domingo, 8 de outubro de 2017

Independência do Sul. Mas para quem?


          Não entendo patavinas sobre o movimento nacionalista na Catalunha e a crise política na Espanha, mas uma coisa é clara: o nacionalismo hoje é instrumento de poderes muito superiores. Ele interessa à União Europeia apenas no sentido de mobilização em torno de uma ideia de "Europa", mas é problemático quando um Reino Unido resolve se retirar legitimamente do bloco ou uma região como a Catalunha entra em agitação nacionalista. Ao mesmo tempo, a Rússia financia e dá apoio político a toda a sorte de movimentos separatistas realizando conferências com seus líderes e abrindo embaixadas de países que não existem, como a Novorrosiya e a Califórnia, para enfraquecer as potências ocidentais, enquanto põe na cadeia (ou mata) seus dissidentes separatistas (duas guerras na Chechênia não deixam dúvidas quanto a isto).

          No caso da Catalunha, a União Europeia não tem tomado posição e mantido o silêncio. Por um lado ela defende a liberdade de expressão e o direito de voto, mas do outro tem receio de que uma Catalunha independente aqueça outros movimentos separatistas dentro do bloco. Já a Rússia tenta expor através da imprensa as fraquezas da UE: anuncia o direito dos catalães à soberania e ao mesmo tempo denuncia a hipocrisia de um Ocidente que fala em democracia mas reprime sua dissidência interna. Acusa também as potências de estimularem a independência de outras regiões quando lhe convém. Até hoje os russos não engoliram a independência do Kosovo em 1999, então região da Sérvia, aliada russa nos Bálcãs, e sempre tocam no assunto quando acusam os ocidentais de hipocrisia.

(Euromaidan, na Ucrânia: apoio do Ocidente e reação da Rússia. Independência difícil.)

          Na Ucrânia a situação também reflete esta oposição Ocidente-Rússia e a instrumentalização da soberania do país pelo poder globalista e o poder russo: de um lado o apoio explícito de lideranças políticas do Ocidente aos protestos conhecidos como Euromaidan que levaram à queda do governo Yanukovich e do outro, em resposta ao primeiro, a anexação da Crimeia e o estopim da guerra pela Rússia através da mobilização de milícias separatistas. Historicamente dividida, a Ucrânia se tornou o Estado-pivô da luta entre os dois lados.

          Assim como se observou recentemente em outras regiões (Timor Leste em 1999, Sudão do Sul em 2011), uma separação do Sul do Brasil não passaria batida aos olhos do mundo. Ninguém parece saber (e eu também não sei) quais seriam os reais efeitos caso o movimento conseguisse atingir seu objetivo. Quando vejo alguém entusiasmado com o slogan "O Sul é o meu país" logo me pergunto se esta pessoa sabe a quem está servindo ao defender esta causa. Da ONU aos grandes bancos, o Brasil já cede docilmente a qualquer pressão internacional, quanto mais cederá uma república menor que  é fruto dele. 

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