infância pelo menos, lembro-me de ter uma mente agitada, excessivamente agitada eu diria. Desta mente em constante ebulição nasceu não apenas a criatividade, mas também o tormento. Não é fácil ter a mente agitada, porque é necessário (sumamente necessário) ter momentos de paz interior que é alcançada através do silêncio interior (e exterior também) e a contemplação da realidade entorno.

          Todos os dias, e hoje lembro vagamente desta mesma experiência, tenho na mente e no coração a dúvida sobre a vida, o questionamento de seu sentido e a razão de eu estar neste mundo, neste local e nesta época. Então penso: "Não deveria ficar mais tranquilo, viver o cotidiano com mais leveza e deixar que as coisas, minha missão de revele pela Providência?" Sim, deveria. Porque é na caminhada, não no questionamento e na reflexão filosófica, que brota a resposta. A reflexão filosófica é, ou deveria ser, muitas vezes, parte da caminhada, não a resposta mesma. Viktor Frankl já ensinou que o sentido da vida não está na pergunta em si, mas é a vida que pergunta lhe que sentido você dá a ela. A "vida" é, em última instância, a Providência. Cabe agir, ter a atitude cotidiana de fazer seu dever, trabalhar, pagar as contas, respeitar as pessoas, se arrumar para dormir, etc, enfim, incorporar no seu coração o seu dever e dar Glória de Deus por isto.

          Estar aqui, penso eu neste momento, em frente a um computador onde escreve este texto faz parte do caminhar, e a caminhada, o agir no dia-a-dia depende da iniciativa. "Deus ajuda quem cedo madruga", diz o provérbio popular; e ajuda não só no sentido prático, Ele dá a paz a quem faz por merecê-la, isto é, quem está aberto a ela. Isto não é uma questão de mera intenção, de mera reflexão filosófica, mas de ser quem se deve ser, sem desejos hiperbólicos nem sem desânimo depressivo; de viver a vida na sua normalidade alicerçada na fé de que, sim, a Providência é o lastro sobre o qual tomamos nossas decisões e construímos nossa História.

          O coração que não estiver aberto a este porvir que se abre no cotidiano viverá a angústia de buscar eternamente a resposta inicial. A mente, é claro, pode ajudar na caminhada, mas também pode atrapalhar. É necessário fazer silêncio às perguntas e deixar brotar as respostas tal qual a semente mergulhada numa terra úmida e fecunda.

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