terça-feira, 8 de agosto de 2017

A decisão de ser luz no mundo


          Nesta semana realizei duas sessões da Terapia de Integração Pessoal (TIP), que utiliza a técnica da Abordagem Direta do Inconsciente (ADI), terapia criada pela psicóloga gaúcha Renate Jost de Morais, falecida em 2013.

          A ADI, como diz o nome, permite uma leitura direta do inconsciente através de uma técnica de mergulho da consciência nesta área da mente. Conduzido por um preceptor (psicólogo), entramos em diálogo com o "sábio", o eu original, saudável e perfeito, que nos mostra os pontos-chave que devem ser analisados e curados.

          Não vou contar o que vi no meu inconsciente, mas a decisão que tomei com base numa situação desagradável: decidi, ainda nos seis meses de gravidez (a ADI permite que observemos nossas decisões desde a concepção da vida humana) em dar as costas ao mundo e trabalhar para "ferrá-lo", se eu puder assim dizer. Em outras palavras: já que o mundo exterior era um horror e eu não tinha outra solução a não se viver nele depois de nascer, então que eu fizesse dele um inferno. No ventre eu estava de costas para o lado de fora da barriga e com a cabeça abaixada em direção ao corpo de minha mãe, como que não suportando o "horror" do lado de fora.


          Minha decisão foi tomada numa situação de estresse entre as pessoas que estavam no ambiente (no caso, meus pais e um terceiro não identificado) confirmando outras experiências anteriores de que, sim, o mundo era uma porcaria que não valia a pena viver.

          O problema é que tomando uma decisão, uma atitude na qual eu me tornava inimigo do mundo, todas as esferas de minha vida, social, privada, profissional, familiar, sexual, etc, se tornavam bem mais difíceis e complicadas. Neste dia eu estava preocupado com minha vida profissional, que nunca foi bem sucedida. O problema, como foi percebido, estava muito mais embaixo, e era muito mais amplo do que uma mera questão profissional ou de vivência prática do cotidiano. 

          Quando indaguei meu sábio sobre uma saída para isso, sua resposta foi um sentimento de tristeza. Acima dele foi visto uma nuvem, uma camada escura que não apenas obscurecia seu ser como não tinha nada a oferecer que pudesse ser aproveitado. Sua tristeza era consequência do fato de não ver saída para este problema. Num mundo maldito, numa experiência de vida marcada por um pessimismo que havia contaminado, em maior ou menor grau, todas as esferas de minha vida real, não havia setor ou "lugar" que permitisse investir minhas forças e encontrar um rumo para minhas escolhas.

          Mas eis que o sábio, perfeito em sua condição, viu o que poderia ser feito: se o mundo era um horror, se muitas coisas estavam fora do lugar, com pessoas em discórdia, sociedade em crise, dificuldades para todo o lado, então que eu fosse a luz num mundo escuro. Que o sábio (eu, meu eu real) fosse fator de iluminação e solução para os problemas reais, a começar por si mesmo, decidindo torna-se novo para criar uma vida nova e ser luz num mundo velho e corrupto. Disso, retornei ao ventre materno e me vi voltando-me ao mundo e saindo do ventre na figura de uma criança que, de pé e fora do ventre, prefigurava-se numa pessoa luminosa envolvida por um halo estrelado em volta da cabeça, um misto de Menino Jesus com Nossa Senhora.

          Esta foi a inspiração para o texto que escrevi no Facebook e que reproduzo abaixo:

"Quando vemos que as coisas a nossa volta e na vida pessoal estão erradas, ou tortas, ou se tornando um inferno, cabe a nós, individualmente, sermos luz no mundo. Quando falo em "ser luz" não é ser bonzinho ou queridinho, mas o FATOR de iluminação, conscientização e acima de tudo EXEMPLO para aquilo que propomos. Isso, ao contrário do que muitos podem pensar, não é mudar o mundo, MUITO MENOS uma proposta e fazê-lo. Primeiro porque a mudança é uma atitude, uma postura frente ao mundo, a si mesmo e a Deus. Por isso Viktor Frankl dizia que éramos totalmente responsáveis pela nossa vida: cada pessoa vive em circunstâncias que lhe são próprias, e as respostas aos desafios de sua vida cabem unicamente a ela e a ninguém mais. Ser luz no mundo é, antes de mais nada, assumir, decidir pela nova atitude frente aos desafios que nos cercam e os medos interiores. Só aí, depois de muito esforço, podemos fazer algo pelo próximo, e ainda assim aos poucos. Querer ir longe demais só sendo santo ou revolucionário. O primeiro venceu todas as etapas a custa de seu sacrifício; o segundo queimou etapas e sacrificou os outros."

(O ódio a alvos genéricos como "a vida", "a humanidade", "a sociedade" é projeção de ódio a si mesmo e/ou de fatores que parecem sem solução.)

          Não é possível mudar a vida a não ser decidindo pela mudança de personalidade, o que é óbvio. Mas ocorre que a ânsia de ter uma vida feliz nos joga não apenas na frustração como no sentimento de revolta que, não podendo ser canalizado contra si, acaba por ser descarregado no mundo. O século XX nos deu muitos exemplos de líderes que propunham consertar os erros da humanidade mediante o ódio e a força, ódio esse que no fundo era ódio à condição humana e acima de tudo a si mesmos, reformadores do mundo, que como demônios reproduziam o inferno à sua volta. Não há felicidade na queima de etapas. Somos chamado à santidade pela própria ordem das coisas.




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