Todas as vezes que vejo no Evangelho a palavra "pobre"
fico a pensar que o pobre não é, em grande medida, aquele que tem poucos
bens. Em diversas ocasiões durante as homilias nas missas ouço
sacerdotes falar do pobre como o desprovido de dinheiro, e quando é
explicado ao público que o pobre não é apenas isso, muitas vezes a ideia não
fica clara ou desproporcional, com ênfase exagerada na condição material.
Pois bem. O pobre não é necessariamente o que tem poucos bens.
Quem tem poucos bens é, de fato, pobre, mas no Evangelho a palavra tem um
significado mais amplo e muito mais profundo. Em alguns momentos o sentido é
também material, mas na esmagadora maioria dos casos o pobre é o pobre de
espírito, a quem falta Deus, o que está cheio de si mesmo, ou aquele que é
humilde, que necessita do auxílio divino e humano. Pobreza e humildade estão
intimamente relacionados. Da mesma forma o rico: ele não é o que tem muitos
bens, mas o que está cheio de si mesmo ou é apegado às coisas do mundo, sejam
elas materiais, com o próprio dinheiro, sejam imateriais,
como ideias, desejos, memórias, relacionamentos, sentimentos e assim
por diante.
(Marcos 10, 25)
A pobreza é necessária para a aproximação com o divino. Nós não
podemos ouvir a Deus se, segundo nossa concepção, o que temos nos
basta. Por que nos abrirmos ao mistério se nosso cofre interior está cheio? Ou,
perguntando melhor: por que nos abrirmos ao mistério se temos a impressão de que nosso cofre interior está
cheio? Porque a pessoa cheia de si, seja ela porque considera que suas ideias
bastam ou que um emprego estável e uma família feliz é o que importa e nada
mais há o que fazer, não sente a necessidade de dar ouvidos a algo mais. Por
isso Jesus diz que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma
agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus. Não pode alguém chegar
ao Paraíso se considera que Deus, o Dono da Morada, é
desnecessário. Nada é mais miserável do que o pobre de espírito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário