Há anos atrás, quando ainda frequentava sessões semanais de psicanálise, costumava dizer para minha psicanalista que eu não acreditava que recuperar certas pessoas é impossível. Ela me dizia que indivíduo como psicopatas ou determinados doentes mentais não tinham recuperação. Mas eu me recusava a acreditar nisso. Para mim sempre havia como recuperar uma pessoa, mesmo que por milagre, no sentido estrito da palavra.
Nos últimos meses tenho lembrado com frequência sobre o poder que a oração pode ter em nossas vidas. A questão voltou à tona, entre outros fatores, em alguns encontros com minha atual psicóloga, preceptora da Terapia de Integração Pessoal (TIP), onde ela insistia que Deus não faria por nós aquilo que inconscientemente não queremos. Um exemplo: eu por muito tempo quis morar sozinho, mas inconscientemente eu estava preso a questões familiares mal resolvidas. Não fazia sentido rezar a Deus pedindo que Ele me tirasse de casa se, no fundo, eu não queria e utilizava como desculpa questões de ordem emocional que impediam de focar em minha vida e trabalhar ativamente para esta saída. A sabotagem de minha vida profissional era uma desculpa para me manter preso à esta situação. Não adiantaria, portanto, pedir em oração a solução de um problema que encontrava oposição a nível inconsciente.
Minha oposição a este tipo de argumento é que ele parece limitar o poder da oração e, acima de tudo, a capacidade da ação de Deus em nossa vida. A cláusula pétrea das leis divinas é a liberdade humana. Deus jamais interfere em nossas decisões, a potência da vontade, que brota do espírito. Mas se nossa vontade profunda é mudar atitudes e comportamento, mesmo que nossa mente diga o contrário, por que ela não poderia prevalecer ajudado por um suporte espiritual divino?
A TIP sustenta que agimos condicionados por nossos registros. Condicionados, mas não limitados e muito menos determinados. Registros são as decisões-chave tomadas em momentos de nossas vidas que se tornam fundamento de comportamentos futuros. Estes fundamentos ficam mergulhados no inconsciente. Ou seja: o registro é uma decisão que tomamos e que pode ter como raiz um evento no período uterino, talvez mesmo no momento da concepção do óvulo. Portanto, uma oração que vai de contrário a um registro encontraria como barreira para sua eficácia a decisão sobre a qual este registro esta fundamentado. Uma ação divina neste sentido feriria o livre-arbítrio.
Mas a pergunta que eu faço é: se eu realmente quero mudar um comportamento pela oração (utilizando, claro, um esforço deliberado para atingir meu objetivo), não poderia o próprio Deus remover este registro por via espiritual já que não temos consciência do que precisamos mudar realmente? A oração feita "em espírito e em verdade", como ensina Jesus, já traz no seu bojo a decisão profunda de seu prevalecimento. Destaco aí a palavra "verdade". A oração "em verdade" significa a intenção verdadeira e, portanto, abarca a totalidade da existência de determinado problema que é orado. Se o foco é o comportamento, então a oração tem eficácia sobre toda a estrutura deste comportamento, incluindo os registros inconscientes. É como se a pessoa trouxesse à consciência o obstáculo que impede a oração de transformar tal realidade: no confronto das intenções o da oração prevaleceria sobre este registro. A pessoa decidiria assim. Mas como disse: a oração deve ser "em verdade", e não um pedido ambivalente ou da boca para fora como muitas vezes fazemos.
Não estou dizendo aqui que o trabalho da TIP é desnecessário. Muito pelo contrário. Sou testemunha fiel da sua eficácia, principalmente porque sua técnica, a Abordagem Direta do Inconsciente (ADI), nos revela os pontos certos que devem ser abordados. A oração é muito mais eficaz se direcionada sobre estes pontos e mais eficaz ainda quando o registro é trazido à tona. A TIP pode ser feita sem a oração e a oração pode ser feita sem a TIP, mas certamente o segundo dinamiza o primeiro; e quem é distante das coisas do espírito descobrirá, pela TIP, a dimensão e o poder que as decisões espirituais (a dimensão noológica) têm sobre nossas vidas. Mente e espírito caminham juntos e se fortalecem mutuamente.
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