Hoje muito pouco se entende a palavra "amor". O amor, é claro, não precisa de explicação e justificativa. Jesus Cristo pede que nos amemos uns aos outros, não que entendamos uns aos outros. O amor é a essência mesma dos nossos relacionamentos e permeia todas as relações possíveis entre pessoas e entre pessoas e coisas. É o pilar da vida social e particular.
De qualquer forma, quando pensamos no amor logo temos em nossa mente a relação homem-mulher. Como se já não bastasse este imaginário estreito do amor, aquilo que a cultura pop e os meios de comunicação divulgam como amor não tem nada a ver com sua manifestação real e profunda, isto é, o desejo de união e entrega de um para o outro no matrimônio. Hoje é quase inevitável que num filme a cena seguinte do primeiro encontro de um casal apaixonado não se passe numa cama desarrumada.
Eu absorvi muito desta imagem, que muito desejei. Pior: confundi as coisas, acreditando que certos sentimentos meus eram uma paixão verdadeira (falar em amor verdadeiro em poucas semanas é besteira, salvo casos excepcionais, creio eu) enquanto eram, na verdade, desejos profundos intensificados por sentimentos que, cedo ou tarde, acabavam ou não em paixões reais.
Só há pouco tempo comecei a ver em mim que em muitos casos de atração por uma mulher o que tinha era um misto de desejo e carência: desejo por uma mulher que por diversas razões me atraía, carência pelo fato de eu ser um sujeito muito solitário. Mas quando via entre eu e a minha suposta pretendente uma porta aberta logo começava a pensar: será que estou realmente disposto a utilizar meu tempo com ela? Dar-lhe a atenção não só merecida mas necessária para iniciar uma relação? Ou quero apenas dar uns beijos, satisfazer meus desejos (não precisa que acabamos na cama, não, minha vida não é novela ou Hollywood), me sentir bem e alegre por uns dias? Ou será que quero simplesmente me sentir satisfeito por ter alguém? E será também que estou disposto a fazer certos sacrifícios práticos, emocionais e pessoais em nome deste pessoa?
Na medida em que conseguia discernir entre o desejo e o sacrifício de pequenas coisas para a realização deste desejo comecei a ver quem eu simplesmente desejava ou se eu queria algo a mais. Não quer dizer, é claro, que ao buscar o "algo mais" numa mulher eu quisesse o casamento de imediato, mas ninguém chega ao altar ou a qualquer outro lugar sem dar os primeiros passos e perceber que, sim, vale a pena gastar um pouco de tempo, paciência, dinheiro e suportar pequenos incômodos por esta pessoa.
Ortega y Gasset dizia que a vida é sacrifício, é dificuldade, é trabalho. Ele dizia isso ao analisar a figura do "homem-massa", o homem satisfeito com sua condição e incapaz de reconhecer o sacrifício devotado de seus antepassados pela vida confortável que tem. O mesmo vale para os relacionamentos, que são parte inseparável da vida.
O amor é sacrifício, é dificuldade, é trabalho, é a essência da sociedade e de nossa vida privada. Onde não há suor, não há amor verdadeiro. Hoje vejo os meus desejos como algo que ainda me causa frustração, mas não perda de tempo, dor de cabeça e sofrimento. Aprendi que esses são sinais claros de que a pessoa desejada não é para mim. Se antes da hora já é um problema, imagine no momento de dividir o mesmo teto. Não há desejo que valha tamanho sacrifício.
Nenhum comentário:
Postar um comentário