segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Os pobres e os ricos, estes incompreendidos


Todas as vezes que vejo no Evangelho a palavra "pobre" fico a pensar que o pobre não é, em grande medida, aquele que tem poucos bens. Em diversas ocasiões durante as homilias nas missas ouço sacerdotes falar do pobre como o desprovido de dinheiro, e quando é explicado ao público que o pobre não é apenas isso, muitas vezes a ideia não fica clara ou desproporcional, com ênfase exagerada na condição material.

Pois bem. O pobre não é necessariamente o que tem poucos bens. Quem tem poucos bens é, de fato, pobre, mas no Evangelho a palavra tem um significado mais amplo e muito mais profundo. Em alguns momentos o sentido é também material, mas na esmagadora maioria dos casos o pobre é o pobre de espírito, a quem falta Deus, o que está cheio de si mesmo, ou aquele que é humilde, que necessita do auxílio divino e humano. Pobreza e humildade estão intimamente relacionados. Da mesma forma o rico: ele não é o que tem muitos bens, mas o que está cheio de si mesmo ou é apegado às coisas do mundo, sejam elas materiais, com o próprio dinheiro, sejam imateriais, como ideias, desejos, memórias, relacionamentos, sentimentos e assim por diante.

(Marcos 10, 25)

A pobreza é necessária para a aproximação com o divino. Nós não podemos ouvir a Deus se, segundo nossa concepção, o que temos nos basta. Por que nos abrirmos ao mistério se nosso cofre interior está cheio? Ou, perguntando melhor: por que nos abrirmos ao mistério se temos a impressão de que nosso cofre interior está cheio? Porque a pessoa cheia de si, seja ela porque considera que suas ideias bastam ou que um emprego estável e uma família feliz é o que importa e nada mais há o que fazer, não sente a necessidade de dar ouvidos a algo mais. Por isso Jesus diz que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus. Não pode alguém chegar ao Paraíso se considera que Deus, o Dono da Morada, é desnecessário. Nada é mais miserável do que o pobre de espírito.

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